São Paulo – A Arábia Saudita quer garantir a segurança alimentar de sua população. E para isso vai investir na produção e compra de alimentos no exterior. Neste contexto, o Brasil é um dos principais aliados. Tanto que o país árabe pretende aumentar o comércio de produtos do agronegócio com o Brasil e ainda investir no setor dentro do país. O assunto foi discutido nesta segunda-feira (4), durante o “Encontro Empresarial Brasil-Arábia Saudita”, em São Paulo, do qual o ministro da Agricultura saudita, Fahad Abdulrahman Bal Ghunaim, participou com uma missão de representantes do governo e empresários de seu país. Eles se reuniram com membros do governo e do empresariado brasileiro.
De acordo com Ghunaim, a escassez de recursos hídricos obrigou o governo da Arábia Saudita a reduzir a produção de grãos no país, que gera um grande consumo de água. “Assim, o rei Abdullah [bin Abdel-Aziz al-Saud] recomendou aos empresários sauditas a investirem nos países que dispõem de boas condições para a agricultura”, explicou.
Com isso, o Brasil está no topo da lista de interesse de investimentos sauditas no agronegócio. Além de aumentar a compra de alimentos do país, os árabes também buscam oportunidades de aplicação de seu capital. Segundo o ministro saudita, ainda não foi definido o montante total a ser investido no plano de segurança alimentar. A missão que está no Brasil deverá ajudar a delinear o tamanho do aporte que o país poderá receber e as áreas do agronegócio que serão beneficiadas. “A ideia desta missão é ver o que o setor de agricultura no Brasil alcançou em termos de desenvolvimento”, declarou Ghunaim.
A Arábia Saudita é o maior comprador de produtos do agronegócio do Brasil no mundo árabe. Entre os artigos importados, os principais são carne, açúcar e cereais. Segundo Ghunaim, seu país também tem interesse em importar milho, arroz e trigo. De janeiro a agosto de 2010, as importações sauditas do setor somaram US$ 1,18 bilhão. Se forem consideradas as exportações brasileiras de todos os setores ao país árabe, este ano os embarques já somaram US$ 3,5 bilhões.
“Temos todas as condições de contribuir para que a Arábia Saudita seja bem sucedida no seu projeto de garantir a segurança alimentar para sua população”, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Miguel Jorge, durante o evento. Ele também destacou o papel do país árabe nas exportações brasileiras. “A Arábia Saudita é hoje nosso principal parceiro no Oriente Médio. Precisamos diversificar muito nossa pauta comercial”.
Para dar início a esta diversificação, Miguel Jorge irá liderar uma nova delegação de empresários brasileiros à Arábia Saudita no início de dezembro deste ano. “Temos a missão de atrair investimentos sauditas para a área de petróleo, energia, infraestrutura, portos, aeroportos, etc. Eu acho que há boas oportunidades, principalmente para grandes fundos estrangeiros aplicarem nesses projetos. São poucos os países que têm as oportunidades de investimentos como as que nós temos no Brasil”, ressaltou.
Para Salim Taufic Schahin, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, esta é uma das mais importantes missões da Arábia Saudita que o Brasil já recebeu. “A missão veio estruturada, com vontade de investir, o Brasil está no radar saudita e, tenho certeza que, depois dessa missão, muitos negócios irão frutificar”.
Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa), destacou que o Brasil é uma das poucas fronteiras agrícolas com capacidade de expansão no mundo. “O Brasil é um país de grandes oportunidades na área agrícola, mas precisa de capitais, pois não tem recursos financeiros abundantes”. Para ele, há uma convergência entre os interesses sauditas e brasileiros. “Entendemos que o Brasil tem condições de gerar ao mundo segurança alimentar no fornecimento de alimentos”.
Para Carlos Leopoldo, chefe da Divisão do Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, a Arábia Saudita deve ver no Brasil um parceiro para garantir sua segurança alimentar. Ele disse também que espera a cooperação do país árabe para a conclusão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, composto por Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Omã e Bahrein).
A delegação saudita ficará em São Paulo até quarta-feira (6). Durante este período, fará visitas a entidades setoriais, terá reuniões com exportadores brasileiros e encontrará o secretário-executivo do Mapa, Gerardo Fontelles.