Isaura Daniel
São Paulo – As principais lideranças do Fórum da Sociedade Civil, espaço de debates de organizações não-governamentais que ocorre paralelamente à 11ª Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), criticaram ontem documento
formulado pelos países integrantes do organismo para o encontro. As entidades começaram ontem uma série de discussões e palestras sobre comércio mundial, que seguirão até quinta-feira.
Uma das principais reclamações em relação ao documento da Unctad, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong), Jorge Eduardo Durão, é a falta de uma posição sobre a política mundial de preços agrícolas.
As entidades querem que a Unctad encaminhe acordos mundiais sobre a comercialização de commodities para estancar a queda dos preços pagos aos produtores rurais dos últimos anos. O tema foi levantado na presença do secretário-geral da Unctad, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero, que participou do Fórum ontem no final da tarde.
O secretário concordou com a necessidade de adoção de políticas específicas para a compra e venda de matérias-primas e prometeu lançar, durante a Unctad, uma grande discussão sobre os principais problemas nesta área. Ele lembrou que já foi encaminhado à Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), há alguns anos, um documento formulado por lideranças da Unctad com possíveis mecanismos para evitar a queda das cotações, mas nada aconteceu. "Vamos fazer um esforço para romper essa conspiração de silêncio em torno das matérias-primas", disse.
Unctad mais crítica
Após ouvir da representante do Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP), Alexandra Stricknen, que as organizações não-governamentais esperam uma Unctad mais crítica e independente na discussão do comércio mundial, Ricupero disse que isso
depende de todas as nações integrantes da Conferência. Ele lembrou que são 192 os países membros e que nem todos são em desenvolvimento.
"Eu me situo entre as pessoas que querem mudar a ordem estabelecida, mas como funcionário das Nações Unidas eu preciso levar em conta a minha organização, que é formada por países. A Unctad ser mais crítica vai depender do que os outros países vão dizer. Está além do meu alcance". Ricupero afirmou que não conhece um órgão mundial mais à esquerda que a Unctad.
Questionado pelo púbico do Fórum sobre a discussão dos subsídios agrícolas que ocorrerá na próxima rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Doha, ele disse que não acredita em avanços para este momento. "Os Estados Unidos estão em eleição, a União Européia está discutindo a inclusão de novos países membros", explica.
Ricupero concordou com as reclamações das entidades sobre a falta de avanços nas negociações mundiais de comércio, mas disse que, por outro lado, o comércio real vem crescendo. "Cresceu 4,7% em volume no ano passado, deve crescer 8,6% este ano e 10,2% em 2005".
O Fórum
O Fórum da Sociedade Civil vai concluir neste sábado (12) um documento com uma série de pleitos das ONGs junto à Unctad. Entre eles estão o pedido de ampliação e potencialização das funções do organismo.
O Fórum, que está sob o tema Alternativas ao Livre Comércio & Reorganização do Sistema Internacional, começou na sexta-feira (11) e seguirá até a quinta-feira (17) no Pavilhão Oeste do Parque de Exposições do Anhembi, onde também ocorre a Unctad.
Há representantes de cerca de 200 ongs. O encontro foi organizado, a pedido das lideranças da 11ª Conferência, pela Abong e Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrif).

