São Paulo – O uso de tecnologia para processos de certificação, rastreamento e liberação de cargas pode gerar ganhos significativos de tempo e de dinheiro nos trâmites de exportação dos produtos brasileiros, em especial de produtos do agronegócio. O tema foi discutido nesta terça-feira (30) por especialistas da área durante o seminário Aplicações da Internet das Coisas no Agronegócio, Saúde e Indústria, realizado na Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
Michel Alaby, diretor-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, falou sobre o processo de registro on-line que está sendo implementado pelo governo do Egito em parceria com a entidade. Pelo novo processo, os exportadores brasileiros que queiram vender ao país árabe deverão preencher um formulário e certificá-lo na Câmara Árabe.
“Os documentos são certificados online e, eventualmente, no momento seguinte, traduzidos para o idioma árabe e enviados eletronicamente para o controle geral da exportação e importação de alimentos no Egito. De posse desses documentos on-line, eles verificam, analisam na tela e enviam on-line para os portos. Quando o navio chegar, praticamente já estarão liberados esses documentos e essa carga”, explicou o executivo.
Alaby ressaltou que o Egito é o primeiro país no qual a entidade está desenvolvendo esta parceria, que deve ser estendida em breve a outras nações árabes.
“Nós estamos fazendo esse processo inicial junto ao Egito. Em seguida, nós vamos fazer com a Arábia Saudita e, no início do ano próximo, vamos tentar com os Emirados. Os Emirados têm o porto de Jebel Ali, para onde vão praticamente todas as cargas destinadas ao Golfo, em que o navio entra de manhã e sai à noite. Quer dizer, não demora mais que 24 horas essa estadia do navio. Eles têm um processo muito informatizado e só falta que a gente vá lá e estabeleça um critério [para estabelecer o processo de registro]”, disse.
Vale lembrar que o Egito é um dos principais importadores de carne bovina do Brasil. Somente de janeiro a julho, a nação árabe comprou o equivalente a US$ 399 milhões em carne brasileira.
Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), destacou que a cadeia de carne bovina brasileira movimenta R$ 483 bilhões desde a produção até a distribuição aos consumidores. No evento, ele apontou a inovação como base para o sucesso dessa indústria.
“A gente chegou nessa posição à base de muita inovação, que aconteceu nas fazendas, na indústria frigorífica e, para continuar na ponta, a gente precisa continuar apostando na inovação. Estamos falando de inovações que devem ser feitas na automação de frigoríficos, na robotização de condições que hoje são insalubres. Tem muito a ser feito na conexão entre essa cadeia toda”, avaliou.
Flávio Scorza, diretor do Departamento de Competitividade no Comércio Exterior no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), falou sobre a importância de o Brasil acompanhar os avanços tecnológicos implementados na cadeia do comércio exterior para que o país não fique cada vez mais atrás em relação às nações desenvolvidas.
“A cooperação entre governo e setor privado é fundamental para que o Brasil possa incorporar elementos da internet 4.0 na sua economia", afirmou. O conceito de internet 4.0 refere-se à ideia do uso da tecnologia de forma integrada às atividades da sociedade em diferentes setores, como saúde, educação e indústria, entre outros.
Um dos principais avanços que o Brasil está realizando nesse sentido é o chamado Canal Azul, desenvolvido pelo Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais (GAESI), da USP, coordenado pelo professor Eduardo Mário Dias, um dos organizadores do seminário.
O Canal Azul é um processo eletrônico de exportação e importação de mercadorias agropecuárias e que, entre outras coisas, se propõe a modernizar o controle oficial das exportações e gerar uma economia de 72 horas para o exportador, por meio da digitalização dos processos de documentação das cargas que circulam nos portos brasileiros.
Em mensagem lida por um representante, Marcos Pereira, titular da pasta do MDIC, destacou que o Canal Azul tem potencial de reduzir em até 15 dias o tempo em que um contêiner fica parado antes de embarcar ao seu destino.