São Paulo – As novas tecnologias devem ajudar os muçulmanos a consumirem produtos que de fato são halal, ou seja, foram produzidos segundo as regras islâmicas. Especialistas que participaram em painel do fórum de negócios Global Halal Brazil nesta terça-feira (07) apresentaram a rastreabilidade possibilitada pelo blockchain como algo que ajudará o seguidor do Islã a verificar como foi produzido o que está comprando.
“Que oportunidades são apresentadas pelo blockchain? Oferece confiança ao consumidor muçulmano e essa confiança é a possibilidade do consumidor muçulmano verificar o status do produto ou serviço halal, a integridade da cadeia”, disse o Marco Tieman, fundador e CEO da LBB International, da Malásia.
Os produtos halal estão cada dia mais demandados e seus sistemas mais complexos, e a blockchain deve ajudar a fazer com que todos os processos envolvidos possam ser checados. “Se você está trabalhando num mercado consumidor onde precisa garantir que toda a cadeia atenda as exigências, o blockchain pode ajudar a automatizar as exigências”, afirmou Tieman.
O moderador do painel “Digitalização e Blockchain: a nova fronteira para a indústria global halal”, o gerente de TI da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Marcos Bulgarelli, explicou que o produto halal poderá ser rastreado pelo consumidor por meio de um QR Code, que ele lerá com seu aparelho celular no supermercado. Assim poderá saber qual foi o caminho do produto comprado, desde a fazenda – se for carne, por exemplo – até a gôndola.
Entre outros benefícios, Tieman apresentou a transparência como outra vantagem que o blockchain trará para o halal. Quando houver algum problema na cadeia, a parte com problema pode ser isolada para que as certificadoras façam uma rápida auditoria, a questão seja corrigida e se diga se aquele produto é halal ou não é halal. “Existe relação entre confiança e intenção de compra”, afirmou o CEO da LBB.
Marcas geram confusão
Participando do Egito, o CEO da Câmara Islâmica de Serviços de Certificação Halal, Ashraf El Tanbouly, falou da proliferação das marcas e logos halal e de como isso tem causado confusão entre os consumidores. Segundo ele, a Câmara Islâmica detectou mais de 400 marcas halal. “Sempre existem órgãos de certificação confiáveis e outros não, uns fazem certificação e outros usam apenas o logo”, afirmou ele.
Diante disso, a Câmara Islâmica está criando uma marca halal que seja de confiança para todos. “Precisa haver uma forma do consumidor validar isso, um QR Code pelo qual o consumidor possa verificar que é halal, é isso que estamos tentando construir”, afirmou. Tanbouly disse que para que seja criada uma marca de confiança da comunidade islâmica é preciso que o consumidor a aceite e a exija.
Comércio global digital
O gerente comercial da Tradelens, Nicholas Buhmann, apresentou a plataforma da Tradelens como iniciativa que já usa tecnologia para integrar as cadeias globais de suprimento. Trata-se de uma iniciativa da Maerks e da IBM com o objetivo de digitalizar o comércio mundial. Atualmente, 50% das empresas envolvidas no tráfego internacional de contêineres fazem parte da plataforma, que tem entre suas ações o rastreamento de cargas. Também é usado blockchain para fazer digitalização dos documentos envolvidos no comércio exterior.
Buhmann apresentou a participação dos vários entes como um dos grandes trunfos da Tradelens. “Independentemente da tecnologia, importa quem está usando essa tecnologia”, diz. Ele contou que inicialmente havia algumas reservas quanto ao compartilhamento de dados. “As pessoas achavam que precisavam proteger suas informações, mas hoje perceberam que se compartilharem um pouco os dados, todos podem trabalhar juntos, de forma mais enxuta e se beneficiando de mais transparência na cadeia de suprimentos”, falou.
O gerente comercial disse que percebe que países árabes como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar e Egito são mais progressistas em relação à transformação digital do que outras partes do mundo, estão interessados em abraçar novas tecnologias e utilizar o blockchain. “É importante acelerar a integração da outra ponta da cadeia, que pode ser o Brasil ou outros que fazem negócios com o Oriente Médio”, falou.
Estágios de mercados
Além de falar sobre a rastreabilidade, o palestrante Marco Tieman apresentou os vários estágios possíveis em que pode estar um mercado halal, o que, segundo ele, é importante que os fornecedores levem em conta. O primeiro seria aquele no qual o comércio se baseia apenas na confiança entre comprador e vendedor. No segundo essa confiança é baseada na certificação halal. No terceiro, o halal precisa estar em toda cadeia, desde a origem até o ponto de venda.
“Está evoluindo de companhias e produtos halal para uma cadeia de valores halal”, afirmou Tieman. Segundo ele, países como Malásia, Indonésia e Turquia estão no terceiro estágio. Há ainda uma quarta fase onde são analisados também a sustentabilidade, as finanças islâmicas, o branding e o marketing, entre outros fatores. “É importante saber em que nível de exigência o mercado muçulmano com o qual estamos lidando está”, disse.
Inovação
Antes do painel, houve a palestra principal do dia com a conselheira sênior do presidente do Banco Islâmico de Desenvolvimento, Hayat Sindi. Sindi foi eleita uma das 100 mulheres inspiradoras e influentes do mundo em 2018 pela BBC e é embaixadora da Ciência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Tanto ela quanto os demais participantes do primeiro painel do dia, o fizeram de forma remota.
Sindi falou que o halal cresce no comércio internacional e da importância de levar inovação e novas tecnologias para o setor. Segundo a conselheira, o sistema halal atrai cada vez mais atenção de legisladores e do setor privado no mundo, e seu ecossistema é atualmente amplo, envolvendo desde organizações internacionais até multinacionais, academia, comércio internacional, investimentos, incubadores e outros.
O fórum Global Halal Brazil é promovido pela Câmara Árabe e Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal), com patrocínio da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), BRF, Pantanal Trading, Portonave e Iceport. A apresentação é da jornalista Renata Maron. O evento pode ser acompanhado pelo site do evento ou pelo YouTube da Câmara Árabe. Há tradução simultânea para o português e o inglês. Inscrições seguem abertas.
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Seção Fórum de Negócios Global Halal Brazil
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