São Paulo – As descobertas de petróleo na camada pré-sal na Bacia de Santos, no litoral sudeste do Brasil, já provocam grande impacto social, econômico e tecnológico na cidade de Santos, município de 430 mil habitantes distante cerca de 80 quilômetros de São Paulo.
“Sem dúvida nenhuma a transformação da cidade em sede da unidade de negócios [da Petrobras] de toda a Bacia de Santos desencadeou uma série de movimentos na economia da cidade e da região. Investimentos em hotéis, unidades residenciais de alto padrão e em complexos empresariais se devem em grande parte pelas notícias da Petrobras”, afirma o prefeito santista, João Paulo Tavares Papa (PMDB).
De acordo com ele, houve uma valorização imobiliária muito grande na região da Baixada Santista. Basta um breve passeio pela cidade para perceber anúncios de empreendimentos de grandes construtoras e incorporadoras como Helbor, Gafisa, Agre e Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário.
“Abre-se um novo e vigoroso ciclo de desenvolvimento visto com muito otimismo pelo setor privado, pelos governos municipais e pelo governo de São Paulo. Precisamos nos preparar bem para atender esse ciclo, que exige capacitação e conhecimento numa área que é nova”, destaca o prefeito.
Segundo Papa, Santos já vinha passando por um momento de aceleração com investimentos na região portuária. A cidade abriga o principal porto do país. “Mas isso se intensificou com a chegada do petróleo e acabou abrindo as portas da região para uma área nova, desafiadora para a gente, que é a área de tecnologia. Hoje Santos é um dos parques tecnológicos do estado de São Paulo, e muito dessa ideia se fortaleceu com a chegada da Petrobras”, observa.
Agora, universidades e escolas técnicas públicas e privadas estão oferecendo cursos de qualificação profissional em petróleo e gás, que foram criados em função das necessidades atuais e futuras da Petrobras. “A companhia participa ativamente da elaboração desses currículos”, conta Papa.
Outra frente é a chamada Rede-BS das Empresas de Petróleo e Gás e da Câmara Temática de Petróleo e Gás do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), formada para estimular a capacitação de empresas interessadas em atuar como prestadores de serviços da Petrobras.
Revitalização
Aos poucos a cidade vai ganhando novas formas o cores. A plataforma terrestre do emissário submarino, na praia do José Menino, por exemplo, ganhou um parque de 43 mil metros quadrados, projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake. Locais como esse dividem a atenção com os prédios em construção por toda a parte. A Ponta da Praia, próxima à balsa que leva ao Guarujá, é onde há o maior volume de obras em andamento. Ali, o preço do metro quadrado fica em torno de R$ 4 mil. A Ponte Santos-Guarujá, uma reivindicação antiga dos moradores, vai receber R$ 700 milhões e desafogar o tráfego na balsa.
E por estar em evidência, a cidade recebe recursos para diversas obras públicas. É o caso do Santos Novos Tempos, programa que prevê aportes pesados em infraestrutura e habitação e conta com recursos do Banco Mundial. É um programa de cerca de R$ 550 milhões. Serão construídas 7,5 mil residências para moradores de uma favela na área de influência da maré.
Além do Banco Mundial, participam do projeto o Governo Federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e o governo paulista por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
Santos conta ainda com o Programa Alegra Centro, criado para preservar o patrimônio histórico da região central da cidade. “É um programa que é público e ao mesmo tempo privado, porque nós temos uma legislação municipal que oferece incentivos fiscais, oferece isenções tributárias para os proprietários que fizerem a restauração dos seus imóveis e derem uma ocupação permanente a eles”, afirma o prefeito. “Esse programa, ao mesmo tempo em que está restaurando centenas de imóveis, está trazendo atividades econômicas para a região central, que se fortaleceu muito nos últimos anos”, acrescenta.
A estratégia do projeto, além dos incentivos fiscais, inclui fazer do centro um local atrativo turisticamente, com teatros que foram restaurados, espaços culturais e atrações como os cinco quilômetros de bonde que abrangem todo o centro, com bondes de várias partes do mundo como Escócia, Itália e Portugal.
“O projeto até motivou a prefeitura a implantar o Museu do Bonde. O espaço já está pronto. É um antigo museu portuário que foi restaurado e entregue a cerca de dois meses”, informa Papa. O local vai agregar peças, informações e documentos com a história dos bondes elétricos na cidade.
Turismo em ascensão
Por essas e outras iniciativas, é esperado o crescimento do turismo na cidade, que, no passado, foi a grande vedete do litoral paulista. No último verão, foram injetados R$ 401 milhões na economia local. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Santos, houve um aumento do gasto per capita por dia de R$ 75,00 para R$ 80,00 no mesmo período. O montante não contempla os resultados da temporada de cruzeiros marítimos 2009-2010, que movimentou R$ 230 milhões na cidade, criou 1,1 mil empregos diretos e 8 mil indiretos, de acordo com a Concais, empresa que administra o Terminal de Passageiros Giusfredo Santini.
Um dos projetos que promete atrair mais turistas para a cidade é a construção do Museu Pelé, um dos ícones do projeto Alegra Centro. O museu vai receber R$ 20 milhões deve ficar pronto em 2012. Vale lembrar que o maior ídolo do futebol mundial jogou pelo Santos Futebol Clube durante quase toda a sua carreira.
Outro ponto alto da revitalização do centro histórico é um complexo portuário. O Projeto Santos Porto-Valongo vai transformar um espaço de 55 mil metros quadrados, sem uso há mais de 20 anos, em um complexo turístico, náutico, cultural e empresarial, com terminal de cruzeiros, marina pública, escritórios, restaurantes e terminal de transporte aquaviário.
Santos é também a capital dos cruzeiros marítimos e, na temporada 2010-2011, 22 navios movimentarão mais de 1 milhão de passageiros, o que será um recorde. O novo cais para navios de cruzeiro, planejado para atender os turistas da Copa de 2014, vai custar R$ 160 milhões. De olho nessa oportunidade, Santos pretende ser sub-sede do Mundial e receber uma das seleções.
De acordo com o prefeito Papa, a imagem do Rei Pelé pode ajudar a atrair mais turistas para a cidade. A Vila Belmiro, estádio do time local, será reformada e modernizada para ser outro chamariz para os turistas.
"O aquário do município também passou por ampliação e modificação recentemente e a própria orla da praia vai passar, a partir do ano que vem, por uma reforma completa de modernização dos quiosques, sanitários e equipamentos de apoio da região", afirma Papa.
A previsão de abertura de hotéis de bandeira internacional como o Confort, Ibis e Mercure também é um bom indicador do fortalecimento da economia local. Com esses novos hotéis, que irão disponibilizar mais 2,2 mil leitos, a capacidade de acomodação será duplicada.
Leia a amanhã a quarta reportagem da ANBA sobre o desenvolvimento de Santos a partir das descobertas de petróleo na camada pré-sal da Bacia de Santos.

