São Paulo – Da Serra Gaúcha, o Empório do Azeite comercializa rótulos produzidos em onze países ao redor do mundo. Entre as nacionalidades de azeites vendidos pela empresa, estão marcas libanesas e tunisianas. Com espaço físico em Gramado, no Rio Grande do Sul, e loja online, a empresa construiu o alcance nacional ao longo de mais de seis anos de história.
À frente de todo o trabalho estão os sócios Chania Chagas (foto acima) e Rafael Arruda. Sócia-proprietária do Empório, Chagas concedeu entrevista à ANBA e contou que é sommelière e consultora de azeites de oliva. A brasileira começou a desbravar o setor ainda em 2013, quando abriu uma boutique ao lado do pai. “Pensamos em azeite de oliva porque [Gramado] é uma cidade turística e era um mercado que ainda não estava desenvolvido no Brasil. Tinha pouquíssimos produtores nacionais e importadoras”, revelou ela.
Ela, que sempre foi da área de finanças, conheceu as possibilidades do mundo do azeite em uma viagem ao Uruguai. “Fizemos um passeio muito legal, com degustação. Jamais tinha pensado em degustar azeite. Aí fiz cursos, o primeiro no Senac do Rio de Janeiro. Depois, fui para Portugal e Espanha, e fiz curso de sommelier no Uruguai”, disse.
Na sequência, a brasileira ganhou uma bolsa de estudos do Conselho Oleícola Internacional (COI) para estudar na Universidad de Jaén na Espanha.
Referência em qualidade
Hoje, Chagas também dá consultoria, cursos e cria marcas para outras empresas. “Nosso grande diferencial é a qualidade e a gama de produtos. Passamos a selecionar mais os produtos que iríamos trabalhar na loja. Hoje, tenho muitas pessoas me oferecendo azeite de oliva. Eu tenho visto coisas assustadoras no mercado, mas outras surpreendentemente boas, esse crivo é importante”, destacou.
Nos anos de experiência, ela viu como o consumidor brasileiro mudou seu olhar. “Nunca se falou tanto de azeite de oliva como em 2022. Claro, alguns mitos ainda existem, como olhar apenas para a acidez, que é um parâmetro, mas não tem a ver com sabor, aroma, mas ainda está muito enraizado na escolha do consumidor”, apontou.
Origens árabes
Nesse leque de opções, a brasileira vê as possibilidades para além dos produtos europeus e sul-americanos. “Quando fiz curso da Espanha, eu tinha colegas da Tunísia e isso ficou mais presente na minha vida. Logo em seguida provamos muitos azeites árabes. Foi bem interessante notar as diferenças do terroir. São azeites com propostas diferentes e muito bons”, apontou a especialista.
O empório tem hoje três marcas da Tunísia com cinco rótulos diferentes, e quatro marcas do Líbano que respondem por cinco tipos diferentes de azeite. O relacionamento com os fornecedores árabes acontece há cerca de quatro anos.
Para ela, a importância dessas nações para o setor passa, inclusive, pelas lavouras. “A Chetoui olive, por exemplo, é uma oliveira de origem da Tunísia com alto conteúdo de polifenóis. É uma variedade bem interessante”, disse.
Também nas técnicas de extração do óleo há tradições que se mantêm na região. “No mundo árabe ainda é muito utilizada a prensa de sisal para extração e isso traz características próprias para o produto. E na Tunísia e em outros países árabes se colhe a azeitona mais madura, ao contrário de outros mercados onde hoje a azeitona é colhida bem verde”, explicou Chagas.
É por diferenciais como esses que a brasileira aponta o futuro promissor dos tunisianos. “A Tunísia é um país para ficar de olho porque já se destaca pela produção. Já li que eles querem ultrapassar a Espanha. E tiveram azeites que ganharam prêmios como o Mario Solinas Quality, feito pelo COI. O azeite tunisiano está com tudo já”, apontou ela.
Julgando azeites em Dubai
Em 2021, a brasileira foi convidada para ser jurada no concurso de Dubai de azeites especiais. “Chegamos lá e tinham mais de 400 azeites do mundo inteiro. Éramos seis jurados no local e outros remotos. Provamos azeites de vários lugares do mundo, inclusive árabes e do Brasil”, revelou ela.
Os organizadores do concurso já acionaram a brasileira novamente e preveem novos eventos, como uma feira e até uma loja com os melhores azeites do mundo em Dubai.
Enquanto isso, Chagas segue com uma das missões do Empório do Azeite: espalhar conteúdo sobre azeites de qualidade. Para isso, a empresa usa redes sociais e o clube de assinaturas de azeite, acompanhado de uma revista bimestral.
Outra forma de levar o conhecimento à frente é com cursos, como o de sommelier de azeite, que já levou para Porto Alegre, onde pretende repetir a dose. Além de eventos em cidades brasileiras, em breve ela deve ir até a Espanha justamente para apresentar os azeites brasileiros ao mundo. “Os planos são seguir construindo a imagem de melhores azeites do Brasil”, destacou Chagas.