Alexandre Rocha
São Paulo – A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) prevê um crescimento de 10% nas exportações do setor para este ano, segundo informou ontem (10) o presidente da entidade, Luiz Carlos Delben leite. Em 2003 as vendas externas somaram o equivalente a US$ 4,9 bilhões, contra US$ 3,7 bilhões em 2002. A previsão para 2004, então, é menor do que o aumento registrado no ano passado, que foi de 33,5%.
“O aumento de 10% em 2004 não será tão vigoroso quanto o de 2003. Mas as exportações são fundamentais para que o setor alcance uma escala de produção que lhe garanta competitividade”, afirmou o presidente da Abimaq.
As exportações foram justamente o fator que garantiu que o faturamento do setor continuasse em 2003 nos mesmos patamares de 2002, já que houve uma queda no consumo interno, de acordo com Delben leite. A balança comercial do setor, porém, continua deficitária. As importações somaram no ano passado o equivalente a quase US$ 5,8 bilhões em máquinas e equipamentos.
Houve, no entanto, uma redução de 6,4% nas importações na comparação com 2002. O déficit registrado em 2003 é bem menor do que o de 2002, US$ 853 milhões contra quase US$ 2,5 bilhões. Delben Leite disse que, apesar da retração recente, a indústria nacional de máquinas e equipamentos vem aumentando sua participação no mercado interno. Hoje as importações correspondem a 37% dos produtos deste tipo consumidos no país, quando no passado já chegaram a mais de 61%.
Ele acrescentou, porém, que apesar de previsão de crescimento de 10% nas exportações, o déficit na balança de 2004 deverá ser semelhante ao de 2003. Isto porque se forem confirmadas as expectativas de crescimento da economia deverá haver também um aumento nas importações de bens de capital.
Faturamento
No ano passado a indústria brasileira de máquinas e equipamentos faturou R$ 34,9 bilhões, ante os R$ 34,2 bilhões registrados em 2002. Houve um aumento nominal de 2,1%, mas em termos reais, descontada a inflação do ano, ocorreu uma queda de 9,6% no faturamento, segundo Delben leite.
A queda no consumo interno de bens de capital em 2003 foi de 7,8%. Esse cálculo leva em conta a produção nacional, mais as importações, subtraídas as exportações. No ano passado, tal consumo ficou em R$ 36,89 bilhões, contra os R$ 40,02 bilhões registrados em 2002.
Para este ano, se confirmadas as perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país de 3,5% a 4%, Delben Leite acredita que o faturamento global do setor vai aumentar em 6% em termos reais. “Isso ainda não permitirá que alcancemos o resultado de 2002”, afirmou o executivo.
Dentro desse quadro, em que as exportações crescem mais do que a demanda interna, o setor pretende continuar trabalhando na conquista do mercado externo. Se hoje as exportações correspondem a 44% das receitas deste indústria, a meta, segundo o presidente da Abimaq, é atingir o percentual de 50% “em alguns anos”, cerca de cinco anos, provavelmente.
“Não podemos nos dar ao luxo de sair do mercado externo a qualquer momento, como ocorre no mercado de commodities, no qual quem manda é o preço. O comércio internacional não pode ser apenas uma opção quando o mercado interno está ruim, porque quando você sai, você perde o lugar. Se sair não volta mais”, afirmou Delben Leite.
Ele acrescentou ainda que o investimento necessário para a promoção das exportações é muito grande, o que impede um recuo no esforço exportador, e o Brasil ainda não tem a imagem de um país que desenvolve tecnologias avançadas. “Nós precisamos provar que temos essa capacidade. A Alemanha, por exemplo, não precisa”, ressaltou, garantindo que o setor tem condições de produzir para atender a aumentos na demanda tanto no mercado interno, como no mercado externo.
Incentivos às exportações
Delben Leite citou alguns fatores que auxiliaram o crescimento das vendas externas em 2003. Em primeiro lugar, disse ele, após a adoção do câmbio flutuante no início de 1999, as empresas passaram a buscar com mais empenho o mercado externo, já que a desvalorização do real frente ao dólar garantiu aos produtos brasileiros preços mais competitivos.
Em segundo lugar, de acordo com o executivo, colaboram atualmente para as exportações a “qualidade dos produtos”, as condições de financiamento, a competitividade dos preços, e programas de incentivo ao comércio exterior, como o Proex (Programa de Financiamento às Exportações) e outros desenvolvidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Ele citou também a realização de missões comerciais e a participação de empresas do setor em feiras de negócios no exterior. Delben Leite disse ainda que um convênio firmado com a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) vem permitindo às pequenas e médias empresas uma maior participação nas exportações do setor.
