São Paulo – Um robô que mora no campo e ajuda a produção agrícola a ser mais sustentável, mais eficiente, reduzir custos e emissões. Esta é a proposta inovadora da empresa brasileira Solinftec com a plataforma Robô Solix, que promete ajudar o produtor rural e o meio ambiente com informações em tempo real, 24 horas por dia.
Este é o primeiro robô autônomo, elétrico e movido a energia solar, para a produção de alimentos em larga escala, chegando a cobrir uma área de até 200 hectares. Ele realiza pulverização localizada, faz o controle de ervas daninhas em estágio inicial, controla pragas sem o uso de químicos, reduzindo a utilização de herbicidas em até 95%, reduz a pegada de carbono na produção agrícola e possibilita uma agricultura de baixo impacto e alta produtividade. A inovação foi iniciada na produção de cana-de-açúcar e hoje atua também em culturas de milho, soja, trigo, algodão, entre outras.
Em entrevista à ANBA, o diretor de Estratégia Global da Solinftec, Léo Carvalho (foto acima), contou que a empresa, fundada no Brasil por sócios cubanos, já começou em 2007 com serviços inovadores. “Os sócios vieram de Cuba em meados do ano 2000 e prestavam serviço no setor sucroenergético, quando encontraram uma oportunidade no campo e começaram a empreender, oferecendo soluções para monitorar máquinas agrícolas de forma automática, por meio de computador de bordo que coleta em tempo real dados do maquinário”, informou Carvalho.
A partir dessa tecnologia básica do computador de bordo, os sócios foram desenvolvendo outras camadas de soluções para garantir, por exemplo, a melhora da logística no corte de cana-de-açúcar e a rastreabilidade do pé até devolver para a indústria, e criaram estações meteorológicas que monitoram clima, que conversam com as máquinas, que conversam entre si, sem interferência humana.
“Hoje, temos 95% do market share da cana-de-açúcar, ou seja, praticamente todo açúcar do Brasil está sendo rastreado pelas nossas soluções. E essa base que foi criada é muito robusta e nos possibilitou migrar para outros setores do agronegócio, então hoje nós atuamos também em fazendas de grãos, fibras, laranja, café, outros tipos de culturas que também utilizam dessa tecnologia para tomar decisões em tempo real. É uma tecnologia muito interessante porque quando você começa a ser mais eficiente, em primeiro lugar, começa a reduzir custos para o produtor – seja ele grande, pequeno ou médio, que é o mais importante, porque é quem paga pela solução – e também começa a ser muito eficiente para o meio ambiente, otimiza a produtividade, reduz a pegada de carbono e as emissões. Em 2023, clientes que utilizam nossa tecnologia deixaram de emitir mais de 430 mil toneladas de gás carbônico”, contou.
Até 2022, a Solinftec não tinha uma camada agronômica em sua tecnologia. “O que é uma camada agronômica? Nossas informações são provenientes de uma máquina, porque o computador de bordo está dentro de uma máquina, mas o agro é muito dinâmico, as condições do clima, do solo, da plantação podem mudar de um dia para outro. Vimos que estávamos perdendo algumas informações e então tivemos a ideia de criar um robô autônomo, elétrico, 100% limpo que mora no campo. Ele tem essa condição de coletar todas as informações do estágio da cultura, se tem alguma praga ou infestação, e conseguimos atuar em tempo real porque além de monitorar e fazer análises, o robô também consegue fazer aplicações de produtos químicos de forma localizada, ou seja, é um novo conceito para a agricultura, porque ele reduz em mais de 90% o uso de produtos químicos no campo e não utiliza combustíveis fósseis”, contou Carvalho.
A empresa foi convidada a dar uma palestra em Roma, na sede da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ano passado, em painel sobre tecnologias sustentáveis no ambiente de mecanização agrícola. Na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), em Dubai, Carvalho falou sobre o Robô Solix em painéis da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
“Esse novo conceito é o que está fazendo com que a Solinftec seja convidada para participar de palestras na ONU, na COP28, que é um conceito disruptivo para o agronegócio. Se hoje estamos nos alimentando é porque existem produtos químicos, existe maquinário em larga escala, mas entendemos que esse não é o caminho para produzir mais alimentos para o futuro. Entendemos que a parte de robótica, de inteligência artificial é o futuro“, disse.
O Solix conta ainda uma frequência de luz que simula feromônios e atrai os insetos da plantação, eliminando-os por meio de choque elétrico durante a noite, sem a necessidade de pesticidas, reduzindo também esse custo. “Hoje, o maior custo agrícola está nos insumos para prevenir qualquer tipo de doença, infestação, então esse é o caminho que estamos tomando”, disse.
Carvalho explicou que, na agricultura convencional, as medições no campo são feitas com uma janela maior de tempo, geralmente mensal, e as decisões são tomadas para a plantação inteira, por exemplo, passando um pulverizador por toda a propriedade, utilizando uma enorme quantidade de produtos químicos. Enquanto com o robô estando no campo 24 horas por dia, se utiliza uma quantidade muito inferior de produto químico e com aplicações pontuais, em locais específicos. “Conseguimos antecipar o problema e também reduzir a quantidade de remédios utilizados, e então é possível usar produtos mais baratos, produtos que não tenham patente, o que reduz ainda mais o custo dos produtos”, disse.
Pesando menos de uma tonelada, com três metros de altura e uma barra de 12 metros de comprimento, o Robô Solix custa entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. “Quisemos fazer uma tecnologia bem democrática e acessível. Hoje, um pulverizador custa uns R$ 4 milhões, então provavelmente só a geração seguinte vai conseguir terminar de pagar por aquele maquinário. O nosso robô é uma fração desse valor, o que queremos é que o pequeno produtor também possa ter acesso à essa tecnologia, também consiga ser eficiente, ser sustentável, e que ele consiga pagar por esse produto já na primeira safra”, disse.
Além de sustentável, eficiente e acessível, o conceito do robô, de acordo com Carvalho, é ser de fácil manutenção. “Quero que o produtor olhe para o robô e fale: Eu entendo o que tem aqui, não é um foguete da NASA, eu consigo trocar esse bico, essa bateria de forma simples”, disse.
Cada robô consegue monitorar, em média, 200 hectares em uma semana. “A cada sete dias ele vai voltar ao mesmo ponto que analisou e verificar as informações novamente, o ciclo de sete dias é o ciclo biológico da planta, que tem uma mudança significativa”, contou. Os robôs atendem grandes produtores, como a Maggi, e pequenos de até 100 hectares.
A tecnologia do Robô Solix atua em fazendas no Brasil, Estados Unidos e Canadá, principalmente, mas também na Colômbia, Peru, Argentina, Guatemala, entre outros países da América Latina. Há uma fila de espera de 500 fazendas que querem obter a solução.
A empresa fica em Araçatuba, no interior de São Paulo, onde são finalizados os robôs no Brasil. Há também uma fábrica que finaliza robôs em Indiana, nos Estados Unidos. “Temos a China como ponto de apoio tecnológico, fazemos pesquisa e desenvolvimento lá, os grandes sensores do robô foram desenvolvidos lá. Recebemos as partes aqui e fazemos a montagem”, contou.
Carvalho disse que está sempre estudando novos mercados, como Reino Unido e França, e que após a COP28, em Dubai, esteve no Sudão e no Egito visitando fazendas.