Isaura Daniel
São Paulo – O crescimento das exportações tornou o Brasil mais forte frente a crises externas. O saldo de US$ 25 bilhões na balança comercial, obtido entre janeiro e setembro deste ano, deve garantir a sustentabilidade da economia brasileira diante de possíveis choques internacionais.
"Uma crise externa, eventualmente causada pelo petróleo, pode atrapalhar a tendência de crescimento da economia brasileira. No entanto, hoje o Brasil está mais sólido para enfrentar turbulências externas, devido à melhora da balança comercial", disse o sócio-diretor da consultoria Tendências, Roberto Padovani.
A meta do governo é fechar 2004 com um superávit de US$ 32 bilhões nas vendas externas. "Ter uma oferta de dólares deste tamanho dá conforto quanto à capacidade de pagamento externa do país", reforçou o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, Rogério Mori.
O desempenho das exportações colocou o país em um dos seus melhores momentos econômicos, desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo em janeiro do ano passado. As receitas com as vendas externas poderão chegar a US$ 90 bilhões até o final do ano, US$ 17 bilhões a mais do que em 2003.
Para completar, a melhoria dos salários pagos no país e o aumento da oferta de empregos estão acelerando o consumo interno e garantindo maior demanda local às empresas. As vendas da indústria aumentaram 20% em agosto em relação ao mesmo mês de 2003, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
As previsões indicam que o país tem condições de continuar crescendo no próximo ano. Tanto que as empresas brasileiras estão começando a investir para aumentar a sua capacidade de produção. "Há um novo ciclo de investimentos se instalando no país", disse o coordenador da unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Várias empresas estão adotando o aumento do turno de trabalho para atender o crescimento da demanda. "É uma forma de garantir o aumento da produção no curto prazo e indica que a empresa vai tomar em breve uma decisão de investimento e contratação", afirmou Castelo Branco.
Setores exportadores, como o do aço por exemplo, operam atualmente com quase toda a sua capacidade instalada. Também os segmentos que têm a demanda diretamente ligada ao crédito, como as fábricas de carros, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, estão com alto nível de atividade. "O movimento dos juros (para baixo) foi o elemento que gerou dinamismo ao crédito, beneficiando o setor de bens duráveis", declarou Rogério Mori.
Tais produtos normalmente são adquiridos pela população brasileira com financiamentos. A taxa básica de juros do país caiu de 26,5% em junho de 2003 para 16% em abril deste ano. Agora ela teve um pequeno aumento, para 16,25%, mas está bem longe do nível anterior.
Investimentos
A taxa de investimento do país, nos primeiros seis meses deste ano, já aponta uma retomada. Ela ficou em 18,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior percentual para um primeiro semestre desde 2001, quando alcançou 20,2%. De acordo com o professor da FGV, porém, para que a economia brasileira possa manter o crescimento do PIB entre 4% e 5% ao ano, como previsto para 2004, os investimentos precisam ser ainda maiores, entre 22% e 23% do PIB.
"O país precisa estabelecer uma agenda de crescimento para que possamos romper a barreira dos 4% de crescimento e ficar neste patamar por vários anos", disse Mori. Não deve haver, porém, restrições de oferta de bens industriais a curto prazo, de acordo com o coordenador de Política Econômica da CNI. O índice de utilização da capacidade instalada da indústria está em 83,9%.
No próximo ano, as exportações devem continuar crescendo, mas num ritmo um pouco menor. As previsões apontam vendas externas de US$ 94 bilhões, com US$ 4 bilhões a mais que neste ano. "O setor exportador vai continuar com uma demanda forte, mas crescerá num ritmo menor, e o setor de bens duráveis também", afirmou Mori. O economista diz que o último aumento da taxa de juros e a desvalorização do dólar, cotado em cerca de R$ 2,80, devem frear um pouco os investimentos e o crescimento das exportações.
Mais emprego
Internamente, o país se prepara para um crescimento recorde de empregos. As taxas de emprego já estão subindo há algum tempo. Há três meses o emprego industrial cresce a uma taxa de 1%. Nos oito primeiros meses do ano, o número de empregados da indústria aumentou 5,17%. "Não há paralelo no passado recente, nem mesmo nos primeiros anos do Plano Real, de um ano tão promissor para o emprego industrial", diz o relatório divulgado ontem (6) pela CNI. Os salários também cresceram 12,5% no período.
Depois de beneficiar a indústria de bens duráveis, a melhoria da renda do trabalhador está chegando agora às indústrias de bens semiduráveis, como calçados, tecidos e roupas. O desempenho do setor está diretamente ligado aos salários pagos. "É um setor que se retraiu muito nos últimos anos", afirmou Castelo Branco.
De acordo com as previsões do Banco Central, o setor que mais crescerá este ano no Brasil será a indústria, com 6%. Para a agricultura, a instituição prevê faturamento 4,3% maior. O setor de serviços, apesar de em menor ritmo, também deve apresentar crescimento. O percentual deverá ficar em 2,9%. O BC aponta um PIB 4,4% maior para 2004. O PIB brasileiro somou R$ 816,8 bilhões no primeiro semestre deste ano. No mesmo período do ano passado ele estava em R$ 723,5 bilhões.

