Porto Alegre – As atividades da Randon no Egito, onde a empresa mantém uma unidade para montagem de semi-reboques desde o ano passado, estão sendo retomadas, de acordo com informações dadas pelo diretor-presidente da empresa, David Abramo Randon, em coletiva de imprensa realizada em Porto Alegre nesta quarta-feira (16). A empresa chegou a interromper as operações na unidade, onde trabalha em parceria com a egípcia Egypt Power, com a onda de protestos populares no país que resultou na renúncia do presidente Hosni Mubarak.
“A nossa unidade no Egito é muito pequena. Iniciamos o projeto na metade do ano passado. Com o evento no Egito, houve uma pequena parada de produção. Algumas pessoas nossas que estavam lá tivemos que deslocar para outros países, ali mais próximos, enquanto a instabilidade se revolvesse. Mas neste momento já estão começando a trabalhar”, afirma David, destacando que o projeto terá continuidade e a projeções de produção para 2011 – cerca de 500 unidades – se mantém.
A companhia, que é fabricante de veículos, implementos rodoviários e autopeças, está revendo, porém, seus planos de instalar um centro de montagem na Líbia. De acordo com informações do gerente da empresa para o Norte da África, Moacir Zanini, a companhia tinha planos de abrir a unidade lá ainda neste ano, mas vai postergar o projeto e rever alguns dos seus detalhes. Na Líbia há fortes protestos populares, com enfrentamento de forças rebeldes e do governo de Muamar Kadafi.
Já em outros países árabes, como a Argélia, onde também ocorreram alguns protestos, a empresa opera normalmente, segundo Zanini. Houve apenas fechamento de um escritório da empresa que vende produtos da marca, em função da invasão de manifestantes. O escritório é da parceira da Randon na Argélia, a ACTS.
No país, a Randon tem o seu centro de montagem de maior peso no mundo árabe. No ano passado, a unidade vendeu 900 unidades. Segundo Zanini, na Argélia a operação está, inclusive, em expansão. Em 2011 devem ser produzidas 1,4 mil unidades.
Tanto no Egito como na Argélia, a companhia brasileira opera em parceria com empresas locais para montagem de semi-reboques a partir de CKDs, ou “kits” desmontados, enviados do Brasil. O projeto, no Egito, prevê que a produção chegue a mil unidades no quinto ano de funcionamento. O investimento foi feito pela Egypt Power e coube à Randon fornecer a tecnologia e os veículos desmontados.
Exportação em alta
Na entrevista coletiva, a Randon divulgou números bastante expressivos sobre o desempenho de 2010, acima das projeções da companhia. As exportações da empresa chegaram a US$ 240 milhões no ano passado, diante de uma previsão de US$ 220 milhões feita na metade de 2010. A estimativa feita no final de 2009 era ainda menor: US$ 190 milhões. Houve crescimento de 46,5% nas vendas externas sobre o ano anterior, quando elas foram de US$ 164 milhões.
O Mercosul e o Chile responderam por 36% das exportações da Randon, seguidos do Nafta, com 31%, e África, com 15%. Os demais 6% foram para Europa, 5% para América do Sul e Central e o restante para outras regiões. A África, onde estão alguns países árabes, caiu em participação, que era 22% em 2009. Para 2011, a empresa projeta receita de exportações de US$ 250 milhões. “Nossos mercados mais importantes são América do Sul e do Norte”, afirmou Astor Milton Schmitt, diretor corporativo e de relações com investidores da Randon.
A companhia conseguiu, em 2010, crescimento na receita bruta de 51% para R$ 5,6 bilhões; aumento de receita líquida em 50,6% para R$ 3,7 bilhões; e lucro líquido consolidado de R$ 249,5 milhões. Houve recorde de produção, com 23.862 veículos faturados, aumento de 40% sobre 2009; foram realizados investimentos de R$ 190,5 milhões e gerados 1.906 novos postos de trabalho.
“O ano de 2010 foi maravilhoso para nós”, disse David. Em 2009 a empresa enfrentou algumas dificuldades em função da crise econômica, mas conseguiu manter seu quadro de funcionários, o que fez com que ela conseguisse responder rapidamente à retomada dos negócios no ano passado. “Quando tivemos que nos adequar a um novo patamar no final de 2008, fomos teimosos em manter nossa força de trabalho para que, superada a crise, pudéssemos reagir o mais rápido possível”, contou Schmitt.
Também favoreceram o desempenho da empresa a recuperação da economia brasileira via aquecimento do consumo, com redução de impostos para compra de produtos finais da empresa, e a retomada de mercados externos, com a saída da crise de países com os quais a Randon tem negócios.
Para 2011, a empresa espera continuidade do crescimento, mas em ritmo mais moderado. De acordo com Schmitt, alguns fatores, como o esgotamento da capacidade de crédito por consumidores, sugerem cautela nas projeções, mas outros, como boas perspectivas de investimentos em infraestrutura, sugerem otimismo. Por isso, a estimativa da Randon é de receita bruta de R$ 5,9 bilhões em 2011, receita líquida consolidada de R$ 3,9 bilhões e investimentos de R$ 270 milhões.
*A jornalista viajou a convite da Randon