Por último ele destacou as ações do governo federal na busca por mercados alternativos, impulsionadas pelas viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros ao exterior. “Essas viagens ajudam a criar uma aproximação maior entre os mercados, a derrubar barreiras e estimulam as exportações”, afirmou.
Mercados
Houve pouca alteração, de acordo com o executivo, na lista dos principais mercados das máquinas e equipamentos do Brasil. Em primeiro lugar aparecem os Estados Unidos, que importaram o equivalente a US$ 1,4 bilhão, um crescimento de 18,9% na comparação com 2002, seguidos da Argentina (US$ 459 milhões, 192,7% a mais), Alemanha (US$ 390 milhões, 27% de aumento), Reino Unido (US$ 310 milhões, 23,2% de crescimento), México (US$ 299 milhões, 13% a mais), Itália (US$ 184,49 milhões, 67,1% de aumento) e China (US$ 180,05 milhões, 89,6% de crescimento).
Apesar do crescimento expressivo registrado nas vendas para a Argentina entre 2002 e 2003, na verdade elas já foram bem maiores, chegaram a US$ 800 milhões antes da crise econômica pela qual passou o país vizinho, de acordo com Delben Leite. Ele ressaltou também os aumentos significativos nas vendas para a China e para a Itália.
Segundo informações da Abimaq, foram importantes também em 2003 as vendas para mercados novos, como a África do Sul, Japão, Holanda, Austrália, Eslovênia e, entre os países árabes, a Arábia Saudita.
Árabes
Delben Leite disse que as exportações do setor para os árabes ainda são pequenas, mas ele declarou que são boas as expectativas de crescimento. “Vários desses países são grandes produtores de petróleo, com grande capacidade de financiamento e com necessidades significativas de máquinas e equipamentos”, afirmou.
De acordo com ele, o mercado árabe hoje é abastecido desses produtos principalmente por países europeus e pelos EUA. No entanto, ele disse que a região é “pouco visada” por tais fornecedores, o que pode permitir o avanço das empresas brasileiras.
O executivo acrescentou que representantes do setor participaram de missões e feiras na região em 2002 e 2003, como a Saudi Agriculture, realizada em setembro em Riad, capital da Arábia Saudita. “Nossa esperança é de que possamos desenvolver de forma expressiva esse mercado nos próximos anos”, declarou. Foi realizado também em 2003 o seminário Oportunidade de Exportação para a Arábia Saudita e Portugal.
Mundo
Apesar do crescimento das exportações, as empresas brasileiras apenas arranham o mercado internacional de máquinas e equipamentos, que movimenta anualmente, de acordo com Delben Leite, cerca de US$ 1 trilhão.
Os maiores países produtores do setor, segundo a Abimaq, são os EUA, que respondem por 34,7% da produção mundial, seguidos do Japão (23,7%) e da Alemanha (12,5%). Esta última exporta 50% de sua produção.
Ainda de acordo com a associação, o Brasil está em 10º lugar no ranking dos fabricantes, com 1,5% da produção global. Delben Leite ressaltou que são poucas as nações produtoras desse tipo de produto, não chegam nem a 20.
Empregos
Se houve uma queda real no faturamento do setor em 2003, o mesmo não pode ser dito do nível de emprego, que cresceu 4,5% no ano, segundo a Abimaq. Em dezembro do ano passado essa indústria empregava 183.254 funcionários, contra 175.315 em dezembro de 2002. Delben Leite acredita que o segmento deverá continuar a contratar este ano, com um crescimento de 2,5% a 3% no nível de emprego.
Ainda segundo a Abimaq, as áreas que mais cresceram dentro do setor em 2003 fora as de máquinas-ferramenta (tornos, guilhotinas para aço, etc.) com 45,6% de aumento no faturamento, máquinas e implementos agrícolas (42,6%), máquinas e equipamentos para madeira (40%), equipamentos de hidráulica e pneumática (18,5%) e válvulas industriais (17,6%).
Para 2004, Delben Leite aposta no crescimento dos segmentos de máquinas e equipamentos para a indústria do petróleo e de máquinas agrícolas.
Na outra ponta, as áreas que registraram as maiores quedas em 2003 foram as de mecânica pesada (-34%), máquinas gráficas (-9,3%) e máquinas para a indústria do plástico (-5,4%).
A Abimaq conta com 1,4 mil empresas associadas. Destas, 80% são de pequeno e médio porte e 20% são grandes companhias. O capital do setor é 80% nacional e 20% estrangeiro.