São Paulo – Uma palmeira de buriti no quintal, R$ 152 na conta e um sonho. Assim começou a história da Saboaria Rondônia, fundada por Mareilde Freire e sua filha, Jaqueline Freire. Mareilde queria produzir um creme hidratante que ajudasse a hidratar sua pele, que estava muito ressecada, mas sem melar com o calor rondoniense. Na foto acima, Mareilde (dir.) e Jaqueline (esq.).
Depois de algumas tentativas ela chegou na receita do hidratante corporal de buriti. Ela sabia que as propriedades do óleo de buriti eram excelentes para vários tipos de cosméticos, então começou a produzir sabonetes, inicialmente com glicerina, e hoje, ela conta com sabonetes naturais livres de ingredientes sintéticos, esfoliantes para o corpo e o rosto, brumas, produtos para os cabelos, hidratante labial, entre outros.
O carro-chefe da companhia é o óleo de buriti, extraído por cerca de vinte mulheres de comunidades rurais de Rondônia – em Ouro Preto do Oeste, Cacoal e Machadinho d’Oeste – e também do Acre.
“Nossa empresa tem três pilares: o empoderamento feminino rural, o desenvolvimento sustentável e a valorização da cadeia produtiva regional. E nesses pilares vamos criando conexões e nos apoiando”, disse Mareilde à ANBA durante a 10ª edição da Rondônia Rural Show Internacional, em Ji-Paraná.
Além de levar as mulheres para a atividade de extração de óleos, a saboaria também faz capacitações e oficinas, além de proporcionar momentos de lazer. “Já fizemos oficinas de leite, estamos em uma bacia leiteira, levando derivados do leite, e já fizemos dias de spa para elas, queremos despertar para o leque de possibilidade que nós temos”, disse Jaqueline.
Mareilde ressalta que quer vender mais seus produtos para poder expandir o negócio. “Para a gente frutificar e poder expandir não só a indústria, mas todo esse contexto, poder mobilizar mais mulheres, mais agricultura familiar, dar vozes aos pequenos. A gente percebe que tem uma riqueza natural abundante, mas não temos muita tecnologia, então cada um tem que desempenhar seu papel”, disse.
A ideia inicial foi em 2015, quando os R$ 152 reais foram utilizados para a primeira compra de ingredientes para fazer os sabonetes glicerinados, e então, observando o poder de hidratação combinado com o que elas tinham no quintal de casa, começaram o negócio da saboaria.
“Aí tínhamos que criar critérios. Vamos trazer esse desenvolvimento, colher o buriti, o babaçu, de forma sustentável, não podemos exaurir o que a natureza nos oferece, esse equilíbrio é o que faz a saboaria hoje”, disse Mareilde.
“Hoje uma palmeira de buriti em pé é renda, é alimento e é garantia de floresta, porque quando extraímos o óleo, utilizamos esse óleo nos cosméticos e a semente vira muda e volta para o meio ambiente. Temos hoje uma área de reflorestamento. A gente vai descobrindo os gargalos, tem que adaptar toda essa cadeia produtiva, tem que ser estruturada”, completou Jaqueline.
Uma palmeira de buriti leva de sete a 15 anos para começar a dar frutos. As árvores de reflorestamento estão começando a frutificar. “Daqui a alguns dias já vamos coletar das nossas plantações pela primeira vez”, disse a filha.
Por enquanto, é utilizado o extrativismo de manejo sustentável feito por mulheres da zona rural. “Ano passado, em 2022, fizemos o mapeamento e foi identificada cada palmeira de buriti da propriedade e das parceiras, então hoje se você quiser adotar a palmeira de buriti, você pode, e vai poder acompanhar, porque ela está identificada”, contou Mareilde. Com o babaçu, é feito o mesmo processo.
“Adotei o buriti pelo que ele me proporcionou, ele melhorou minha pele de tal forma que hoje não estou tão envelhecida graças a ele. Eu queria que nosso primeiro hidratante não fosse pegajoso, para o nosso clima amazônico, e além de tudo isso ele retarda o envelhecimento precoce e traz de volta a hidratação natural da pele”, contou Mareilde.
Além do buriti, a saboaria utiliza outros frutos da biodiversidade amazônica, como os óleos de copaíba, pracaxi, murumuru, andiroba, babaçu, tucumã, seiva sangue de dragão, entre outros.
“O que a gente entendeu é que temos um paraíso aqui, sabendo cuidar dele. Como a minha família é de origem simples – a gente saiu fugindo da fome do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, uma região paupérrima e veio para Rondônia, e Rondônia nos recebeu de braços abertos. E agora chegou o momento de a gente retribuir, porque meus pais na época contribuíram para o desmatamento, por desconhecimento, e agora chegou o momento de a gente fazer o caminho reverso, trazendo de volta o que for possível”, contou a fundadora.
A capacidade produtiva da Saboaria Rondônia é pequena, mas dá conta das demandas. “Não é grande escala, mas com prazo a gente consegue, é uma pequena indústria. Mas quando se fala em cosmético natural, a pessoa busca valor agregado, não quantidade. Procura uma causa, um valor. Eu digo que a gente não vende cosméticos, vende solução”, disse Mareilde.
Os produtos são livres de corantes, químicos ou conservantes. O esfoliante corporal, por exemplo, é feito com grãos de café robusta amazônico de produtores que respeitam o meio ambiente e que têm a mulher na cadeia produtiva.
Os sabonetes naturalíssimos, como Mareilde chama, não contêm nada sintético. São feitos com óleos e manteigas por um método natural. São três tipos, o de babaçu e pracaxi, de buriti e murumuru, e o de andiroba e copaíba.
Tem ainda os sabonetes glicerinados, para quem quer cor e cheiro mais fortes. Estes vêm em formato de flores, abelha, cacau, entre outros.
Mareilde esteve recentemente na Suíça para conversar com uma empresa que se apaixonou por sua história e quer levar os produtos para lá. “Já enviamos nossos produtos para a Suíça, Portugal e Estados Unidos, e queremos entrar no mundo árabe”, disse. Ela está estudando a possibilidade de adquirir o certificado halal.
No Brasil, a Saboaria Rondônia vende para todo o País pelo site da marca. Também é possível comprar pelo site Flor de Jambu, que vende produtos amazônicos.
E a saboaria foi selecionada para participar do Hub de Aceleração Clean Beauty (beleza limpa) da Soneda, loja multimarcas de cosméticos de São Paulo. Apenas vinte empresas foram selecionadas. O hub fica na flagship da marca, na Rua Augusta.
“A saboaria vai passar por essa aceleração, vamos ter condições de pagamento diferenciada e para entrar nesse varejo é difícil”, disse Jaqueline. A mentoria deve durar pelo menos seis meses.
A jornalista viajou a convite da Secretaria do Desenvolvimento Econômico de Rondônia (Sedec).
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