São Paulo – No tabuleiro das baianas Luciana Galeão e Márcia Ganem tem moda e muito estilo. Mas nada de seguir as tendências apresentadas na última temporada de desfiles em Paris. Para essas estilistas, o que importa é criar a partir de referências diversas, investindo em delicadeza e diferenciação. O resultado? Coleções que passam longe do lugar-comum. E por isso atraem clientes dentro e fora do Brasil. Além do talento e da criatividade, as duas empreendedoras não descuidam da gestão de seus negócios, ou seja, daquilo que as ajuda a fazer sucesso, como a participação em feiras e a elaboração de sites atrativos e eficientes para as suas marcas.
“Faço um trabalho conceitual, com referências de arte, quis inovar desde o começo”, diz Luciana Galeão. A estilista, que trabalha com aplicação de mosaicos nas roupas, entre outras possibilidades, cria e produz em Salvador, Bahia. E veste mulheres “dos 30 aos 80 anos”. “Minhas clientes são modernas, procuram valor agregado nas peças que usam”, conta.
De fato, as compradoras dos vestidos, saias e blusas assinadas por Luciana podem abusar de um visual feminino, confortável e que passa longe daquilo que se vê na maioria das vitrines. “Nosso processo fabril é artesanal”, explica Luciana. “Algumas peças levam até 20 dias para ficarem prontas”, diz. Para marcar essa característica de arte a serviço da moda, a estilista batiza as suas coleções com nomes como “Gaudi”, “O Olho que Responde” e “Um Jardim de Linhas”.
Hoje, Luciana vende suas três coleções anuais em oito pontos de venda no Brasil. Lá fora, já exportou para mercados como a Espanha e o Kuwait. “Vamos retomar as vendas externas em 2011”, afirma.
Sucesso no exterior
Firme e forte no quesito exportação com a sua grife de moda feminina, Márcia Ganem tem 70% de seu faturamento ligado às vendas para países como Alemanha, Arábia Saudita, Bahrein, Espanha, Inglaterra, Itália e Japão. “A empresa foi aberta em 1996 e, em 2003, começamos a vender lá fora”, explica.
O segredo para chamar a atenção de estrangeiros e brasileiros? Unir referências como “arte, joalheira e até música” para a produção das peças. Direto de Salvador, a estilista gosta de criar novas técnicas, dando usos diferenciados a determinadas práticas. “Uso muito tramas de nós da joalheria nas roupas, por exemplo”.
Outro destaque da marca é a renda “flor da maré”, uma variação da renda de bilro desenvolvida por Márcia. Os bordados podem ser feitos até de fibra de poliamida reciclada. Uma contribuição fashion, digamos, à sustentabilidade. “As peças em fibra de poliamida são as mais vendidas”, diz a estilista. “O mundo todo tem buscado um novo posicionamento de consumo. Tentamos conciliar comprometimento com o meio ambiente e exclusividade”, afirma.
Dessa forma, as araras da loja da grife no Pelourinho, na capital baiana, estão sempre repletas de roupas delicadas, com aquele toque artesanal e chique. E sem descuidar do mercado jamais. “Estamos sempre buscando o novo e investindo em pesquisa e desenvolvimento”, diz Márcia.
No caminho certo
A julgar pelas orientações do consultor de Comércio Exterior do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em São Paulo (Sebrae-SP), Jaime Kochi, Luciana e Márcia estão no caminho certo. De acordo com ele, apenas 2% das pequenas empresas nacionais exportam. “A maioria das pequenas fica em função dos pedidos que recebe, normalmente de pessoas que, em visita ao Brasil, conhecem os produtos e se interessam por eles”, explica.
A receita para chegar lá? Preparar-se para tanto. “É preciso ter um site atrativo, bem feito, e buscar orientação para alcançar o mercado externo, participar de feiras e eventos”, afirma Kochi. Segundo o consultor, procedimentos do tipo são exceção entre as 4,5 milhões de micro e pequenas empresas em funcionamento no país.
Para quem fizer a lição de casa, no entanto, as perspectivas são boas. “Não tenho a menor dúvida de que as pequenas terão mais espaço no exterior nos próximos anos”, explica. “Mercados como os países árabes, África do Sul e Índia são alguns dos mais promissores, principalmente a partir do fechamento de acordos de comércio com o Brasil”, diz Kochi.
O otimismo do consultor faz todo o sentido. No setor têxtil brasileiro, as pequenas correspondem a 70% dos empresas que, em 2010, faturaram US$ 52 bilhões, com vendas externas de US$ 1,4 bilhão. Para 2011, a meta é crescer ao menos 3,5%. No que depender da criatividade de empreendedoras como Luciana e Márcia, o avanço será muito maior.
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