São Paulo – O mercado árabe tem participação expressiva entre os destinos do açúcar exportado pelo Brasil. No ano passado, a região respondeu por 23% do total comercializado no exterior pelo País. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, o Brasil exportou US$ 11,2 bilhões em açúcar em 2022, um aumento de 20% sobre 2021. Foram 27,4 milhões de toneladas.
A Argélia apareceu em segundo lugar no ranking dos maiores importadores do açúcar brasileiro em 2022, com US$ 778,6 milhões em compras. O Marrocos ficou em quarto lugar com mais de US$ 636 milhões. Já Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito constaram em oitavo, nono e décimo lugares na lista. A China foi a maior importadora do açúcar brasileiro no ano passado, com US$ 1,6 bilhão em aquisições.
Para o professor de Geopolítica da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Leonardo Trevisan, a Argélia se destaca no mundo e entre os países árabes, porque além de ser um país grande, também tem uma indústria alimentícia forte e serve como um hub de produção para todo o Norte da África.
Segundo o professor da ESPM, o ótimo relacionamento que existe entre os países da Liga Árabe e o Brasil fez com esses mercados ocupassem as colocações de destaque na lista de importadores do açúcar brasileiro.
“Faz anos que essa relação comercial para importação de açúcar começou. Não é algo recente, teve início muitas décadas atrás, diria, perto dos anos de 1970 e 1980, até adquirir o formato que tem hoje. Foi uma relação bem construída e vem sendo mantida ao longo dos anos”, explica Trevisan.
As exportações do alimento, produzido principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Sul do Brasil, se destacam por três motivos: primeiro, por conta da regulação que existe entre demanda e oferta. Ela faz uma análise contínua do que é produzido e do que é vendido, e isso auxilia na formulação do preço final. Em relação aos maiores estados produtores no Brasil, São Paulo e Pernambuco têm grande destaque.
De acordo com Trevisan, os outros dois motivos para o sucesso das exportações são a estrutura e a tradição brasileira na área. “Existe uma estrutura produtiva grande em torno das usinas, com uma estrutura tecnológica mais avançada do que vemos na Índia, por exemplo, e temos um patrimônio naval adquirido nessa área bastante consolidado. Quando falamos de açúcar, temos muita tradição, somos um País com 200 anos de experiência nesta produção”.
Brasil, um dos maiores exportadores
De acordo com o professor de Geopolítica, o Brasil se encontra entre os maiores exportadores de açúcar do mundo, sendo responsável por mais de 45% do total do produto comercializado.
A Índia aparece como o principal concorrente do País. Entretanto, por ter uma grande população para alimentar (mais de 1,4 bilhão de pessoas), uma parte expressiva da produção acaba sendo utilizada internamente.
Por isso, o Brasil tem grandes chances de crescer neste mercado. Em razão do clima ter favorecido as plantações de cana-de-açúcar, a expectativa para a safra 22/23 é de que sejam produzidas 1,8 milhão de toneladas a mais do que na colheita anterior, chegando a 32 milhões de toneladas.
Também há expectativa de aumento de preço do produto, podendo ficar até 30% acima do que estava há dois anos. “Além disso, a expectativa da Datagro é de que o consumo mundial seja 2,5% maior nesta safra 22/23 do que foi na média dos últimos 10 anos”, completa Trevisan, citando os dados da Datagro, Consultoria Agrícola Independente.
O professor da ESPM também analisou a relação dos grandes compradores de produtos brasileiros, indo além do açúcar. Estados Unidos e China aparecem nas primeiras colocações, principalmente quando falamos de importações de produtos relacionados com o agronegócio.
Já os países da Liga Árabe aparecem na terceira colocação de maiores importadores de produtos vindos do Brasil. Além do açúcar, eles compram milho, minério de ferro, aves, soja e carne bovina.
“Vendemos mais para eles do que para União Europeia”, afirma Trevisan sobre os países árabes. Segundo ele, essa relação é baseada na confiança e é algo já consolidado. “E o Brasil também compra muitos produtos deles, como os derivados do petróleo, adubos, fertilizantes e inseticidas agrários. Assim os dois lados saem ganhando.”
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA.