Alexandre Rocha
São Paulo – As exportações brasileiras de café renderam em março US$ 172,03 milhões, 50,3% a mais do que em março do ano passado. Em termos de volumes foram exportadas 2.326.819 sacas de 60 quilos do produto, 15,4% a mais do que no mesmo mês de 2003, segundo dados divulgados ontem pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No acumulado do ano as receitas da exportação da commodity somaram US$ 403,4 milhões, 7,5% a mais do que no mesmo período do ano passado. As quantidades embarcadas, porém, diminuíram 14,3% – para 5.711.701 sacas.
De acordo com o direito-geral do Cecafé, Guilherme Braga, o aumento dos volumes embarcados em março ocorreu por causa da greve dos funcionários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em fevereiro. "Com a greve, muitos embarques foram transferidos para março", afirmou.
Árabes
Entre os maiores importadores de café do Brasil aparece em 10° lugar a Síria, que comprou 128.315 sacas do produto nos primeiros três meses do ano, a US$ 8,96 milhões. Houve um aumento expressivo de 955,22% no volume de embarques para o país árabe.
No total, os países árabes compraram 250.752 sacas de café verde brasileiro no primeiro trimestre, o que gerou receitas de US$ 17,3 milhões, mais da metade do valor arrecadado em todo o ano passado com as vendas de café para a região.
O Líbano aparece em segundo lugar entre os árabes, com 70.823 sacas adquiridas a US$ 4,77 milhões, seguido da Tunísia (US$ 1,3 milhão), Egito (US$ 629 mil), Jordânia (624 mil), Emirados Árabes Unidos (420 mil), Argélia (US$ 351 mil), Arábia Saudita (US$ 191 mil), Líbia (US$ 74 mil) e Marrocos (US$ 21 mil).
No geral, os principais destinos do café brasileiro nos três primeiros meses do ano foram a Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, França, Eslovênia, Bélgica e Luxemburgo, Suécia, Espanha e Síria. Das 2.326.819 sacas exportadas, 2.017.891 foram de café verde e 308.928 de café solúvel.
Preços
O crescimento das receitas de exportação, apesar da queda dos volumes embarcados no primeiro trimestre, revela o aumento do preço do produto no mercado internacional. No final da semana passada a consultoria brasileira Global Invest, especializada em economia e finanças, divulgou um relatório que diz que 2004 será um ano de recuperação dos preços da commodity.
De acordo com o relatório, o preço do café começou a cair em 3 de dezembro de 1999, quando a cotação era de R$ 274,57 a saca, e atingiu seu valor mínimo de R$ 102,18 a saca em 24 de julho de 2002. Após essa data o preço voltou a subir e chegou a R$ 195,53 a saca em 15 de outubro de 2002. No ano passado, porém, houve uma super safra de café no Brasil, e já que o país continua a ser o maior produtor mundial, isso fez com que os preços voltassem a cair.
Hoje, porém, o preço do café gira ente R$ 210 e 215 a saca, segundo Guilherme Braga do Cecafé. Os custos de produção no Brasil, de acordo com ele, variam de US$ 40 a US$ 70 (R$ 115,37 a R$ 201,90) a saca, dependendo da região e do tipo do café.
O aumento do preço ocorreu por causa de uma diminuição na produção aliada a queda dos estoques dos países consumidores. De acordo com Braga, na safra 2003/2004 os produtores brasileiros colheram 28 milhões de sacas de café, contra 50 milhões na safra anterior.
O estudo da Global Invest diz que haverá escassez da commodity no mercado internacional este ano, e por conta disso "há uma grande possibilidade de valorização nos preços".
De fato, Braga disse que o a demanda anual pelo produto é de 112 milhões de sacas, sendo que a produção mundial esperada é de 103 milhões, o que vai gerar um déficit de 9 milhões de sacas.
"Espera-se que os países exportadores de café exportem menos em 2004 e que os países consumidores tenham estoques abaixo do normal. Os estoques brasileiros encontram-se baixos atualmente e os estoques dos países importadores caíram 5% no final do ano passado", informa o relatório da Global Invest.
"Nos próximos anos deverá haver um equilíbrio entre esses dois mercados (produtores e compradores)", acrescentou Braga. Ele acredita numa melhora gradativa dos preços, mas sem "explosões", apesar de haver uma previsão de aumento na produção brasileira na safra 2004/2005 para 37 milhões de sacas.