São Paulo – O governo do Sudão apresentou nesta quarta-feira (17) oportunidades de investimentos na reconstrução do país em decorrência do arrefecimento do conflito deflagrado em 2023. O “Fórum Econômico Sudão – Brasil 2025: reconstrução e investimentos” foi realizado pela Embaixada do Sudão em Brasília com apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O evento reuniu empresários e representantes do poder público dos dois países na sede da Câmara Árabe, em São Paulo.

Ministros e representantes de ministérios afirmaram que o Sudão está solucionando as questões do conflito e que o país precisa reconstruir sua infraestrutura para voltar a crescer, combater a fome e a pobreza. Um setor que deverá impulsionar a expansão é o agronegócio. Em razão das condições similares de clima, solo, pluviometria e disponibilidade de água, o Brasil é um parceiro com o qual o Sudão quer estreitar laços comerciais.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) brasileiro, em 2022, antes do conflito, o Brasil exportou US$ 82,9 milhões ao Sudão, principalmente em trigo, e importou US$ 56 mil, sobretudo em goma arábica. Em 2024, já durante o conflito, foram exportados US$ 14,3 milhões, especialmente em açúcar e carne de aves, e importados US$ 300 mil em goma arábica.
Representante da Autoridade Nacional de Investimentos do Sudão, Islam El-Sadig Salama disse que uma das vantagens geográficas do país é sua costa no Mar Vermelho, o que permite ao Sudão ser um corredor de produtos de nações africanas que não têm acesso ao mar. Ele também afirmou que o governo tem oferecido atrativos aos investidores internacionais, como isenções de impostos para funcionários estrangeiros, alfandegárias e para empresas que remeterem seus lucros futuros obtidos no Sudão para suas matrizes no exterior.
Representante do Ministério da Agricultura e Irrigação do Sudão, Mohamed Elammin Yousif Ahmed afirmou que existe o objetivo de ampliar a produtividade agrícola “Temos um plano de desenvolvimento econômico a partir do setor agrícola, que é dinâmico e de rápido crescimento”, disse. O objetivo do país é ampliar a produtividade, o mercado consumidor e as exportações. “O governo está empenhado em apoiar o setor agrícola”, afirmou.
Produção de cana-de-açúcar, em que Brasil e Sudão já colaboraram no passado, é outro foco para futuras parcerias de cooperação. Foram apresentados durante o fórum, ainda, oportunidades nos setores de exploração mineral e pecuária. A subsecretária do Ministério dos Minerais, Hind Siddiq Adam Hamid afirmou que o Sudão tem reservas de ouro e metais raros, assim como de cobre, sílica e prata. Para explorá-los, porém, é preciso que se faça o mapeamento geológico dessas áreas, interrompido pelo conflito.

A representante do Ministério dos Recursos Animais do Sudão, Amal Babiker Abdelrahim Magzoub, afirmou que há oportunidades na criação e abate de gado tanto para alimentação halal, de produtos feitos de acordo com as regras do Islã, como para outros produtos feitos a partir de bovinos, como couro.
“É um setor fundamental para garantir a segurança alimentar, desenvolvimento econômico e exportações. O investimento nele é urgente, pois foi afetado pela guerra, e precisamos de cooperação internacional. Queremos estabelecer parcerias estratégicas com o Brasil”, disse Magzoub. Ela afirmou que o país pretende desenvolver a indústria da pesca em razão das potencialidades proporcionadas pela costa sudanesa do Mar Vermelho. Também o CEO da Giad Engineering Group, Abdullah Abdulmarouf, afirmou que o país deseja aproveitar a experiência do Brasil para aperfeiçoar a sua indústria.
Diretor do Departamento de África do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Augusto Martins Cesar afirmou que há potencial econômico na reconstrução do Sudão e acredita que a situação do país continuará a melhorar. O consultor internacional em agricultura Sebastião Barbosa afirmou que o Sudão compartilha as condições de clima e solo com o Brasil e precisa investir em tecnologia e oferecer nutrição e sanidade às plantas e animais para que sua lavoura e pecuária prosperem. O consultor e economista Sebastião Macedo apresentou como caso de sucesso o setor sucroenergético brasileiro, que produz combustível limpo e exporta 80% da sua produção de açúcar.

O fundador do Laboratório Fiolabor, Adolfo Fiorenzano, compartilhou sua experiência em viagens e negócios com o Sudão antes do conflito, entre eles um contrato de prestação de serviços de administração com um hospital local. Agora, quer levar ao país árabe serviços como telerradiologia, que é a emissão de laudos médicos de exames de imagens à distância, telemedicina e exames de toxicologia. “Eu quero fazer negócios no seu país”, disse ele para a plateia.
A abertura do fórum foi feita pelo presidente da Câmara Árabe, William Adib Dib Junior. Ele avaliou que, com a redução do conflito, o Sudão oferece oportunidades que as empresas brasileiras “não podem deixar de considerar”. Lembrou que Brasil e Sudão têm um histórico de cooperações e que o Sudão é um país repleto de terras férteis para a agricultura.
“Infelizmente esse intercâmbio iniciado alguns anos foi interrompido pelo conflito civil que dividiu o país e ainda deixa marcas em algumas regiões. Fazendas de brasileiros e sudaneses foram abandonadas e planos de investimento tiveram que ser adiados. Com o arrefecimento do conflito e a retomada gradual da normalidade no país, evidenciada pela expressiva comitiva sudanesa aqui, vislumbramos a possiblidade de retomar a colaboração bem-sucedida de brasileiros e sudaneses”, disse Dib.
Embaixador do Sudão em Brasília, Ahmed Eltigani Mohamed Swar disse que seu país vê o Brasil como um parceiro estratégico, reconhecido pela sua experiência em diversos setores, entre eles a agricultura. “Acreditamos que a reconstrução não se limita à reconstrução da infraestrutura, mas também inclui a formação e capacitação do ser humano”, disse, destacando a importância para o país de se criar um ambiente produtivo que inclua o desenvolvimento da sua população.

Decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben disse que o crescimento do Brasil conjuga desenvolvimento econômico e conquista social e que a experiência do Brasil em promover o crescimento do país e das pessoas pode ser produtivo para os povos dos dois países.
“O Sudão passou por circunstâncias difíceis nos últimos anos e por uma guerra devastadora que deixou profundas marcas na infraestrutura e na vida do povo, mas o povo sudanês provou que sempre teve a capacidade de se reerguer e hoje entra em uma nova fase, a fase de reconstrução, que exige que irmãos e amigos o apoiem, não apenas com palavras, mas também com ações e cooperação real”, afirmou.
Estiveram presentes no evento o vice-presidente de Relações Internacionais e secretário-geral da Câmara Árabe, Mohamad Orra Mourad, a vice-presidente de Marketing, Silvia Antibas, os diretores estatutários Suzana Chohfi, William Atui e Arthur Jafet, o embaixador da Líbia em Brasília, Osama Ibrahim Ayad Sawan, o Encarregado de Negócios da embaixada do Iraque, Firas Hassan Hashim Al-Hammadany, e o cônsul comercial do Egito em São Paulo, Islam A. Taha, entre outras lideranças e convidados.
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