Débora Rubin
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São Paulo – Essa é a história de uma mãe e sua filha, uma dança chamada Raks Sharki e de uma escola com 500 alunas na capital federal do país. Tudo começou há dez anos, quando Layla ainda era Solange e Amura era Daniele. Mãe e filha foram assistir a uma aula de dança do ventre (como a tal Raks Sharki ficou conhecida no Brasil) com uma amiga. Para a mãe, a paixão nasceu naquele dia mesmo. Já na filha, então com 12 anos, ficou um encantamento pelo brilho, pelas cores e por aquela música cantada numa língua tão distante.
Em 2005, elas decidiram abrir um espaço especializado somente na dança árabe, coisa que, segundo Amura, ainda não existia em Brasília. Nos primeiros meses, o Zahra Studio de Dança do Ventre contabilizava umas 10, 20 alunas. No ano passado, atingiu seu pico: 500 aprendizes. Hoje, Layla Zahra e Amura tocam o espaço que se tornou muito mais que um estúdio de dança. O Zahra (que significa flor) respira cultura árabe, seja pela dança e pela música, seja pelas aulas de língua árabe ou pela decoração da casa.
Segunda Amura, hoje com 22 anos, muitas alunas buscam a escola porque querem se tornar bailarinas profissionais. Mas a grande maioria vai para relaxar, melhorar a auto-estima e para criar um círculo de amizade. “É muito comum ver as alunas sentadas na área de lazer, fumando narguilês e assistindo a vídeos de dança do ventre da década de 40, 50, 60”, conta Amura – mãe e filha adotaram os novos nomes tal como se já tivessem nascido com eles.
As alunas têm idades que variam de oito a mais de 70 anos. Há espaço, e didática, para todas. As crianças têm aulas em uma turma especial. Já as adultas aprendem juntas, mesmo as mais senhoras. “Não temos ‘turma da melhor idade’. O que buscamos fazer é ter professoras atentas às necessidades de cada aluna”, explica a proprietária-filha, que também é uma das professoras. Como costuma acontecer em outras escolas de dança árabe, o Zahra Studio leva dançarinas de outras escolas, de outros estados, para se apresentar em Brasília. E a cada semestre, as alunas fazem uma apresentação.
Para eles também
Depois de quase três anos investindo na mulherada, o Studio quer agora atrair os homens. Em fevereiro, começa o curso de dança folclórica árabe masculina. Segundo Amura, é uma dança que pode ser solitária ou acompanhada de uma bailarina. O dançarino pode também se utilizar de um ou dois bastões. “E é uma dança com muitos pulos e saltos”, complementa. “Já apareceram vários interessados, inclusive maridos das nossas alunas”, conta. O professor é Theo Yacoub, que faz parte do grupo Nayla Yacoub, de Uberaba (Minas Gerais).
Egito
No ano passado, a escola lançou as aulas de árabe com o professor Samir, que é argelino, para atender a demanda de alunas que queriam entender melhor as letras das músicas. Foi também em 2007 que Layla e Amura organizaram a primeira excursão para o Egito com as alunas do Studio. Foi a primeira vez das duas no país. “Foi maravilhoso. Ficamos em um hotel onde havia apresentações de dança todas as noites”, recorda Amura.
Agora, elas se preparam para uma nova excursão. A turma deve partir em junho, época em que ocorre dois grandes festivais de dança árabe, entre eles o Raqia Hassan. “Nesses festivais, há gente do mundo todo, dos Estados Unidos, da Europa, da América do Sul. E o bacana é ver como em cada país a dança do ventre se desenvolveu de formas diferentes”, explica Amura.
Raízes espanholas
Não há árabes nas origens da família Zahra. “Meus bisavós eram espanhóis”, conta Amura. Mas a dança fez com que mãe e filha buscassem cada vez mais informações e referências do mundo árabe. “Eu leio de tudo. Você começa lendo sobre dança, porque é um vício, e quando vê já sabe sobre religião, sobre o Ramadã, sobre os hábitos e a cultura do povo árabe”, conta Amura. “Em especial sobre o Egito e o Líbano, berços da dança árabe”.
Saiba mais:
www.zahrastudio.com.br