Riad – Empresários sauditas querem investir no agronegócio brasileiro e puderam saber mais detalhes do setor e da legislação do País, além de conhecer projetos na área, em seminário e rodadas de negócios realizadas na sede da Câmara de Comércio de Riad, na Arábia Saudita, nesta quarta-feira (17). Os empresários sauditas se encontraram com representantes do governo e de empresas do Brasil que integram delegação liderada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
“O Reino [da Arábia Saudita] prioriza as relações com países produtores de alimentos”, disse o vice-presidente da Câmara de Riad, Mansour Alshethri, na abertura do seminário. Ele destacou que produtos brasileiros, principalmente carnes, têm forte participação no mercado. “Isso mostra a confiança do consumidor saudita”, acrescentou.
“Este evento é um passo importante para os investimentos na área agrícola”, destacou o executivo da câmara saudita. “Este encontro visa estreitar estas relações [de comércio de produtos agropecuários] e visa também o estabelecido no plano Visão 2030 sobre a garantia da segurança alimentar”, afirmou.
O plano Visão 2030 é uma estratégia de longo prazo lançada no ano passado pelo governo saudita para modernizar a economia do país a diversificá-la para além da indústria petrolífera. A segurança alimentar tem importância especial, uma vez que a Arábia Saudita tem pouca água e não produz alimentos suficientes para abastecer sua população, tendo que importar a maior parte do que consome.
A estratégia do país é preservar os parcos recursos hídricos para consumo humano e investir em projetos agropecuários no exterior, garantindo o abastecimento de seu mercado.
“O objetivo desta viagem é ampliar os nossos negócios, mas também tem a intenção de agradecer ao Reino pela oportunidade que nos deu nos últimos anos para aumentar estas relações”, disse Maggi aos empresários sauditas. Ele deu detalhes sobre a produção agropecuária no Brasil e sua participação no mercado internacional.
O ministro informou que as exportações brasileiras para a Arábia Saudita somaram US$ 2,49 bilhões no ano passado, e as importações, US$ 1,3 bilhão. “Pelo tamanho de nossas economias, os números estão aquém de seu potencial e podem ser ampliados”, declarou. “Convidamos vocês a irem ao Brasil, frequentarem o Brasil, fazerem negócios no Brasil, porque temos muitas oportunidades”, acrescentou.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, que integra a delegação do Ministério da Agricultura, lembrou que a entidade que dirige assinou em 2009 um acordo de cooperação com a Câmara de Riad. “A partir deste acordo, a corrente de comércio entre os dois países teve um aumento importante, praticamente dobrando nos anos seguintes”, ressaltou. “No setor de alimentos, o crescimento foi significativo”, contou.
Com a estratégia saudita de investir em projetos agropecuários no exterior, Hannun disse que “agora é o momento de dar um novo impulso” aos negócios. “Temos confiança de que o momento para este avanço chegou”, declarou. Ele convidou os empresários sauditas a organizar uma missão ao Brasil para ver de perto a produção nacional e avaliar oportunidades de investimentos.
O vice-presidente da Câmara de Riad respondeu que “inchallah” (“se Deus quiser”, termo muito usado na nação árabe) a entidade organizará uma missão empresarial ao Brasil e passou a palavra ao presidente do Comitê de Agricultura e Segurança Alimentar da instituição, Majed Hamad Al Khamees, que confirmou o interesse em promover a viagem de uma delegação em busca de projetos para investimento.
Khamees defendeu também a criação de um conselho empresarial Brasil-Arábia Saudita. “Devido à intensidade de nosso comércio, o conselho é fundamental para dar continuidade e aumentar as relações comerciais”, afirmou.
Hannun concordou que está na hora de se criar este conselho e que a Câmara Árabe vai trabalhar com a embaixada do Brasil em Riad para formar a parte brasileira do colegiado.
O embaixador brasileiro na Arábia Saudita, Flávio Marega, informou que o Brasil negocia atualmente uma série de acordos com o governo saudita, como um tratado para aumentar para cinco anos o prazo de vistos para viagens de negócios, um Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI), outro entre o departamento alfandegário saudita e a Receita Federal do Brasil, um documento sobre o uso pacífico da energia nuclear e ainda um memorando de entendimentos entre o Banco Central do Brasil e a Autoridade Monetária da Arábia Saudita (Sama, na sigla em inglês). “São acordos muito importantes para os negócios”, observou o diplomata.
Maggi acrescentou que o Ministério da Agricultura irá nomear em breve um adido agrícola para a embaixada, profissional que vai se dedicar exclusivamente às eventuais demandas e conflitos na área.
O ministro disse ainda que o governo brasileiro enviará ao Congresso Nacional uma proposta de mudança na legislação para permitir a compra de área rurais por estrangeiros.
Após o seminário, os empresários brasileiros se reuniram com os sauditas em rodada de negócios para apresentar seus projetos de investimentos.
Reuniões
Mais tarde, Maggi teve uma reunião e um almoço com o ministro da Agricultura da Arábia Saudita, Abdulrahman Al Fadly, e foi recebido na Autoridade Saudita para Alimentos e Drogas (SFDA, na sigla em inglês) pelo CEO da instituição, Hisham Al Jaddaei. Uma missão da SFDA visitou recentemente o Brasil para inspecionar frigoríficos.
Na véspera, o ministro teve um encontro com representantes da Companhia Saudita de Investimentos em Agricultura e Pecuária (Salic, na sigla em inglês), mantida pelo Fundo Público de Investimentos do país. A Salic já tem investimentos no Brasil – possui, por exemplo, participação acionária no frigorífico Minerva – e está interessada no setor de grãos.