Marina Sarruf
São Paulo – O Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, vai realizar a primeira cirurgia do mundo em seres humanos para a implantação de braços robóticos que se movimentam por sinais cerebrais. O acordo para a realização do trabalho foi feito no mês passado com a Associação Santos Dumont de Apoio à Pesquisa. A cirurgia está prevista para ocorrer em três anos.
"Essa é uma questão inovadora, que vai trazer um grande avanço", afirmou o superintendente corporativo do hospital, Mauricio Ceschin. De acordo com ele, essa foi uma grande descoberta que vem sendo desenvolvida pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e coordenada pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que é diretor do Laboratório de Neurociências da universidade e criador da Associação Santos Dumont.
Segundo Ceschin, a técnica consiste na implantação de um microchip no cérebro humano que irá traduzir os impulsos nervosos em impulsos elétricos, permitindo que o paciente movimente uma prótese robótica.
Na Universidade de Duke foram feitos testes em macacos que tiveram eletrodos implantados em regiões do cérebro associadas aos movimentos. Os animais passaram por uma experiência na qual tinham que controlar um joystick e acompanhar a trajetória de um cursor na tela de um computador. Os movimentos do cursor eram transmitidos a um braço robótico que estava instalado em uma sala em frente onde estava o macaco.
O segundo passo foi retirar o joystick do animal, que após um tempo percebeu que o cursor era movido por ordens cerebrais, como se fosse uma extensão de seu próprio corpo. Nicolelis acredita que o cérebro adulto tem uma capacidade de adaptação tão grande que permite incorporar um membro externo.
No Brasil
De acordo com Ceschin, até a realização da primeira cirurgia de implantes de braços robóticos movimentados por sinais cerebrais, o Instituto de Ensino e Pesquisa do Sírio-Libanês terá um laboratório voltado para pesquisas em neurociência, onde novos testes serão feitos até a primeira cirurgia.
O superintendente também disse que uma equipe de neurocirurgiões do hospital é que vai se preparar para aplicar a nova técnica. "Ainda vai levar de dois a três anos para que novos testes em animais sejam concluídos. Os médicos precisam se sentir seguros", disse.
Nicolelis fundou a Associação Santos Dumont de Apoio à Pesquisa para representar esse novo projeto no Brasil. Ele criou uma rede internacional de institutos de neurociência, com sede na Suíça, e o hospital Sírio-Libanês faz parte dessa parceria, junto com centros dos Estados Unidos, Jerusalém, Japão e de Natal, no Rio Grande do Norte, onde o projeto ainda está em desenvolvimento.
O mentor
Miguel Ângelo Laporta Nicolelis nasceu em São Paulo, é formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), onde também fez doutorado em neurofisiologia. Nicolelis ainda fez pós-doutorado na Hahnemann University, na Filadélfia, Estados Unidos.
Atualmente Nicolelis dirige o laboratório de neurociências da Duke University, que é considerado o maior laboratório do setor do mundo. Na mesma universidade ele é professor titular de Neurobiologia e Engenharia Biomédica, e co-diretor do Centro de Neuroengenharia.
A Duke University fica na cidade de Durham, na Carolina do Norte e sua história começou em 1838, quando era uma escola rural. Atualmente, a universidade é uma das principais instituições de ensino, pesquisa e cuidados médicos do mundo.

