São Paulo – O Sudão busca exportar goma arábica ao Brasil e está aberto a que o País participe do seu processamento. A capital sudanesa, Cartum, receberá a Conferência Mundial de Goma Arábica no mês de maio e o embaixador do Sudão no Brasil, Abdelmoniem Ahmed Alamin (foto acima), quer levar brasileiros para participar. O país árabe tem como objetivo passar a processar o produto e não exportá-lo apenas em bruto, como ocorre atualmente.
Alamin esteve na Câmara de Comércio Árabe Brasileira na última semana, onde fez o convite para a conferência à entidade, em conversa com o vice-presidente de Relações Internacionais, Osmar Chohfi, e o secretário-geral, Tamer Mansour. O objetivo é que os brasileiros conheçam a produção de goma e avaliem a possibilidade de importar e participar do processamento.
O evento em Cartum ocorre sob o guarda-chuva da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e terá o envolvimento de 13 países africanos produtores do setor. “O Sudão é o maior produtor mundial de goma arábica”, disse Alamin em entrevista à ANBA. O insumo é utilizado na fabricação de medicamentos, alimentos, cosméticos e outros, em um universo de 86 tipos de produtos, segundo Alamin.
O embaixador conta que seu país responde por cerca de 75% da produção mundial de goma arábica, mas o produto é vendido como matéria-prima, não passa por manufatura ou processamento antes de sair do país. Com isso, o Sudão perde a oportunidade de agregar valor à goma arábica e gerar mais receitas a partir dela. O país árabe precisa de parcerias e investimentos para fazer a manufatura. “As portas estão abertas”, disse Alamin.
A partir da conferência, os países produtores vão formar uma união que terá sede em Cartum, segundo o embaixador. O objetivo será fomentar a produção com maior valor agregado. Além deles, da conferência devem participar outras organizações da ONU e representantes das nações consumidoras. Os Estados Unidos são os maiores compradores do produto do Sudão e, mesmo na época do embargo, abriram exceção para a importação da goma, segundo Alamin.
O embaixador acredita que o Brasil importe a goma sudanesa da Europa, já processada. O mercado brasileiro compra poucos produtos sudaneses de forma geral. Segundo dados do Ministério da Economia compilados pela Câmara Árabe, o Brasil comprou do Sudão apenas US$ 4 milhões em mercadorias no primeiro bimestre deste ano, dos quais US$ 430 mil foram em gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais.
Na entrevista à ANBA, o diplomata sudanês falou também de outras oportunidades que há para empresários brasileiros em seu país, como na exploração de ouro. Atualmente ela é feita de forma muito primária e há necessidade de empresas que invistam na área, segundo Alamin. O país árabe também compra máquinas agrícolas do Brasil e esse é um mercado com grande potencial no Sudão. O embaixador conta que atualmente apenas 20% das terras agriculturáveis do país são utilizadas, e por isso há possibilidade de crescimento.
O Brasil já participa de algumas instâncias da economia sudanesa. O Grupo Pinesso tem produção agrícola no país árabe com parceria local e as empresas Dedini e Interunion atuaram no desenvolvimento da produtora sudanesa de etanol e açúcar Kenana, com instalação e manutenção de tecnologia. O Brasil tem vários acordos com o Sudão, em áreas como cooperação técnica e entendimento político. Alamin conta que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) dão apoio ao seu país para melhorar a produção de algodão e açúcar.
Alamin é embaixador do Sudão no Brasil desde agosto do ano passado e também responde pelo país árabe na Argentina, Bolívia, Paraguai, Chile e Peru. Segundo ele, as relações diplomáticas com o Brasil existem desde os anos 70, mas foram impulsionadas com a abertura recíproca de embaixadas em 2004. “Cada vez essa relação está desenvolvendo de forma melhor, temos muitas histórias de sucesso, especialmente nos negócios agrícolas”, afirmou ele.
Na visita a Câmara Árabe, Alamin conversou ainda com as lideranças da entidade sobre a possibilidade de realização de um fórum econômico Brasil-Sudão. O comércio dos dois países atingiu US$ 565,2 milhões em janeiro e fevereiro deste ano e foi US$ 557 milhões favorável ao Brasil. O Brasil exportou ao Sudão principalmente açúcar e produtos de confeitaria, máquinas, carnes e veículos. Já nas mercadorias que o Sudão enviou ao Brasil predominaram sementes e frutos.
O embaixador do Sudão participou na quinta-feira (28) da abertura da exposição “Taswir, a fotografia árabe contemporânea”, no Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista. A mostra seguirá no local até 28 de abril e tem 78 fotos de artistas de 14 países árabes e europeus. O mostra comemorou o Dia Nacional da Comunidade Árabe e os 74 anos da Liga Árabe.
Interessados podem obter mais informações sobre a conferência de goma árabica na embaixada do Sudão em Brasília – telefone +55 (61) 3248-4834 ou sudaninbrasilia@gmail.com.