*Por Silvia Antibas
O Comitê Wahi “Mulheres que Inspiram”, da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, foi criado em 2020 para dar visibilidade ao protagonismo que muitas mulheres exercem e sempre exerceram no fortalecimento das relações entre o Brasil e os países da Liga Árabe.
O comitê existe, portanto, para valorizar o trabalho das muitas mulheres que ocupam posições de destaque não apenas em empresas que realizam negócios com os 22 países da entidade diplomática, mas também aquelas que se sobressaem ou se sobressaíram como beneméritas, profissionais liberais, ativistas, artistas, defensoras de causas e direitos humanos.
A Liga não forma um bloco unitário. Não podemos falar de uma mulher árabe, mas de uma diversidade de mulheres que contemplam culturas, tradições e modos de vida muito diferentes entre si. Mulheres do Oriente Médio, do Golfo, da África do Norte e da África Subsaariana. Somos brancas, pretas, pardas, loiras, morenas, ruivas, altas, baixas, cabelos crespos e lisos, muçulmanas, cristãs de todos os matizes, usamos véus, não usamos véus. Enfim, podemos dizer que refletimos um pouco a diversidade do Brasil e mundial. Talvez daí nossa total integração na sociedade brasileira.
A educação faz a grande diferença! Mesmo em países considerados mais restritivos para as mulheres, quando você estuda e tem uma profissão fica facilitada uma maior autonomia e um horizonte mais ampliado. E essa é uma grande diferença em todos os lugares do mundo, independentemente do gênero e da classe social. Prova disso é a jornalista iemenita Tawakul Karman, primeira mulher árabe a ganhar individualmente um prêmio Nobel. Em 2011, foi anunciada como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz por seu ativismo político, defendendo os direitos humanos em seu país. Sabemos que não é uma luta fácil travada por essas mulheres corajosas. Algumas são reconhecidas, mas muitas travam suas próprias batalhas no anonimato total, em silêncio.
Muitos países, principalmente os do Golfo, buscam hoje em dia, implementar uma série de reformas não só no sentido de abertura econômica, mas também de caráter cultural, necessárias, por exemplo, para que esses países sejam destinos capazes de acolher pessoas de todas as origens.
Conforme pesquisa realizada pela empresa H2R Insights & Trends, sob demanda da Câmara Árabe, as mulheres e os homens árabes atualmente estão sobrerrepresentados na educação superior no Brasil. Este fato nos dá a idéia do sucesso desse grupo imigratório e como as “nossas meninas” contribuíram para a evolução da sociedade brasileira.
Queremos destacar também as ações fundamentais das muitas mulheres que, mesmo sem ter tido a oportunidade de se formar nas universidades, mas atuantes em entidades beneméritas e científicas por muitas décadas, contribuíram para o sucesso da imigração da comunidade para o Brasil. Temos experiências importantíssimas a destacar: Hospital Sírio-Libanês, Hcor Associação Beneficente Síria, Associação Beneficente A Mão Branca de Amparo aos Idosos, Creche Adélia Curi, Associação Cedro do Líbano, entre outras entidades de relevância criadas pelo trabalho incansável dessas mulheres. Não posso deixar de mencionar o “Lar Sírio Pró-Infância”, única entidade centenária da colônia árabe fundada apenas por homens em São Paulo. Aliás, faz um trabalho belíssimo de acolhimento a crianças em situação de vulnerabilidade social. É muito bem administrada pelos “meninos”.
Somos parte importante do sucesso de uma relação comercial bilateral extremamente importante para o Brasil e para a Liga Árabe, estimada em mais de US$ 30 bilhões e que, além disso, sempre foi pautada na paz e na amizade.
Cerca de 15% das empresas associadas à Câmara Árabe são dirigidas por mulheres. A mesma proporção de empresas são levadas adiante por elas no Brasil.
Quem veio de uma família árabe, como eu, sabe exatamente o que é uma liderança feminina dentro de um núcleo familiar. A bola agora está com as novas gerações, responsáveis pela continuidade desse processo.
*Silvia Antibas é vice-presidente de Comunicação e Marketing da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, historiadora e ganhadora do Prêmio Unesco-Sharjah para a Cultura Árabe 2019.