São Paulo – A nova embaixadora da Síria em Brasília, Rania Al Haj Ali, esteve na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira em São Paulo nesta sexta-feira (24), onde se reuniu com o presidente da entidade, o embaixador Osmar Chohfi, e almoçou com representantes das entidades da campanha Juntos pela Síria, que irá doar equipamentos médicos e remédios para o país árabe.
Em entrevista à ANBA, Rania disse que sua principal meta no País é estreitar relações entre o Brasil e a Síria em todos os setores, econômico, cultural, científico, educacional, e toda e qualquer área em que os países possam colaborar.
Este é seu primeiro posto como embaixadora, e a diplomata também é a primeira embaixadora mulher da Síria a assumir o posto em Brasília. Rania Al Haj Ali chegou no Brasil em novembro de 2022 e deve permanecer aqui por quatro anos.
Rania fez parte da delegação permanente da Síria na Organização das Nações Unidas em Nova York; trabalhou como chefe da missão na embaixada da Síria em Tóquio, no Japão; e na missão permanente da Síria nas Nações Unidas em Genebra, na Suíça. Entre novembro de 2021 a novembro de 2022, ela foi diretora do departamento de Organizações Internacionais em Damasco, na Síria, dentro do Ministério das Relações Exteriores, e foi a primeira mulher a comandar o departamento.
Sobre a ajuda humanitária à Síria, a diplomata disse que o Brasil está fazendo sua parte, tanto da parte do governo quanto da sociedade civil que tem laços com a Síria. “Eu gostaria que essa ajuda tivesse chegado antes, porque o terremoto foi dia 06 de fevereiro, mas entendo que há questões legais e logísticas principalmente quanto a medicamentos”, disse.
Segundo ela, o terremoto foi um desastre natural devastador que afetou severamente quatro províncias, Aleppo, Hama, Idlib e Latakia. “As pessoas afetadas são centenas de milhares. Há milhares de mortos, mas não temos um número exato. E há mais de 300 mil pessoas deslocadas de suas casas. Isso antes do segundo terremoto, agora já deve ter mais”, disse a embaixadora.
A diplomata contou que a vida na Síria vem sendo muito afetada e com recursos escassos há anos, muito antes do terremoto, por causa das sanções unilaterais que dificultam o acesso a itens essenciais vindos de outros países. “Infelizmente as sanções afetam a assistência humanitária, recebemos ajuda de alguns países vizinhos, países árabes, países amigos”, disse.
A Síria não tem o maquinário pesado, como escavadeiras e macacos hidráulicos, para remover os escombros e procurar pelos desaparecidos, disse Rania. Ela contou que há uma escassez de combustível, de equipamentos médicos, medicamentos, alimentos, itens de higiene, roupas, cobertores e tudo o que as pessoas deslocadas que perderam tudo precisam.
Os primeiros países a enviar ajuda humanitária à Síria foram Iraque, Argélia e Irã. Ajudaram também os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Rússia, China, Jordânia, Tunísia, Egito, Líbano, Indonésia, Índia, Paquistão e Japão, além da assistência das Nações Unidas e de outras ONGs. O Brasil irá enviar alimentos, purificadores de água e medicamentos nos próximos dias. “Cada país está ajudando de acordo com as suas possibilidades, e mesmo países que também estão sofrendo por outras questões estão ajudando”, disse.
A Turquia está recebendo ajuda de mais de 100 países. “Eu entendo o sofrimento na Turquia, mas eles estão recebendo muito mais assistência do que a Síria. Claro que simpatizamos com a Turquia, porque estamos no mesmo barco, mas lá eles não estão sujeitos a uma sanção unilateral e não estavam em crise pelos últimos 12 anos”, declarou Rania.
Comércio
O Brasil exportou para a Síria cerca de US$ 17 milhões no ano passado, sendo 93% em café. Já a Síria vendeu ao Brasil US$ 3 milhões, principalmente em fertilizante fosfato de cálcio. “Nossa porcentagem é humilde, e há uma retração porque [a exportação da Síria ao Brasil] já foi muito maior, principalmente antes de 2011. Os empresários são cautelosos porque sabem das sanções, mas para mim nada é impossível”, disse Rania.
A Síria tem muitas oportunidades para as empresas brasileiras, principalmente nos setores de infraestrutura, energia e na exploração de gás natural na costa do país, contou a embaixadora. “Há muitas formas de reviver esse comércio, o potencial está lá. Precisamos reconstruir nosso país e espero que os empresários brasileiros sejam parte dessa reconstrução e ajudem a balança comercial a ser mais equilibrada”, declarou a embaixadora.