Débora Rubin
São Paulo – Quando chegou ao Brasil em 1988, Moris Azar não sabia falar uma palavra em português, mas sabia fazer pão sírio. O imigrante que deixou a cidade de Kameshli, na Síria, e veio sozinho tentar a sorte por aqui apostou na comida árabe desde o começo. "Naquele tempo não existia essa oferta de pão sírio que tem hoje em São Paulo. Eu fui o primeiro a vender para atacado", gaba-se Azar, que ainda guarda consigo um forte acento árabe. Hoje, 19 anos depois, o empresário se lançou em uma nova aposta, um Empório de comida árabe. O Samiramis foi inaugurado há quatro meses em Moema, zona sul da cidade. "Abri aqui porque a comunidade árabe é grande na região", explica Azar.
Mas nem só de descendentes sírios e libaneses – as comunidades árabes mais fortes em São Paulo – é formada a clientela do Samiramis. Afinal, como conta o próprio Azar, a comida árabe se popularizou bastante nos últimos 20 anos. "Esfiha, hoje, já é comida brasileira", define. Ele conta que quase toda clientela que chega na loja já sabe o que quer e conhece bem os produtos da culinária árabe. Mas para quem não sabe, ali está Moris para ajudar. "Se uma pessoa quer fazer um quibe bandeja, por exemplo, eu já digo que não basta só levar o trigo, tem que levar um pouco de pimenta síria também", exemplifica. "As pessoas ligam agradecendo depois."
No Samiramis, uma homenagem à Semiramis, rainha da Babilônia, tem de tudo: desde os ingredientes para quem quer fazer os quitutes árabes em casa até comidas prontas, como o homus em lata, pepinos em conserva e os quibes e esfihas que são feitos na hora para o cliente levar. Há especiarias e produtos pouco conhecidos por aqui como molho de romã, para ser usado em salada, o zátar, tahini (molho de gergelim), entre outros. E doces, muitos deles. Quase todas as mercadorias são de um mesmo fornecedor, a empresa síria Durra. Há ainda uma enorme variedade de narguilés e fumos com sabores de frutas. A cada dois meses, em média, Moris Azar divide um contêiner de mercadorias que chega da Síria com um amigo que tem um empório semelhante no Bom Retiro.
História
Quando chegou em São Paulo, Azar foi ajudado por outro sírio. "A comunidade árabe aqui é muito unida, se ajuda muito, não importa a origem", diz. Em pouco tempo, fez sua produção de pão sírio crescer. O problema foi a concorrência. Um libanês, diz ele, chegou com um forno automático e passou a produzir muito mais. Azar quebrou. Resolveu fazer esfiha. Como já tinha contato com a rede Carrefour, ofereceu seu novo produto. No primeiro dia, vendeu tudo. Dobrou a produção. Resultado: passou mais de uma década fornecendo esfiha para a rede francesa de supermercados.
No ano passado, porém, o Carrefour mudou sua estratégia, queria passar a mandar o produto para todo o país. A fábrica de esfihas de Azar, que contava com 20 funcionários, não daria conta. Em vez de ampliar, resolveu fechar. O empório Samiramis já é a terceira etapa do comerciante em terras brasileiras.
Casado, pai de dois filhos, Azar faz questão de manter suas origens. Os filhos, um de oito anos e outro de três anos, aprenderam a falar árabe antes do português. Azar conta que em 1997, a mãe veio ao Brasil e disse que ele tinha que voltar para Kameshli para se casar. Ele foi, ficou três meses, conheceu a mulher, gostou, casou, a trouxe para o Brasil. Hoje ela é o braço direito de Azar no Empório.
Samiramis
Endereço: Al. Nhambiquaras, 1020, Moema
Telefone: +55 (11) 5054-2695

