São Paulo – A sudanesa Kenana Sugar Company vai inaugurar no final de março a primeira usina de etanol de cana-de-açúcar da África. A fábrica foi internamente construída pela brasileira Dedini, indústria de máquinas e equipamentos para o ramo sucroalcooleiro com sede no interior de São Paulo. A informação foi dada à ANBA pelo embaixador do Sudão em Brasília, Omer Salih Abubakr, durante visita a Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
De acordo com o diplomata, a usina construída dentro do complexo da Kenana, que fica 250 quilômetros ao sul da capital Cartum, nas margens do Nilo Branco, terá capacidade para produzir 61 milhões de litros de álcool por ano a partir do melado fabricado no próprio país. “Nós já fornecemos o melado bruto, mas agora vamos agregar valor ao produto”, disse.
Ele ressaltou que a empresa já tem um contrato com o Reino Unido para fornecer 5 milhões de litros anuais, há também interesse do Japão e outros países, mas boa parte do etanol deverá ser utilizada para consumo interno. Abubakr afirmou que o Sudão quer incentivar o uso de biocombustíveis e liberar uma parte maior do petróleo que produz para exportação.
O país, segundo ele, pretende produzir veículos movidos a álcool e quer ter acesso à tecnologia brasileira nessa área por meio de joint-ventures, mas pode também importar automóveis fabricados no Brasil. “Queremos ser um país ‘verde’”, disse. A tendência no futuro é ter mais usinas. Na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, realizada no ano passado em São Paulo, o Sudão enviou uma das maiores delegações.
O embaixador destacou que seu país é o maior produtor de cana-de-açúcar da África, com uma colheita de 1,2 milhão de toneladas por safra, e ainda há muita área disponível para ser explorada. O projeto da Kenana, que é estatal, começou a ser desenvolvido em 1980 e produz açúcar que é exportado para países árabes e da África. A irrigação das plantações é garantida por canais que transportam água do Nilo Branco e o bagaço da cana é utilizado para gerar eletricidade.
Até hoje, de acordo com ele, já foram investidos cerca de US$ 800 milhões na Kenana. Além do governo sudanês, a empresa tem como sócios a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait e o Japão. Além das plantações e usinas, o projeto, segundo o embaixador, inclui a comunidade local de 1 milhão de pessoas e fornece moradias, escolas e hotel para os visitantes.
Abubakr esteve na sexta-feira (06) em São Paulo para convidar o presidente da Câmara Árabe, Salim Taufic Schahin, e o secretário-geral da entidade, Michel Alaby, para participar da inauguração. O governo sudanês quer a presença também de representantes do governo brasileiro.
No início de março o ministro da Agricultura do Sudão, Al-Zubair Taha, estará no Brasil para assinar um acordo de cooperação técnica com seu colega brasileiro, Reinhold Stephanes. O país africano tem interesse em ampliar o intercâmbio com o Brasil para outros ramos da agropecuária, já que há um projeto de reestruturação do setor orçado em US$ 4 bilhões. “Precisamos do know-how do Brasil”, disse. Recursos existem, já que países do Golfo, como a Arábia Saudita, têm investido na produção agrícola sudanesa com vistas a abastecer seus mercados.
Abubakr quer ainda aproveitar a ocasião da inauguração para promover a assinatura de um acordo de cooperação entre a Câmara Árabe e a federação de empresários sudaneses e para instituir o Conselho Empresarial Brasil-Sudão.

