Débora Rubin
São Paulo – A reciclagem ainda tem muito a crescer no Brasil. Dos 5.560 municípios brasileiros, apenas 327 têm programas de coleta seletiva. É pouco. Mas se comparado há dez anos atrás, houve um progresso. Em 1994, eram apenas 81. Além disso, das 140 mil toneladas diárias geradas no país, 50% ainda são enviadas para os lixões. Ainda assim, o lixo virou negócio. Além de saudável para o meio ambiente, é saudável para a economia. Em 2005, foram R$ 7 bilhões em faturamento. O setor gera 500 mil empregos para os catadores, fora os 50 mil funcionários da indústria recicladora.
Tal quadro já coloca o país entre os primeiros no ranking dos grandes recicladores. Segundo André Vilhena, diretor-executivo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), entidade que agrupa as empresas que reciclam e apóiam iniciativas do gênero, o Brasil está entre os dez maiores recicladores de papel e papelão do mundo.
De todos os materiais, as latinhas são as mais recicladas. Em 2005, o Brasil bateu recorde mundial de reciclagem de latas de alumínio para bebidas pelo quinto ano consecutivo. O país reciclou 96,2% do material descartado, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). A compra das latas usadas injeta R$ 450 milhões por ano na economia nacional. São aproximadamente 9,4 bilhões de latas no ano ou 26 milhões de latas recicladas diariamente.
Se há demanda pelo lixo é porque as empresas estão reaproveitando o material na produção. Hoje, a indústria de aço, por exemplo, usa 26% de sucata na produção do aço novo. Já as latinhas de alumínio voltam para a fábrica, em média, 30 dias após terem saído dela. A embalagem é inteiramente reciclada e o processo economiza 95% da energia elétrica necessária para a produção do metal a partir da bauxita. Para se ter uma idéia, o volume de energia poupada em 2004 é suficiente para abastecer uma cidade de mais de um milhão de habitantes.
Já a embalagem PET é a que vem sendo cada vez mais reaproveitada nos últimos anos. Em parte porque o consumo de produtos embalados com PET aumentou. Por outro lado, porque foram criadas novas tecnologias no processo de reciclagem do material. "A PET reciclada serve para fazer desde roupas com poliéster até tubulação usada na construção civil", exemplifica Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Associação Brasileira de Embalagens (ABRE).
O lixo como negócio
Há poucos anos, a indústria brasileira percebeu que havia clientes querendo consumir produtos feitos a partir do lixo reciclado. Uma das pioneiras foi a Suzano Papel e Celulose. Em 2001, o grupo lançou o Reclicato, papel feito com as aparas (restos) da própria empresa e com as aparas vendidas pelas cooperativas. No começo, eram apenas 150 cooperados envolvidos. Hoje, são 3,7 mil. Antes do Reciclato, quem queria comprar papel reciclado ou comprava os importados ou os artesanais. Era raro e caro. Ou seja, havia demanda e não tinha quem fizesse em escala industrial.
Para melhorar a qualidade dos produtos reciclados, as empresas passaram a investir também em tecnologia. A subsidiária brasileira da Tetra Pak, por exemplo, conseguiu desenvolver uma maneira de separar os materiais contidos na embalagem longa-vida. Num primeiro momento, conseguiram separar o papel cartão do aglomerado de plástico e alumínio – juntos, eles ainda eram reutilizados na produção de telha para casas populares. Em seguida, desenvolveu um processo ainda mais sofisticado que separa os três materiais, papel cartão, alumínio e plástico, de forma que cada material pode ser reutilizado como se fosse novo.
Cultura cidadã
Para Luciana, da ABRE, o Brasil já deu o passo mais importante: criou uma cultura de reciclagem. "A educação ambiental já é tema nas escolas e existe uma nova geração que pensa diferente e até educa os pais em casa", diz a diretora-executiva da ABRE. "Isso tudo faz parte de uma nova cultura cidadã". Que, como se pode ver, só tende a crescer.

