Da redação
São Paulo – A conta de transações correntes do Brasil terminou setembro com um superávit de US$ 1,338 bilhão, o maior já registrado pelo país desde que o Banco Central começou a divulgar esses números, em 1980. Com isso, no acumulado dos últimos 12 meses, o saldo continua positivo, em US$ 3,6 bilhões, o que representa 0,76% do Produto Interno Bruto (PIB).
O resultado fez o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, afirmar que, "seguramente", a conta corrente fechará o ano com superávit. A última vez em que isso ocorreu foi em 1992, quando houve um saldo positivo de pouco mais de US$ 6 bilhões.
O desempenho de setembro foi puxado pelo superávit da balança comercial, que chegou a US$ 2,670 bilhões. Fazem parte das transações correntes, além da balança, a conta de serviços e rendas (que inclui os juros da dívida, turismo, royalties e fretes) e as transferências unilaterais, que são as remessas de brasileiros para o exterior e vice-versa.
Em setembro, a conta de serviços foi negativa em US$ 1,557 bilhão e as transferências ficou positiva em US$ 225 milhões, segundo informações de relatório do Banco Central divulgado hoje.
No ano passado, o saldo das transações correntes do Brasil – considerado o melhor termômetro da situação do país com o exterior – foi deficitário em US$ 7,693 bilhões, o que equivaleu a 1,71% do PIB. Embora negativo, o resultado foi muito melhor do que o apresentado nos anos anteriores.
Em 2001, por exemplo, o déficit ficou em US$ 23,213 bilhões e, em 1998, chegou a US$ 33,416 bilhões, um dos maiores da história do país. Isso ocorreu porque a política cambial do governo – de manter o real valorizado em relação ao dólar -, adotada sem uma contrapartida comercial, inibiu as exportações e favoreceu as exportações, o que gerava sucessivos déficits na balança comercial.
Hoje, com o real desvalorizado, vem ocorrendo o movimento contrário. Além disso, a economia desaquecida também contribui para brecar as importações.
FMI e investimentos
O relatório divulgado hoje pelo BC também mostra que o balanço de pagamentos do país foi positivo em US$ 3,6 bilhões em setembro. O balanço é formado pelos resultados da conta corrente e da conta de capitais (ou financeira), que inclui os saldos de empréstimos e investimentos estrangeiros.
No mês passado, a conta de capitais foi positiva em US$ 2,605 bilhões. A principal razão para o superávit foi o ingresso de cerca de US$ 3 bilhões do empréstimo que o Brasil fez em 2002 com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os investimentos diretos estrangeiros, porém, voltaram a cair, para US$ 739 milhões, em setembro. No mês anterior, estavam em US$ 980 milhões e, em setembro do ano passado, chegaram a US$ 1,236 bilhão. Nos últimos 12 meses, o acumulado está em pouco mais de US$ 10 bilhões, bem abaixo dos US$ 16,566 bilhões registrados em 2002.
A previsão do governo é de que os ingressos fechem o ano em torno de US$ 10 bilhões. Para os próximos anos, na avaliação de especialistas, o patamar médio deve ser de cerca de US$ 13 bilhões.