Alexandre Rocha
São Paulo – O setor têxtil brasileiro traçou como meta para 2004 exportar o equivalente a US$ 2 bilhões. Número que, se confirmado, representará um aumento de 18% em relação às receitas cambiais provenientes dos embarques de 2003, que foram de US$ 1,7 bilhão, já 40% superiores ao resultado de 2002, segundo informou o diretor de operações da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Rossildo Faria.
De acordo com o diretor, o valor registrado no ano passado foi recorde para o segmento, e o superávit gerado na balança comercial, de US$ 600 milhões, foi o melhor dos últimos 11 anos. A expectativa é de que o saldo chegue a US$ 700 milhões este ano.
“Esse aumento (de 2003) mostra a competitividade do setor, pois não foi um crescimento localizado, mas globalizado. Aumentamos nossas exportações para vários mercados, como o dos Estados Unidos, América Latina, Europa, Canadá, Ásia e África e em várias categorias de produtos”, afirmou Faria.
Promoção e “sensibilização"
Para atingir a meta definida para 2004, o setor vai investir em duas frentes: na promoção comercial, com a prospecção de mercados, participação em feiras internacionais e missões comerciais e, principalmente, no trabalho de “sensibilização e capacitação” de empresas para que elas entrem no mercado internacional.
“Precisamos exportar mais, gerar divisas e empregos, e um dos caminhos para isso é aumentar a base, o horizonte exportador. Mas isso tem que ser feito de forma criteriosa. Se a empresa for para fora despreparada, há um risco para ela, pois pode se frustrar, e há um risco também para a imagem do Brasil e do setor”, declarou o diretor da Abit.
A indústria têxtil, segundo Faria, já vem investindo forte em promoção comercial, com o apoio da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex). Segundo ele, representantes do segmento participaram de quase 40 feiras no exterior em 2003, e mais está sendo programado para este ano.
Além da promoção, o diretor disse que a qualidade dos produtos e a competitividade da indústria foram outros fatores que possibilitaram o crescimento recorde das exportações no ano passado. “O esforço da promoção comercial serve para mostrar o Brasil lá fora e exibir a capacidade que o país tem de atender às demandas do mercado”, acrescentou.
As principais mercadorias embarcadas em 2003, segundo o executivo, foram jeans, moda praia, moda íntima, confecções e malharia em geral, moda infantil além de artigos de cama, mesa e banho “que já são uma tradição brasileira”.
Mercados alternativos e tradicionais
Com relação aos principais mercados, em primeiro lugar vêm os Estados Unidos, que absorvem 30% das exportações brasileiras, seguidos da Argentina e da União Européia. “O restante ficou distribuído por várias regiões”, disse Faria. Hoje o setor exporta para mais de 120 países.
Para 2004, a estratégia da indústria é investir em mercados alternativos, mas sem deixar de investir nos destinos já consolidados. Entre esses novos clientes o diretor da Abit citou como prioridades os países árabes e o Oriente Médio em geral, a Rússia e a África.
Oriente Médio: investimento
A indústria têxtil brasileira já exporta para o Oriente Médio, mas a quantidade ainda é pequena em comparação com o total das vendas externas. No ano passado foram embarcadas quase 8 mil toneladas de produtos têxteis para a região, o que gerou receitas de US$ 15 milhões.
Já houve um crescimento expressivo em relação a 2002, quando pouco mais de 3 mil toneladas foram exportadas a US$ 8,2 milhões, apesar de o preço médio dos produtos destinados a esse mercado ter caído de US$ 2,73 para US$ 1,89 por quilo no período.
“Nossas vendas para os países árabes ainda são tímidas, mas vamos intensificar nosso trabalho de promoção. Sabemos que temos chance nessa região, que tem capacidade de absorver nossos produtos com algumas modificações por causa de questões culturais e de mercado”, afirmou Faria.
