São Paulo – Formada em Engenharia Ambiental e com mestrado em Avaliação de Impacto, Juliana Polizel uniu sua preocupação com a sustentabilidade à tecnologia para criar a empresa Pitaya em 2019. A startup, que nasceu com o objetivo de otimizar o uso da água em lavouras e automatizar o manejo da irrigação, desenvolveu sensores para sistemas que irrigam as culturas de café, morango e tomate, e realizou seu primeiro teste internacional na Arábia Saudita em 2021.

A conexão com o mercado árabe ocorreu por meio de uma indicação de um cliente brasileiro. O teste, que durou dois meses e utilizou três sensores da empresa, foi realizado à distância em um plantio experimental de café no deserto do país árabe.
“Foi um teste porque pela primeira vez cuidamos de um plantio no deserto, feito com uma água dessalinizada. Para a gente foi um desafio”, afirmou Polizel. “Apesar disso, a comunicação, mesmo com a gente no Brasil, e eles lá, deu muito certo. Eles perguntavam e a gente explicava, e a comunicação fluía bem.”
Mesmo que o plantio em si não tenha tido bom desempenho por questões como o ambiente e qualidade da água, a experiência serviu para comprovar a eficácia da tecnologia brasileira, que funcionou em um ambiente hostil e com monitoramento remoto.

“Mesmo com a diferença de solo e água, o nosso produto lá teve os mesmos padrões de funcionamento que ele tem aqui no Brasil. A gente conseguiu identificar o caminho da água no solo, indo de um ponto a outro, e a irrigação acontecendo. Foi uma boa experiência”, disse a empreendedora.
De acordo com a fundadora, a prática entre os dois países foi importante também porque abriu portas para contatos em outras nações, como Chile, Singapura, China e Reino Unido.
“Depois desta experiência já recebemos pedidos para testes no Chile e Singapura. Ainda não fizemos nada por lá porque esse tipo de negócio demora para acontecer, precisamos ganhar a confiança das pessoas primeiro. Também fizemos uma reunião para falar do nosso produto na Embaixada do Reino Unido e participamos de um congresso da nossa área na China”, conta a CEO.
No Brasil, a Pitaya já atua nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, e para os próximos meses, os planos incluem a consolidação da presença no sul do Espírito Santo e a expansão em novas regiões do Paraná. “Eu acredito que tem que ter um apoio local. A gente vai para outros estados com esse tipo de parceria”, explicou Polizel sobre a estratégia de crescimento.
História e tecnologia da empresa
Fundada em São Carlos, interior de São Paulo, a empresa conta com uma tecnologia baseada em um sensor de solo feito de cerâmica com uma estrutura porosa. O equipamento, de acordo com Juliana, se diferencia porque é capaz de medir a umidade do solo sem necessitar de calibrações constantes para diferentes tipos de solo ou temperaturas.
“Essa confiabilidade permite que o agricultor não apenas automatize a irrigação, mas também identifique anomalias na lavoura. A gente descobre doença na raiz, porque a fazenda inteira tem uma média de consumo, e se aquele setor não consome água, o que acontece? Aí era problema de raiz”, explica Polizel. A simplicidade e confiança levaram o sistema ao apelido “Reloginho do Agro”.
O foco do produto é a automação do processo de irrigação. A medição da umidade serve para acionar ou interromper a irrigação de forma automática, com o objetivo de usar a quantidade exata de água necessária para a planta. “Não foi um sensor feito para medição, ele foi feito para automação. Nosso vínculo é muito direto com a tomada de decisão, com o que tem que ser feito”, detalhou Polizel.
A Pitaya também presta um serviço de instalação estratégica dos sensores. A equipe da empresa analisa a área de plantio para definir os pontos mais representativos para a instalação, o que permite que poucos sensores monitorem uma área extensa. “Não basta ter um sensor altamente preciso se ele não for colocado no lugar correto. A gente se especializou nisso”, concluiu a fundadora.
Leia também:
Bahrein coloca suas startups no pódio


