São Paulo – O escritor anglo-palestino Naim Attallah acaba de ter seu romance autobiográfico “As Senhoras de Nazaré” traduzido para o português e lançado no Brasil pela Matrix Editora. O livro resgata a infância do autor e conta a história de duas irmãs, Wardeh (“Rosa” em árabe) e Jamileh (“Linda”). As duas senhoras vivem em Nazaré e a história começa no início do século 20, em 1918, quando a Inglaterra passou a controlar a Palestina após vencer o exército otomano na Primeira Guerra Mundial.
As irmãs árabe-cristãs são analfabetas e vivem da terra, cultivando flores e frutos e criando galinhas. Conhecem intuitivamente os ritmos da terra na qual vivem, em uma pequena propriedade rural que permaneceu intocada entre guerras. Elas negociam ovos com os beduínos em troca de uma cesta de figos ou outros mantimentos, e tentam vender flores aos monges.
Wardeh teve um casamento arranjado aos 18 anos e logo ficou viúva, mas a breve união lhe trouxe um filho. Jamileh permaneceu solteira, cética e desconfiada. As duas viviam de forma espartana e cuidadosa, em sintonia com o local onde moravam. O filho de Wardeh, no entanto, interrompeu a vida simples que levavam. Ele estudou em escola alemã em Jerusalém e acabou se tornando um homem agressivo e imprevisível. Foi seu filho, neto de Wardeh, de saúde frágil e grande sensibilidade, que se transformaria na pessoa mais importante da vida das duas irmãs.
O romance-conto de 80 páginas gira em torno desse afeto das duas senhoras pelo neto que, depois de anos de reclusão e submissão ao pai rígido na cidade grande, vai se refugiar em Nazaré por causa da guerra. Este refúgio, para ele, se transforma em liberdade e aventura. O garoto vivia doente, entre a vida e a morte, e foi criado pelos pais longe das ruas e das brincadeiras. A primeira vez em que se viu livre foi ao mergulhar na vida simples junto às senhoras de Nazaré. “Era como se a história tivesse sido congelada e eles tivessem voltado aos tempos bíblicos”, descreve o autor.
O menino investiga suas raízes, vai atrás de primos e tios perdidos, conhece o amor, o afeto, a aventura, a vida e a arte com os ensinamentos da avó e da tia-avó. A narração em prosa traz essa jornada de aprendizado do herói, da infância à maturidade, em busca de crescimento espiritual, político, social, psicológico, físico e moral.
A obra expõe a magia da vida no campo, repleta de incertezas e dependente dos caprichos da natureza. E reúne, harmonicamente, contrastes: Nazaré e Jerusalém, campo e cidade, Oriente e Ocidente, vida e morte, juventude e velhice, árabes palestinos e judeus imigrantes. Ser nativo e estrangeiro em sua própria terra.
O original “The Old Ladies of Nazareth” foi publicado na Inglaterra em 2004 pela Quartet Books, editora presidida pelo autor desde os anos 1970. Naim Attallah escreveu mais de 15 livros. Ele nasceu no antigo Mandato Britânico da Palestina em 1931, e teve uma avó de origem humilde, analfabeta, que vivia em Nazaré. Aos 89 anos, é casado, tem um filho e vive em Londres.
Serviço
As Senhoras de Nazaré
Naim Attallah
Tradução de Alessandra Blocker
Matrix Editora
ISBN 978-85-8230-638-3
80 páginas
R$ 24
www.matrixeditora.com.br