Isaura Daniel
São Paulo – A Somália se tornou o quarto maior importador do Brasil entre os países árabes em fevereiro. O país africano comprou US$ 17,93 milhões em produtos brasileiros, valor 172% maior do que os US$ 6,5 milhões adquiridos no mesmo mês de 2005. Em fevereiro do ano passado, a Somália ocupava apenas o 12º lugar entre os importadores árabes e em 2005 como um todo o país africano foi o 18ª comprador.
O que impulsionou as exportações do Brasil para os somalis foi o açúcar. Do total importado pelo país no período, apenas US$ 5,6 mil não corresponderam ao produto. "Isso demonstra a competitividade brasileira no mercado de açúcar", diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby. De acordo com ele, o movimento já é um reflexo da queda dos subsídios europeus ao açúcar e sinaliza que os mercados da África, principalmente as ex-colônias européias, vão comprar mais do Brasil.
Em fevereiro, apenas Arábia Saudita, Egito e Emirados, entre os árabes, compraram mais do Brasil do que a Somália. Em janeiro e fevereiro deste ano, a Somália gastou US$ 23,2 milhões com produtos brasileiros, 146% a mais do que no mesmo período de 2005. No ano passado inteiro, o Brasil faturou US$ 44,9 milhões com exportações à Somália. Nos dois períodos, as compras foram basicamente de açúcar.
"Os somalis são compradores de commodities", diz Alaby. Apesar de ter 65% da sua economia atrelada à agricultura, a Somália importa vários tipos de commodities. Os produtores rurais locais trabalham apenas com criação de bovinos, ovelhas e cabras, e cultivo de bananas, sorgo, milho, coco, arroz, cana-de-açúcar, mangas, gergelim e feijão, além da pesca. O país mantém refinarias de açúcar, mas elas não têm uma produção volumosa. Tanto que o açúcar figura entre os principais produtos importados pelo país.
Grande parte da população economicamente ativa se mantém com a agricultura. A pecuária responde por 65% das exportações do país, de acordo com dados do governo norte-americano. O secretário-geral da Câmara Árabe acredita que o Brasil poderia vender também máquinas agrícolas à Somália. O país não tem petróleo, mas possui 2,8 bilhões de metros cúbicos de gás, o que rende exportações de US$ 241 milhões por ano. "O país tem gás natural, que é uma das energias alternativas que ganha cada vez mais importância no mundo", diz Alaby.
A indústria local, formada basicamente por processadoras de alimentos e fábricas têxteis, responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e o setor de serviços por 25%. O PIB da Somália é de cerca de US$ 4,8 bilhões e cresceu ao redor de 2,4% no ano passado. Os principais fornecedores internacionais da Somália são Djibuti, Quênia, Índia, Brasil, Omã e Emirados. Já os importadores de produtos somalis são Emirados Árabes Unidos, Iêmen e Omã. O país fatura ao redor de US$ 241 milhões com exportações por ano e gasta US$ 576 milhões com importações.
Anos difíceis
Vivem no país árabe 8,5 milhões de pessoas. Destas, porém, apenas 3,7 milhões compõem a força de trabalho. Os conflitos internos e também os problemas climáticos, como a seca, têm atrapalhado o avanço do país. A Somália está tentando sair de um período de cerca de 15 anos de guerra civil, deflagrado em 1991, quando grupos de rebeldes tiraram o ditador Siad Barre do poder.
Atualmente, a Somália possui um governo federal de transição que atua com a ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU). No ano passado foi eleito um parlamento, com 82 representantes, e também foi formada a primeira polícia nacional. Os parlamentares reuniram-se no final de fevereiro para discutir a composição de um governo definitivo.