De acordo com o diretor, o setor só não vende mais hoje para os árabes por falta de uma ação mais agressiva por parte dos exportadores. Mas Faria garante que isso começará a ocorrer de forma mais incisiva a partir deste ano, com a participação em eventos e missões comercias e com convites para que empresários da região venham conhecer as empresas brasileiras. Além disso, está nos planos da Abit a contração de uma companhia especializada para prospectar o mercado árabe.
Política industrial
De olho em outros instrumentos que podem auxiliar as vendas externas da indústria têxtil, Faria comentou também as medidas de apoio às exportações e de política industrial anunciadas pelo governo no final do ano passado e início deste. Entre elas, ele citou a redução de impostos para compra de uma gama de bens de capital (máquinas, equipamentos, insumos etc.) como uma das mais importantes.
“O que o país precisa é de geração de empregos, com o crescimento da economia e melhoria do parque industrial, por isso é importante facilitar o acesso aos bens de capital, pois o custo do dinheiro (para financiamentos) no Brasil é muito alto e ainda inibe a compra desses produtos”, afirmou. Apesar disso, ele disse que o setor investiu US$ 1 bilhão ao ano, nos últimos oito anos, na melhoria de seu parque industrial.
Faria acrescentou que a Abit entende que o setor têxtil é estratégico, pois tem uma cadeia produtiva muito longa e grande capacidade de geração de empregos, principalmente no setor de confecções. “Os recursos financeiros no Brasil são escassos, mas há mão de obra em abundância”, ressaltou.
O diretor elogiou também o fim das limitações de uso do Convênio de Crédito Recíproco (CCR), que é um instrumento pelo qual os pagamentos das exportações e importações entre países que têm acordo bilateral com o Brasil podem ser feitos via Banco Central, e as medidas para diminuição da burocracia, com a consolidação de uma séria de normas.
Neste último ponto, porém, Faria acredita que falta fazer muito. Segundo ele, são vários os ministérios e órgãos que se envolvem no comércio exterior, quando isso deveria ser totalmente centralizado. “O governo reconhece esta necessidade, pois isso significa aumentar a competitividade do país”, declarou. “É preciso diminuir a interferência de tantos órgãos”, completou.
Ele acrescentou também que a logística de operação dos portos brasileiros ainda é lenta e onerosa, “se comparada com outros países que atuam com força no comércio internacional”. “O mundo hoje requer maior rapidez em tudo”, afirmou.
“Não estão faltando produtos no mundo. A única maneira de se conseguir espaço é deslocando alguém, e para isso é preciso estar muito competitivo. E competitividade não é só preço e qualidade, mas também agilidade no transporte e na obtenção da documentação necessária, além de custos menores de logística”, destacou Faria.
Faria fez essas considerações olhando para o fato de que vários setores da economia brasileira, entre eles a indústria têxtil, apesar de apresentarem crescimento expressivo em suas exportações, ainda estão começando a se internacionalizar e precisam de apoio.
Perfil
Prova disso, segundo o diretor, é que a diferença entre as receitas das vendas externas e o faturamento global do setor têxtil ainda é enorme. Em 2003 o segmento faturou o equivalente a US$ 23 bilhões, ou seja, as exportações não representaram nem 8% disso. O lado positivo, no entanto, é que, na opinião de Faria, essa diferença nos números mostra que ainda há bastante espaço para crescer.
A cadeia produtiva do setor têxtil é a segunda maior geradora de postos de trabalho no país, empregando, de acordo com Faria, 1,5 milhão de pessoas – fica atrás apenas do agronegócio.
A cadeia é longa: vai desde os produtores de algodão e fibras sintéticas, passando pelas fiações, depois tecelagens, beneficiadoras de tecidos (tingimento, estamparia etc.), indústria de aviamentos, até chegar nas confecções, que são as maiores empregadoras e que vendem os produtos de maior valor agregado.
Das 30 mil empresas que fazem parte desse segmento, segundo a Abit, 25 mil são confecções. Por isso, de acordo com Faria, a associação está empenhada principalmente em promover as exportações dos produtos de confecção.

