São Paulo – Todo mundo sabe que ele veio da Síria para vencer. E venceu, tendo fundado, em 1898, a Casa da Bóia, uma das mais antigas lojas em atividade na capital paulista. O sucesso de Rizkallah Jorge Tahan está no fato de ter descoberto um nicho de mercado ainda não explorado no Brasil, a fundição de cobre. Ele fundia o cobre e depois vendia os produtos na loja. Mais adiante, o negócio evoluiu para a produção de material sanitário, como sifões, canos, caixas de descarga e as bóias de caixas d’água que dão nome ao empreendimento. O que pouca gente sabe é que, além de bom negociante, Rizkallah era também um construtor de mão cheia. E que deixou sua marca ao erguer pelo menos seis prédios na região central de São Paulo.
Entre as obras que saíram do chão sob o comando do empreendedor sírio, já falecido, estão os edifícios Palacete São Jorge e Palacete Paraíso, na Rua Carlos de Souza Nazaré, São Bento, e na Rua Florêncio de Abreu número 157, a própria Casa da Bóia, também na Florêncio de Abreu 123, um prédio de número 1003 na Rua 25 de Março e a mansão onde Rizkallah morou com a família, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Bela Cintra, construção que já não existe mais.
"No começo do século 20, a construção civil era um bom negócio, devido às grandes transformações urbanas pelas quais passava São Paulo", afirma o arquiteto e professor da Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Rafael Manzo. "Os edifícios de Rizkallah foram bem construídos e estavam em sintonia com os estilos arquitetônicos vigentes". De acordo com Manzo, todas as obras estão inseridas no chamado ecletismo, com referências de várias escolas.
A combinação de senso de oportunidade e gosto pela arquitetura é confirmada pelo neto de Rizkallah e atual diretor da Casa da Bóia, Mário Roberto Rizkallah. "Ele tinha gosto pelas coisas bonitas", diz Mário. "Contratou um mestre de obras da Itália para fazer a Casa da Bóia em estilo art noveau", conta. Em 2008, a sede da loja, que já vinha sendo restaurada desde 1997, recebeu as pinturas ornamentais que decoravam as paredes superiores do salão de vendas e teve recuperados seus balcões originais, onde os clientes são atendidos até hoje.
Já o casarão da família, que até a década de 70 ocupava uma esquina na Avenida Paulista com a Rua Bela Cintra, era "mais em estilo francês". "Era uma residência espaçosa, com cinco ou seis quartos", lembra Mário.
Além de bem instalar seus herdeiros, Rizkallah também teve a preocupação de ajudar conterrâneos e amigos a erguerem edificações diversas em São Paulo. "Ele contribuiu com dinheiro para a construção de um andar do primeiro prédio do Hospital Sírio-Libanês", afirma a professora universitária e editora do informativo Armênia 2010, Sossi Amiralian. "Outra ação nesse sentido foi uma doação para a compra do terreno e construção da Igreja Apostólica Armênia do Brasil", diz Sossi, explicando que o legado do empreendedor sírio na cidade vai além da famosa loja-museu erguida por ele na Florêncio de Abreu.