São Paulo – Professores refugiados ensinarão árabe, espanhol, francês e inglês para crianças de 08 a 12 anos na ONG Atados, localizada na zona oeste de São Paulo (SP). A primeira turma está praticamente fechada e as aulas deverão começar no dia 06 de março, após o carnaval.
Chamado de “Abracinho Cultural”, o projeto é uma nova etapa no trabalho desenvolvido pela ONG há cerca de um ano e meio, chamado "Abraço Cultural" e que já expandiu suas ramificações para o Rio de Janeiro (RJ). A coordenadora Mariângela Garbelini conta que havia uma grande dificuldade para os refugiados conseguirem entrar no mercado de trabalho, ao passo que também existia neles um grande potencial para lecionar outros idiomas. O Abraço Cultural surgiu aí, ao juntar a dificuldade com a oportunidade.
“Em julho de 2015 começamos com as primeiras turmas. A princípio esperávamos formar quatro, uma para cada idioma, mas devido à grande procura fechamos doze turmas”, diz a coordenadora.
Essas turmas visaram o ensino de outras línguas a pessoas adultas – já passaram mais de 1 mil alunos nas unidades paulistana e carioca, segundo a coordenadora. O Abraço Cultural chegou a capacitar 60 refugiados de mais de uma dezena de países, dos quais metade hoje trabalha lecionando idiomas dentro do própria projeto. “Outros 30 já estão no mercado de trabalho”, explica.
A ideia de expandir para as crianças apareceu, novamente, devido à identificação de oportunidades. O sírio Ali Jeratlia, um dos professores da ONG, conta que existem muitos pais e mães que se casam com brasileiros, têm filhos, mas não conseguem passar a sua língua nativa a eles.
O sírio será o responsável por ensinar árabe às crianças – existem outros professores da mesma nacionalidade dando aulas, tanto de árabe quanto de inglês para adultos. “Ensinar criança é mais fácil, elas aprendem mais rápido”, diz o sírio.
Ele próprio aprendeu português muito rápido – e de forma autodidata. Jeratlia chegou ao Brasil em 2014 atraído pela Copa do Mundo. “Desde 2002, quando o Brasil foi campeão com aquele time do Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo, sonhava em viver no País. Eu trabalhava com hotelaria quando a guerra na Síria começou e resolvi seguir meu sonho: vivi por seis meses na Turquia e consegui o visto para cá”, conta.
Quando chegou, sem conhecer ninguém e sem emprego em vista, batalhou até começar a lecionar inglês. Enquanto isso, ficava estudando a língua local em folhetos, cardápios e placas. “Eu escrevia as palavras e treinava. Estudei muito português.”
Por obra do destino, Jeratlia acabou trabalhando como tradutor para a FIFA justamente durante a Copa do Mundo. Ele comemora o fato de ter assistido todos os jogos da competição em São Paulo, enquanto trabalhava como intérprete de árabe e inglês. Foi lá que ele conheceu alguns voluntários de ONGs que abriram o caminho até ele chegar no Abraço Cultural.
“Hoje estou bem aqui. Gosto de ensinar meu idioma e passar um pouco da cultura do meu país para as pessoas. Existe uma visão muito errada da Síria, não só no Brasil, mas em todo o mundo, e uma das minhas missões é ajudar a quebrar essa imagem”, explica o professor.
Para Mariângela, esse também é um dos objetivos das aulas para as crianças. “Queremos passar esses valores, um pouco de cultural, tolerância e respeito para essa nova geração”, conta.
As aulas começam na segunda-feira, 06 de março. Estão programadas duas turmas de árabe, espanhol, francês e inglês, uma para crianças de 08 a 10 anos e outra de 11 a 12 anos. Os preços dos cursos variam de R$ 720 a R$ 900.
Serviço
Abracinho Cultural – curso de idiomas para crianças
Turmas de 08 a 10 anos e de 11 a 12 anos
Investimento: de R$ 720 a R$ 900, em até 4 vezes
Endereço: Rua Teçaindá, 81 – Pinheiros – São Paulo (próximo ao Metrô Fradique Coutinho)
Mais informações: www.abracocultural.com.br