Alexandre Rocha
São Paulo – Cinco empresários catarinenses, com o apoio institucional da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), vão começar a produzir no próximo ano um novo carro nacional. O modelo, um jipe 4×4 que tem o nome provisório de “projeto A4”, será fabricado somente com peças nacionais, à exceção do sistema de transmissão da tração reduzida que, cogita-se, será importado da americana Borg-Warner.
O pai do projeto é o engenheiro mecânico Adolfo César dos Santos, vice-presidente da Fiesc para a área de construção, e um dos cinco empresários que estão por trás da empreitada (os outros ele não revela quem são).
“Santa Catarina tem uma indústria de autopeças bastante importante e desenvolvida, mas ainda não possui uma montadora”, disse Santos.
De acordo com ele, a Fiesc tomou uma decisão estratégica ao encampar o projeto para explorar um nicho importante, o dos veículos de “lazer fora de estrada”, e ao mesmo tempo desenvolver um novo mercado para a indústria de autopeças local e dar “visibilidade” à capacidade produtiva do estado, atraindo novos empreendimentos industriais.
“O único componente que cogitamos importar é a caixa da reduzida, todo o resto será nacional e com um alto grau de estadualização”, acrescentou o engenheiro.
A idéia de produzir um carro nacional surgiu em 2001, quando o próprio Santos desenvolveu um “projeto conceito” do modelo a partir de uma picape avariada. “O veículo foi feito sem nenhuma pretensão de industrialização, um conceito mesmo e o resultado da dinâmica como off-road foi fantástico”, disse ele.
Após a Fiesc abraçar a idéia, a condução do projeto foi entregue, segundo Santos, à mesma equipe de técnicos que trabalha para a Mitsubishi do Brasil. “Agora estamos na fase de construção de protótipos para a realização de testes e obtenção das homologações necessárias”, afirmou.
Inspiração
As linhas do A4 foram inspiradas no Ford EX, um carro conceito apresentado pela montadora norte-americana no salão de Detroit de 2001.
Mas foi mesmo só inspirado, pois o EX é um buggy de dois lugares, indicado para passeios em dunas, como as existentes em Natal no Rio Grande do Norte. Já o A4, “em espírito”, está mais para o saudoso jipe Willys, que apesar de não ser produzido há muitos anos, ainda faz sucesso entre os jipeiros brasileiros.
“Vimos uma oportunidade grande para um veículo voltado para lazer, um 4×4, dentro de um espírito de resgatar o estilo despojado do Willys, mas com uma mecânica moderna e tecnologia de ponta para dar agilidade, conforto e segurança ao veículo”, afirmou Santos.
Características
Se o espírito é do Willys, o corpo promete ser muito mais avançado, já que o velho jipe, embora durão, nunca foi reconhecido pelo conforto. De acordo com Santos, o carro será de uso misto, servirá tanto para as trilhas, como para rodar na cidade.
O A4 terá capacidade para acomodar quatro pessoas, sendo que os assentos traseiros poderão ser removidos para o transporte de carga. Será construído sobre um chassi tubular que está sendo desenvolvido pela Wiest, fábrica catarinense de escapamentos e tubos de aço.
Já a carroceria será produzida pela Tecno Fibras de Joinville, feita parte em fibra de vidro e parte em “plástico de engenharia deformável”. O carro terá 3,5 metros de comprimento.
Com relação ao motor, Santos disse que o fornecimento está sendo negociado com a Volkswagen, com a Renault, e com a Tritec Motors, joint venture da BMW e da Chrysler, instalada no Paraná, que produz motores para modelos importados famosos, como o Chrysler PT Cruiser e o Mini Cooper.
Apesar de não saber ainda quem vai fornecer o motor, Santos disse que ele será um quatro cilindros, de 2.0 litros, a gasolina e com cerca de 100 hp de potência.
Seguindo conceito de uso misto, Santos garante que o comprador vai ter acesso a “tudo o que tem direito” em termos de opcionais e itens de conforto. Além disso, afirmou ele, o carro terá um sistema de suspensão independente nas quatro rodas, o que garantirá maciez ao rodar.
Produção
Santos ressaltou que, a depender dos aspectos técnicos, a produção comercial do carro poderá começar em outubro de 2004.
Antes, porém, os empresários e a Fiesc estão finalizando um “plano de negócios” para capitalizar o empreendimento. A idéia é fundar uma sociedade anônima de capital fechado e ofertar as cotas para fábricas de autopeças de Santa Catarina. “Fixamos para isso o prazo de maio do ano que vem, depois vamos pactuar a data para entrar no mercado”, afirmou ele.
Santos acrescentou que, ao final do desenvolvimento do projeto, o investimento terá sido de R$ 6 milhões. “Uma das características do projeto é o baixo investimento. Nós não vamos produzir as peças, todos os componentes serão fornecidos por empresas já existentes”, afirmou.
A linha de montagem será instalada em um galpão com cerca de 1,5 mil metros quadrados em lugar ainda a definir. “Existem no estado várias instalações desse tipo disponíveis”, garantiu.
A previsão é produzir 20 carros por mês, que serão vendidos a preços que variam de R$ 30 mil a R$ 45 mil, dependendo dos opcionais. “Estamos trabalhando com uma visão conservadora de produzir 250 unidades ao ano”, declarou Santos. A idéia é vender apenas uma versão básica e oferecer ao consumidor 30 tipos de acessórios diferentes.
Os empresários não pensam em criar uma rede de concessionárias, para Santos o carro pode muito bem ser vendido em lojas multimarcas e pela internet. A principal preocupação, nesta seara, é com os serviços de assistência técnica. Eles querem fazer convênios com oficinas mecânicas para criar uma rede de serviços. “Mas até como se trata de um produto todo desenvolvido aqui, com peças de mercado utilizadas em outros veículos, a reposição será fácil”, acredita Santos.
Quando a linha de montagem estiver em funcionamento, o engenheiro calcula que ela vai gerar 38 empregos. Atualmente 13 pessoas trabalham no desenvolvimento do projeto.
Exportações
A produção do A4 ainda nem começou e Santos já pensa em exportações. Os catarinenses estão fechando um acordo com a Cross Lander, que fabrica jipes em Manaus (AM) sob licença da romena ARO (Auto Romênia), para usar seus canais de exportação para os Estados Unidos. “Mas nosso foco teste no mercado exterior deverá ser o Mercosul”, afirmou.