São Paulo – Os exportadores brasileiros de carne de frango ganharam fôlego para embarcar produtos para a Arábia Saudita, enquanto segue a discussão sobre o abate das aves. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Autoridade Geral de Alimentos do país árabe aprovou a solicitação brasileira e estendeu o prazo de embarque da carne, independentemente da forma de abate, até o dia 1º de maio.
Os sauditas exigem que as aves sejam abatidas seguindo a tradição halal, mas há um impasse: os brasileiros usam um choque elétrico para atordoar o frango antes do abate, evitando que ele se debata na hora da degola e prejudique a qualidade da carne. Segundo os árabes, esse choque mata o frango, embora os brasileiros defendam que ela permanece viva para a degola, respeitando as tradições muçulmanas.
No fim do mês passado, uma delegação brasileira visitou o país para tentar convencer os sauditas que o atordoamento das aves por choque elétrico antes do abate não mata o animal, mas o impasse seguiu. De toda forma, a autoridade local atendeu o pedido do secretário-executivo do Mapa, Eumar Novacki, e adiou até o 1º de maio a suspensão das importações para que sigam as discussões dos critérios.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as negociações para que se aceitem o atordoamento como método halal seguem. A entidade, em nota, destacou que o procedimento é usado no mundo inteiro, inclusive por produtores sauditas, como forma de priorizar bem estar do animal, sem abatê-lo.
“O Conselho Mundial da Avicultura (IPC, sigla em Inglês), inclusive, assumiu a posição global do método de atordoamento. É importante ressaltar que o Brasil sempre respeitou o halal, já que as aves estão vivas no momento do abate, apenas atordoadas. Testes foram feitos no Brasil, Estados Unidos e Itália, e provaram isto com 100% de retorno positivo”, disse a ABPA, no comunicado.
“O tempo é curto, mas as empresas brasileiras precisam correr para antecipar o embarque e a documentação para um prazo anterior ao dia 1º de maio”, disse Michel Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Ele aconselha os exportadores de carne de frango a também começar a se preparar para se adaptar às novas normas: “Acho difícil que os sauditas voltem atrás nessa decisão”, ponderou.
Segundo o executivo, o procedimento deverá ser tomado pensando inclusive no futuro. Ele acredita que a exigência do fim do atordoamento por choque elétrico passe também a ser adotada pelo Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), ampliando a nova forma de abate a todos os países da região da parte arábica do Golfo.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de janeiro a março a Arábia Saudita importou US$ 237,5 milhões em carne de frango brasileira, valor 24,8% inferior ao do mesmo período do ano passado. Em 2017, o mercado saudita foram foi o principal cliente externo da carne de frango brasileira, de acordo com a ABPA.