São Paulo – A certificação halal além das fronteiras foi o tema tratado pelo orador principal do segundo dia do fórum de negócios Global Halal Brazil. “Um sistema halal mundial se tornou uma necessidade para muçulmanos e mundo”, apontou Saeed Hayek (foto acima), gerente de qualidade na Conselho Islâmico de Alimentação e Nutrição da América (Ifanca, da sigla em inglês).
Participando de forma remota, Hayek frisou que hoje a maior parte das autoridades no mundo halal ainda não permitem a certificação além das fronteiras. “É estranho pensar que as autoridades não concordem com um padrão único. Elas não chegam a um consenso. Mas quando falamos de certificação transfronteiriça elas tendem a não aceitar. As autoridades devem se concentrar em atender as exigências halal em termos de qualidade e não se restringir às fronteiras”, argumentou ele.
O executivo avalia que a barreira na unificação pode vir de uma questão de segurança, mas que da perspectiva do consumidor, a certificação transfronteiriça é aceita.
Para Hayek, um padrão único deve trazer menos custo e mais eficácia ao setor. “Vimos fabricantes deixando de ser halal pela complexidade. Precisar ser certificado por cinco entidades diferentes, é coisa demais. Eles primeiro estão buscando o sigilo. Se cada país exige uma coisa diferente, as informações podem vazar. Essa é a percepção da indústria sobre o sistema internacional”, declarou.
Entre as vantagens da unificação estariam o treinamento uniforme entre todas as equipes, a maior familiaridade da empresa que faz a certificação com quem a atende, e a maior confiança do consumidor naquela métrica.
O executivo lembra que em uma cadeia globalmente organizada como a dos dias atuais a unificação das normas é o caminho para conseguir rastrear cada componente de um produto. “Estamos em um mundo globalizado. Rastreamos os produtos do campo até a mesa. No halal também precisamos criar um reconhecimento internacional. É isso que vai nos permitir fazer o rastreio do campo até a mesa”, concluiu ele, acrescentando que unificação não está limitada aos alimentos. Chega até produtos cosméticos, de higiene pessoal, farmacêuticos e até produtos pessoais e para casa.
Golfo e Ásia
Já no painel ‘Acreditadoras e Regulamentadoras – Golfo e Ásia’, a questão da padronização também foi pauta. Os órgãos de acreditação reconhecem as certificadoras que podem emitir o documento halal para empresas ao redor do mundo. “A padronização é muito importante para o mundo todo. Poderíamos falar disso por horas”, afirmou Nizar El Ghandour, diretor da Área Internacional da Fambras Halal, que moderou a conversa.
O chefe da Seção de Registro do Departamento Nacional de Acreditação do Ministério da Indústria e Tecnologia Avançada dos Emirados Árabes Unidos, Abdulla Al Ali, também citou a importância de reunir as entidades para conseguir um modelo internacional. “O melhor elemento para atingirmos a harmonização é nos concentramos nos pontos fortes”, afirmou Ali.
Para trazer o ponto de vista de nações da Ásia, Muhammad Naim Mohd Aziz, diretor assistente sênior do Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia (JAKIM) contou sobre a iniciativa da instituição, que atuou na introdução das certificações halal na região. “Passou-se mais de 40 anos desde o início. Estamos entrando na fase digital, de uma explosão de revoluções industriais. Agora tudo depende do acesso a informações rápidas e precisas”, lembrou.
Para Aziz, monitorar e aprimorar os processos são essenciais. “Nosso papel passará por uma melhoria contínua, levando em consideração as necessidades da revolução industrial. Precisamos sempre revisitar a formulação das nossas normas e pensar em como podemos melhor manter esse sistema”, declarou.
Da Indonésia, falou Muti Arintawati, diretora executiva da acreditadora internacional LPPOM MUI. A executiva explicou como a organização não-governamental atua junto a mais de 60 instituições do país. “Implementamos a certificação digital, base do halal na Indonésia. Somos apoiados por mais de mil auditores e representantes no exterior. Temos cooperação com 44 certificadores de 26 países, além de um laboratório halal certificado”, disse sobre o investimento em tecnologia que a entidade vem fazendo.
Amnah Shaari, vice-presidente da Câmara de Comércio Árabe Malaia, CEO e Fundadora do Serunai Commerce Sdn Bhd, também acredita que o setor deve seguir rumo a mais tecnologia e colaboração. “Como alguém do setor privado, esperamos ver uma cooperação maior a nível global”, disse ela.
Na Malásia, um aplicativo já é utilizado para tornar as informações acessíveis ao consumidor, explicou a executiva. Shaari espera que iniciativas como essa possam ser mais bem aproveitadas com um sistema universal. “Ter um padrão é muito importante. Nós sabemos que como temos diversos tipos de cultura em países muçulmanos, o sistema foi criado dessa forma. É muito importante porque todos devem aceitar quando entra um novo ingrediente. Ter mais pilares de padrões para dispositivos médicos [por exemplo]. Isso traz aceitação maior do público”, finalizou ela.
O fórum ocorre até esta quarta-feira (08) com o patrocínio da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), BRF, Pantanal Trading, Portonave e a Iceport. A apresentação é da jornalista Renata Maron. O evento pode ser acompanhado pelo site do evento mediante inscrição prévia ou pelo canal da Câmara Árabe no YouTube. Há tradução simultânea para o inglês e o português. O evento tem promoção da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal).
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Seção Fórum de Negócios Global Halal Brazil
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