São Paulo – Azor Feres pintou paisagens, retratos, viagens e cenas do dia a dia. Não se especializou em um assunto específico, apenas retratava o que via ou sentia. Era comum, por exemplo, vê-lo pegar o carro e dirigir pela Rodovia Fernão Dias sem caminho definido. Se, no decorrer da viagem, via uma cena que lhe atraía, estacionava, pegava o cavalete, tintas, pincel e colocava na tela o que via. Assim foram feitas muitas das cerca de 40 pinturas que serão expostas no Clube Monte Líbano, em São Paulo, para celebrar os cem anos de Feres, que nasceu em abril de 1911 e morreu em 2005. A exposição vai de 24 de novembro a 04 de dezembro.
Feres era o sétimo dos 12 filhos do casal de libaneses Yousseff e Helena. Ele começou a pintar antes dos dez anos, em uma escola de Amparo, cidade do interior paulista em que nasceu. Seu talento, no entanto, nunca foi apreciado pelo pai, que até jogava no lixo suas tintas e pincéis. Feres não desistiu e sempre pintou, às vezes escondido dentro da loja do próprio pai.
Ele entrou na faculdade de Medicina e fez o curso até o quarto ano. Quando seu pai morreu ele trancou o curso e concluiu outra faculdade, de Direito. Nos anos 1940, Feres comprou a tecelagem de um cliente e ficou com ela até os anos 1960. Ele ainda teria uma fábrica de meias antes que sua mulher, Walderez, o incentivasse a investir na carreira de pintor.
"A primeira exposição coletiva dele foi realizada em 1974. A primeira individual, em 1978. Ele pintava desde os anos 1920. Antes disso ele vendeu muito pouco, até que a minha mãe o incentivou a ser um pintor profissional, a participar de leilões, a colocá-lo no ‘circuito’", recorda o terceiro dos quatro filhos do pintor, Carim José Feres. Depois que entrou no "circuito", Feres tomou gosto pelas exposições e chegou a fazer seis mostras por ano.
Quadros que pertencem à família serão exibidos juntos à obras de coleções particulares cedidas para esta mostra. Além das telas, os visitantes que forem à abertura da exposição assistirão a uma entrevista gravada em 2005 com Feres intercalada com cenas da sua lua de mel no mundo árabe, em 1962.
Nesta mostra, os quadros serão organizados por décadas, desde os anos 1920, quando Feres fez seus primeiros trabalhos, até os últimos anos de vida. Segundo Carim, seu pai só parou de pintar em 1988, quando Walderez morreu. "Ele ficou desanimado e passou uns dois anos sem pintar", diz. Quando voltou à ativa, Feres já não dirigia mais sem rumo pelas estradas paulistas nem se aventurava pelo mundo. Mesmo assim, continuou a pintar imagens de todos os lugares.
"Ele sempre andava com um bloco de anotações e um lápis de crayon. Quando via uma cena que achava bonita, ele fazia um rascunho nesse bloquinho e depois passava para o quadro maior. Ele guardava a cena na memória", diz Carim. Foi dessa forma que Feres pintou quadros sobre Veneza. Foi assim, também, que ele pintou o que chamava de "cenas árabes", imagens de tendas, camelos, homens no deserto.
Apreciador de pintores do século 19, como Claude Monet e Édouard Manet, Feres costumava aplicar nas suas telas a mesma técnica desenvolvida pelos mestres do impressionismo: pinceladas curtas e rápidas, desenhos pouco nítidos e que registravam o exato efeito das ondas no mar, do vento sobre as copas das árvores ou, ainda, das areias no deserto.
Além do pincel, Feres utilizava um outro instrumento para pintar: espátula. "Ele utilizava uma espátula de pintor, especial, que exigia força e técnica. Chegava a sentir dores nas mãos. Os impressionistas até utilizavam essa técnica em parte da pintura, mas não na tela toda, como ele chegou a fazer", diz Carim.
Serviço
As telas de Azor Feres serão expostas no Clube Atlético Monte Líbano, na Avenida República do Líbano, 2.267, Ibirapuera. De 24/11 a 04/12, das 14 às 22h. A abertura da exposição será realizada às 20h30 desta quinta-feira (24). Tel.: 5088-7070. Grátis.