São Paulo – A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, provável candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou hoje (25), em São Paulo, que a Saudi Aramco, petrolífera estatal da Arábia Saudita, manifestou interesse na exploração do petróleo da camada pré-sal no Brasil.
“Achamos que toda empresa de petróleo, principalmente a Saudi Aramco, será muito bem-vinda no Brasil”, disse ela em entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros. Dilma afirmou que o interesse foi manifestado pela companhia durante a visita que Lula fez a Riad em maio deste ano.
De acordo com ela, a manifestação de interesse foi reforçada pelo ministro do Petróleo do país, Ali Al-Naimi, também durante a viagem de Lula. Conforme a ANBA noticiou na época, o presidente brasileiro convidou Naimi para visitar o Brasil e avaliar possibilidades de parcerias entre a Petrobras e a Aramco.
“A cooperação com o mundo árabe é muito bem-vinda”, declarou Dilma. A ministra acrescentou que o Brasil está aberto para empresas internacionais, privadas ou estatais, que queiram investir no pré-sal. “Há uma oportunidade única para participação privada e estatal”, ressaltou ela, referindo-se às descobertas de grandes reservas feitas recentemente na águas territoriais do país.
A área de energia foi um dos principais temas tratados por Dilma na entrevista, já que antes de ocupar a Casa Civil ela foi ministra das Minas e Energia. Ela destacou que, mais do que extrair petróleo, o governo quer incentivar a cadeia de fornecimento de produtos e serviços para o setor, incluindo a construção de plataformas, navios e sondas, além de fomentar os ramos de refino e petroquímica. “Por que exportar o petróleo bruto?”, questionou.
Às vésperas da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que vai ocorrer em dezembro em Copenhague, na Dinamarca, a ministra lembrou que, apesar das descobertas de petróleo, o Brasil está e pretende se manter na vanguarda das fontes de energia renováveis. Ela citou o etanol e o biodiesel, utilizados em larga escala como combustíveis no país.
“Em matéria de energia renovável nós somos imbatíveis”, disse. “Achamos que um mercado de etanol mais profundo será melhor para nós”, afirmou, referindo-se aos esforços brasileiros para disseminar a produção de álcool combustível pelo mundo e transformar o produto numa commodity internacional. Ela lembrou que o zoneamento da cana-de-açúcar, lançado este mês pelo governo, impede a plantação em áreas de preservação e utilizadas para a produção de alimentos.
Meio ambiente
Ela falou longamente também sobre meio ambiente, disse que o governo tem compromisso com a questão e destacou a geração de energia elétrica, que no Brasil é feita majoritariamente por usinas hidrelétricas.
Segundo Dilma, o governo estuda a implantação de um modelo de “usinas plataformas”, que consiste na construção, em áreas de floresta, de plantas que fiquem isoladas da civilização, com acesso por helicóptero, como ocorre nas plataformas de petróleo. Isso, em sua avaliação, evitaria a criação de núcleos urbanos na mata e o consequente impacto ambiental.
Com a possível entrada da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, hoje no PV, na disputa pela presidência, a questão ambiental certamente terá destaque na pauta de discussões da eleição de 2010. Acusada de colocar o desenvolvimentismo à frente do ambientalismo, Dilma rechaçou a pecha e afirmou que preservação e redução de emissões estão entre as prioridades do governo.
Ela declarou que o grande desafio do Brasil nessa seara é reduzir o desmatamento e acrescentou que o governo criou “metas claras” nesse sentido. “Este ano tivemos um desempenho excepcional”, disse a ministra, referindo-se à redução de 34% do desmatamento da Amazônia registrada em agosto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Dilma lembrou que o Brasil assumiu o compromisso de reduzir suas emissões em 4,8 bilhões de toneladas de gás carbônico até 2020. Ela ressaltou, porém, que as nações emergentes não podem carregar sozinhas este fardo e disse que os países desenvolvidos têm que assumir sua responsabilidade na área.
Potência do século 21
A ministra falou também sobre a economia brasileira em geral e destacou que o país “está se transformando de fato numa potência do século 21”. Ela disse que a estabilidade econômica é uma conquista essencial e ressaltou a resistência do Brasil frente à crise financeira internacional. “Todos os dados macroeconômicos mostram grande força na recuperação e solidez dos fundamentos”, disse.
Em sua opinião, o país voltará a ter uma boa taxa de crescimento já em 2010 e vai ocorrer uma “valorização importante” do mercado interno. “O conjunto de crescimento econômico e social vai nos transformar num país de grandes oportunidades”, afirmou.
Na mesma linha de Lula, ela defendeu reformas nas instituições financeiras multilaterais, como o FMI, para dar mais representatividade aos países em desenvolvimento, e ressaltou que a discussão de questões como a regulação dos mercados e fim dos paraísos fiscais não pode ser posta de lado com o fim desta crise. “Não podemos trabalhar em 2009 com instituições de 1945 ou 46.”
Dilma afirmou que, na fase mais aguda, o governo acionou o Banco Central e os bancos estatais, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, para irrigar a economia com crédito, mas rechaçou a pecha de intervencionista dada à gestão Lula. “Há uma oposição falsa entre o setor público e o privado, somos o governo que mais fez parcerias com a iniciativa privada”, declarou.
Ela disse que as ações estatais na crise tiveram como objetivo “salvar empresas”. “Hoje somos parte da solução [da crise]. Nossa política de parcerias com o setor privado é inequívoca”, destacou. A ministra afirmou que o governo não é intervencionista, pois não pretende ter empresas para atuar no mercado, mas é “nacionalista”.
Eleições
As eleições foram também assunto recorrente na entrevista. Questionada sobre a pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana, que indica liderança do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), na corrida, e ela empatada em segundo lugar com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), Dilma ressaltou que o altíssimo índice de aprovação de Lula e seu governo “é muito significativo para qualquer candidato”. Ou seja, a ministra acredita que, na campanha de 2010, esse nível de aprovação vai se reverter em votos para o candidato do governo, provavelmente ela mesma. “O governo tem o que mostrar”, disse.
Para ela, a pesquisa realizada mais de um ano antes do pleito serve como “conselho”, mas mostra apenas um “momento determinado” e revela também um “recall” das últimas eleições, referindo-se ao fato de que Ciro e Serra já foram candidatos à presidência. Dilma acrescentou que a entrada de Marina Silva na disputa é positiva. “Acredito que ela é uma boa candidata, é muito bem-vinda, um sinal do amadurecimento da sociedade brasileira”, afirmou.
Honduras
Na seara diplomática, Dilma ainda ressaltou a posição de governo brasileiro de apoio ao retorno do presidente Manuel Zelaya ao poder em Honduras. Destituído por um golpe de estado e exilado de seu país, Zelaya conseguiu retornar e está refugiado desde segunda-feira na embaixada brasileira na capital Tegucigalpa.
“A gente não negocia certos princípios, como ‘se a ditadura ficar menos ditadura a gente negocia’. Não, democracia não se negocia”, declarou a ministra, referindo-se à possibilidade permanência do governo provisório no poder até as eleições hondurenhas em novembro. A diplomacia brasileira, com apoio da ONU e das demais nações americanas, quer que Zelaya seja reempossado.

