Alexandre Rocha
São Paulo – Incentivar a cooperação técnica entre os árabes e sul-americanos não é o único objetivo do seminário internacional sobre o semi-árido e recursos hídricos, que começou ontem (29) em Fortaleza (CE) com especialistas de 14 países das duas regiões. Durante o evento, que termina amanhã, os participantes pretendem identificar áreas para o desenvolvimento de projetos científicos e tecnológicos conjuntos e possibilidades de investimentos recíprocos.
"A idéia é identificar áreas de cooperação em que possam ser criadas novidades. Ou seja, não se trata apenas de parcerias técnicas entre regiões que têm características climáticas semelhantes, mas de incentivar projetos comuns nas áreas científica e tecnológica, inclusive com o desenvolvimento de produtos", disse o diretor do departamento de ciência e tecnologia do Itamaraty, Antonino Marques Porto.
Embora os investimentos recíprocos sejam tema para outro evento, os participantes não descartam que possibilidades concretas surjam durante o seminário de Fortaleza. "Quando falamos de cooperação científica e tecnológica, é óbvio que isso pode envolver investimentos, que são sempre muito bem vindos", afirmou Marques Porto. "Pode haver investimentos, com agregação de valor tecnológico, tanto lá quanto aqui", acrescentou o secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Edinardo Rodrigues.
O seminário, organizado pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo governo do Ceará e pelo Banco do Nordeste, é um dos eventos preparatórios à reunião de cúpula dos chefes de estado árabes e sul-americanos, programada para ocorrer em maio de 2005.
Setores
Algumas áreas passíveis de cooperação já começaram a ser discutidas ontem. Como exemplo, Marques Porto citou a utilização da biotecnologia para o desenvolvimento de plantas resistentes à seca e pragas, assunto de um dos painéis, do qual participaram representantes do Brasil, Paraguai, Chile, Egito, Argélia e Síria.
"Há grande convergência na área, no que diz respeito, por exemplo, às lavouras de algodão e trigo. Existem diversas experiências fortes, dos dois lados, que podem ser unidas e gerar coisas novas", afirmou o diplomata.
Já Rodrigues citou projetos em execução ou em estudo no Ceará que podem servir de base para parcerias, como o aproveitamento de solos férteis pela agricultura irrigada, transferência ou transposição de águas, revitalização de áreas degradadas, preservação do meio ambiente, combate à desertificação, aqüicultura, previsão do clima, reuso da água, dessalinização da água do mar e gestão dos recursos hídricos.
"São ações que têm como objetivos a convivência com o semi-árido e a busca do desenvolvimento sustentável", disse o secretário. "O clima e a fertilidade do solo nesse tipo de região podem favorecer, por exemplo, o desenvolvimento do plantio de uma série de frutas com o uso de irrigação",afirmou. Entre as frutas que estão sendo cultivadas com sucesso no Ceará ele citou a banana, a manga e o melão.
Rodrigues disse que o Ceará tem muito a oferecer na área de gestão, com a experiência da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), criada em 1993 para cuidar do gerenciamento da distribuição de água para todos os usuários do estado, sejam residências, indústrias ou agricultura.
"Noventa por cento da área do Ceará é coberta pelo semi-árido. Há 12 anos era o pior estado do nordeste em termos de recursos hídricos e não temos, ou não tínhamos, rios perenes. A companhia administra todos os mananciais e faz a distribuição das águas, por meio de uma gestão participativa junto com comitês de bacias. Hoje ela gerencia 132 barragens estratégicas, temos uma capacidade de acumulação de 17 bilhões de metros cúbicos de água e 2,6 mil quilômetros de rios perenizados", garantiu.
No estado existe também o projeto de construção de uma usina de dessalinização da água do mar, processo conhecido e utilizado nos países árabes. "Este projeto está em estudo. Em alguns anos a demanda poderá crescer a uma escala que compense o empreendimento", declarou o secretário. "Existem projetos também de pequenas centrais hidrelétricas", acrescentou.
Livro
Os resultados do seminário serão detalhados em um documento que servirá para criar a pauta da cúpula dos chefes de estado árabes e sul-americanos. Marques Porto acrescentou que o conteúdo do relatório deve ser transformado em livro, a ser publicado em breve.
De acordo com ele, a preparação da pauta para a cúpula é baseada em cinco pilares: A cultura, e um seminário sobre o assunto foi realizado em São Paulo há duas semanas; ciência e tecnologia, temas tratados no evento em Fortaleza; sociedade da informação e inclusão digital; coordenação para atuação junto aos organismos internacionais; e promoção de investimentos e do comércio.

