São Paulo – A engenheira química Geisa de Magalhães Albuquerque Palhares não precisou de mais de um mês para voltar ao trabalho após uma pausa de mais ou menos um ano, tirada para se dedicar à família. “Conversei com os amigos e, em 30 dias, já estava empregada novamente, num empresa que presta serviços para a Petrobras”, conta ela. “O setor está aquecido e a empresa ainda está contratando engenheiros de todas as áreas”, afirma. “Quando eu estava na faculdade, no início dos anos 2000, não era assim”, diz. A empregabilidade de Geisa é um reflexo do bom momento pelo qual passa o setor de petróleo no Brasil. E uma prova de que o mercado de trabalho, para esses profissionais, cresce e só tende a avançar ainda mais nos próximos anos.
Ainda na universidade, cursando o 11º período de Engenharia do Petróleo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudante Talles do Couto Lemgruber Kropf compartilha da mesma empolgação com a carreira da engenheira que se recolocou no mercado em um mês. Além de ter “afinidade com as ciências exatas”, Kropf decidiu trabalhar com o ouro negro por conta das oportunidades mil que o setor oferece hoje. “Pesquisei quais as engenharias estavam mais em evidência e quais proporcionavam maiores oportunidades de trabalho e cursos fora do país. Gosto muito de viajar e queria conciliar isso com meu emprego”, explica.
Kropf não errou na escolha. “Fui aprovado no último concurso da Petrobras para engenheiro de petróleo e estou esperando ser convocado”, conta. “Pretendo trabalhar na área de poços, que considero dinâmica e prática. Quero trabalhar embarcado, apesar de todas as suas adversidades”, planeja.
Para o coordenador do curso de Engenharia do Petróleo da UFRJ, Alexandre Leiras, jovens como Kropf têm mesmo bons motivos para se entusiasmar com a profissão. “Quase a totalidade dos alunos formados conosco estão inseridos no mercado”, explica. Desde que a graduação começou a ser oferecida, em 2004, a procura, segundo Leiras, está na ordem de 25 candidatos por vaga. “Formamos, em média, 20 engenheiros do petróleo por ano, para os 30 que ingressam anualmente também”, diz. Entre as razões para tanta disputa está o fato de o curso ser considerado um dos melhores do país na área. “Na última avaliação do MEC, obtivemos nota 5, de no máximo 5! Somos uma referência”, afirma Leiras.
Para formar especialistas
Nessa linha, para abastecer melhor um mercado cuja demanda por especialistas é cada vez maior, foi criado, numa parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Petrobras, o Centro de Geociências Aplicadas ao Petróleo (Unespetro), no campus da instituição de ensino em Rio Claro, no interior de São Paulo.
A nova unidade ocupa uma área de dois mil metros quadrados e recebeu investimentos iniciais de R$ 10,5 milhões para construção do prédio, equipamentos e mobiliário. Desses, R$ 9,2 milhões vieram da Rede Tecnológica da Petrobras e R$ 1,3 milhão da Unesp.
“Temos cursos para estudantes (graduandos e pós-graduandos) e profissionais, com programas de educação continuada. Tais cursos estão ligados a convênios que a UNESP tem com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Petrobras”, explica o coordenador do Unespetro e professor da Unesp, Dimas Dias Brito.
Segundo Brito, o Unespetro é uma iniciativa importante no sentido de formar mão de obra especializada para o setor. “Há uma maior integração da academia com o setor industrial, com melhor infra-estrutura de pesquisas, oferta de cursos mais avançados e apoio financeiro aos estudantes na forma de bolsas”, explica.
Para o professor, há vagas tanto para “profissionais experientes e conhecedores da profissão” quanto para “novos talentos”. Se a carreira for de geólogo, a demanda é maior ainda. “Há uma escassez de jovens geólogos disponíveis para trabalhar. Isso se verifica principalmente na área da geologia do petróleo”, diz. “Os estudantes mal terminam o curso e já são absorvido pelas empresas. Isto inclusive está se refletindo nos programas de pós-graduação, que têm tido problemas para manter os estudantes”, afirma.
Das sondas à hotelaria
Também concebido para aumentar a qualificação de profissionais no setor, foi criado, em 2006, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp). Trata-se de uma iniciativa do governo federal, com coordenação do Ministério de Minas e Energia e patrocínio principalmente da Petrobras.
“Contemplamos mais de 185 categorias profissionais com nossos cursos e treinamentos”, explica o coordenador executivo do Prominp, José Renato Ferreira de Almeida. “Trabalhamos com mão de obra voltada para segurança, meio ambiente, saúde, planejamento, suprimentos e hotelaria, por exemplo”, diz.
Além de contemplar formações diversas, o Prominp tem por objetivo trabalhar em sintonia com as necessidades do setor. “Investigamos as lacunas relacionadas à qualificação na área e organizamos as nossas ações”, diz Almeida.
Assim, são oferecidos cursos gratuitos para profissionais de níveis básico, médio, técnico e superior que, de alguma forma, trabalham com petróleo e gás. Alunos desempregados recebem bolsa mensal entre R$ 300 e R$ 900, de acordo com o nível do curso. Para tanto, foram firmados convênios com 80 instituições de ensino de 17 estados do Brasil. “Já qualificamos 78 mil pessoas e vamos qualificar outras 212 mil até 2014”, explica Almeida.
Aos interessados em fazer parte desse grupo, o coordenador do Prominp informa que será aberto um novo processo de seleção pública para os cursos até o final do ano. As informações serão divulgadas no site do programa (www.prominp.com.br).
Outra dica boa: entre as categorias cuja demanda vai bombar ainda mais, Almeida destaca o trabalho dos operadores de sonda. “A frota de sondas não pára de crescer no país, falta gente para operar esses equipamentos”, afirma. “Mas o melhor é que as possibilidades no setor de petróleo e gás estão aí para pessoas de absolutamente todas as formações”, garante.
Difícil contestar o que ele diz num cenário em que, somente para 2011, a Petrobras prevê investimentos de US$ 93 bilhões. Em seu plano de negócios de 2010 a 2014, a petrolífera pretende utilizar US$ 224 bilhões para produzir petróleo mundo afora. E empregar, direta ou indiretamente, profissionais de todas as áreas.