Alexandre Rocha
São Paulo – Todas as unidades produtoras de frango da Perdigão estão habilitadas a executar o abate halal, ou seja, de acordo com as regras islâmicas. Acostumada a exportar para os países árabes, a empresa está de olho nos mercados de outros países que têm populações muçulmanas.
“Todas as nossas unidades são preparadas dessa forma”, disse o diretor de exportações da companhia, Antonio Augusto De Toni em entrevista à ANBA. O abate islâmico é feito em alguns dias da semana, que variam dependendo da fábrica e da demanda, acompanhado por um inspetor e executado por sangradores, todos muçulmanos praticantes.
Segundo De Toni, a companhia tomou a decisão de habilitar todas as suas seis fábricas de frangos para o abate halal na década de 1980 porque, além do peso do Oriente Médio em seu faturamento, outros mercados, principalmente na Ásia, também passaram a exigir o certificado islâmico, que garante que o produto pode ser consumido pelos muçulmanos.
“Cingapura, por exemplo, exige o certificado halal, porque lá 20% da população é islâmica. Além disso, futuros mercados que vão ser abertos nos próximos anos, como os da Malásia e da Indonésia, também fazem essa exigência. Mesmo na China há uma região onde existem adeptos do islamismo, então até para lá eles estão pedindo o certificado”, afirmou.
Os ganchos da linha de produção precisam ser orientados para Meca (cidade sagrada para os muçulmanos) na hora da sangria, o que é aferido com o auxílio de uma bússola. O sangrador abate as aves com um corte em movimento de meia lua, feito com uma faca afiada, e ao mesmo tempo diz a frase: “Em nome de Deus!” Nas paredes da fábrica são afixadas placas com os dizeres em árabe: “Em nome de Deus!” e “Deus é grande”.
Oriente Médio
No primeiro semestre deste ano, o Oriente Médio foi responsável por 20,2% da receita de exportações da Perdigão. Neste período, a empresa vendeu ao exterior 229,4 mil toneladas de produtos – entre frangos, suínos e derivados – o que equivale a R$ 808,3 milhões. Segundo De Toni, a empresa exporta em média 45% de sua produção, mas pretende fechar 2003 na casa dos 50%.
Entre os países árabes, a Perdigão vende para a Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Marrocos, Omã e Somália. De Toni destacou, porém, como mais importantes os mercados da Arábia Saudita, Emirados, Catar, Jordânia e Iêmen. De acordo com ele, o Egito impõe barreiras ao frango brasileiro para defender a produção local, então as exportações para lá são irregulares. A empresa mantém um escritório próprio em Dubai, nos Emirados.
Ele destacou também o recomeço das vendas ao Iraque, 20 dias após o término da guerra promovida no país pelos Estados Unidos e Grã Bretanha. Segundo o executivo, este ano já foram vendidas para o Iraque 2 mil toneladas de frango, equivalentes a US$ 2 milhões.
Os principais produtos comprados pelos países árabes, segundo De Toni, são frangos inteiros e em pedaços e alguns produtos processados, como salsichas e empanados. O executivo ressaltou que o Oriente Médio é hoje o terceiro mercado externo da Perdigão, atrás da Europa e da Ásia. “Vendemos hoje para os países árabes por volta de 11 mil toneladas por mês, o que equivale a cerca de US$ 13 milhões. A Europa responde por um terço de nossas vendas ao exterior. O Oriente Médio fica em terceiro lugar, vendemos um volume alto, porém de menor valor”, afirmou.
Enquanto ele acredita que as exportações totais da empresa devem crescer 10% em 2004, as vendas para o Oriente Médio devem aumentar apenas 5%. Para o executivo, para que o Brasil possa vender mais frango para a região é preciso haver uma “modernização” dos hábitos de consumo locais, ou seja, a compra de produtos de maior valor agregado, como cortes “em bandeja, temperados e empanados”.
“Já vendemos salsichas de peru e frango para o Oriente Médio em grande quantidade, mas em produtos empanados os volumes são baixíssimos. Vamos dar um empenho maior à venda de produtos processados na região”, disse o executivo.
Outros mercados
“Hoje o mercado que mais cresce é o Europeu, pois está havendo uma mudança em sua estrutura. Eles estão deixando de consumir produtos mais básicos e migrando para os de maior valor agregado. A Ásia está em segundo lugar e o Japão é o mais importante na região”, acrescentou De Toni.
Para a Europa a empresa exporta principalmente peito de frango, peito cozido, processados, salsichas e hambúrgueres. Para o Japão são vendidas coxas de frango sem osso. Já para o resto da Ásia vão asas e pés de frango e para Hong Kong e Cingapura também são exportados cortes de suínos.
Outro mercado importante é a “Eurásia”, que inclui a Rússia. Para lá são embarcados cortes de suínos, frangos inteiros, coxas com osso e produtos processados. Já para o Mercosul e Caribe a Perdigão vende principalmente cortes de frango e suínos e processados. O Chester, um dos principais produtos da empresa no Brasil, é vendido apenas para a Espanha e em poucas quantidades. No exterior, a Perdigão atua com a marca “Perdix”.
História
Além da importância comercial, o mercado do Oriente Médio tem uma relevância histórica para o comércio exterior do Brasil. Segundo De Toni, as exportações do frango brasileiro começaram pelo Oriente Médio. “Foi o primeiro mercado aberto para o nosso frango”, disse ele. A Perdigão começou a exportar para lá em 1974.
Segundo o executivo, hoje o Brasil é o principal fornecedor de frango daquele mercado e conseguiu isso, em parte, graças à queda nas exportações de frango da França, seu principal competidor. “O Brasil está ocupando o lugar da França, por causa da queda nos subsídios por força do primeiro acordo do Gatt. Ainda existem os subsídios, mas eles estão caindo ano a ano e as exportações da França também”, afirmou ele.
Perfil
A Perdigão faturou no primeiro semestre de 2003 R$ 1,973 bilhão, sendo que exportou R$ 808,3 milhões. Em 2002 o faturamento ficou em R$ 3,342 bilhões, sendo que R$ 1,206 bilhão provenientes das vendas externas. A empresa emprega hoje 26.503 funcionários e, além das seis unidades produtoras de frango, tem sete plantas de industrialização de outras carnes.
De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 1,431 milhão de toneladas de frango, o que equivale a US$ 1,3 bilhão, sendo que mais de 440 mil toneladas foram para o Oriente Médio. O país produziu no ano passado 7,517 milhões de toneladas de frango e exporta para mais de 100 países. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), Julio Cardoso, os volumes de produção e exportações brasileiras só são menores do que os dos Estados Unidos. A Perdigão atua em mais de 80 países.