Da Agência Brasil
Brasília -Dispondo de boas condições de solo e clima, o Brasil é considerado um excelente país para a exploração da biomassa para fins alimentícios, químicos e energéticos. Com essas características, os combustíveis alternativos têm um enorme espaço de crescimento no país, como forma de reduzir a dependência do petróleo, melhorar a qualidade do ar.
Não foi por outra razão que o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), maior programa de combustível renovável do mundo, foi desenvolvido no Brasil. Agora, o governo está apostando todas as fichas no biodiesel, como sua principal experiência com combustíveis alternativos. Proveniente da biomassa (aproveitamento dos vegetais, entre eles a soja, o girassol, mamona, algodão, amendoim, buriti etc), o "diesel natural”, como também é chamado, é considerado um combustível de queima limpa e pode ser usado como impulsionador para motores, ou com a finalidade de geração de energia elétrica (bioeletricidade).
O novo combustível é produzido através da reação do álcool com os óleos vegetais, com o auxílio de um catalisador e de um co-catalisador. Estas são substâncias que geram as reações químicas que resultam no biodiesel e em um subproduto, a glicerina, que é matéria-prima empregada em diversos ramos da indústria. Dentre eles, o de cosméticos, remédios e explosivos.
Ecologicamente correto
Obtido de óleos vegetais ou gordura animal, o biodiesel pode ser usado puro ou misturado ao diesel, sem necessidade de adaptação do motor. Além de reduzir a emissão do dióxido de carbono (CO²), responsável pelo aumento do efeito estufa (aquecimento do globo terrestre), é biodegradável, não contém enxofre e melhora a lubricidade do motor.
É chamado de "combustível ecologicamente correto", porque não agride o meio ambiente e possibilita economia sem perda de qualidade. Também proporciona benefícios sociais e econômicos, como geração de empregos, desenvolvimento da agricultura em áreas rurais menos favorecidas e aproveitamento e diminuição de descarte de resíduos.
Na década de 70, o Brasil iniciou os estudos do uso de biodiesel, em decorrência da crise do petróleo, que afligiu o mundo. Nesta época, foi feito um inventário das espécies geradoras de óleos vegetais no país e a utilização do biodiesel foi tecnicamente comprovada.
Pró-biodiesel
Em outubro de 2002, O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou o programa Pró-Biodiesel que, por um ano, testará o combustível em várias capitais, ainda a serem definidas. Será pesquisada a linha B-5, ou seja, a mistura de 5% do óleo vegetal ao diesel. No programa, devem ser investidos R$ 8 milhões, até 2004, dos quais R$ 700 mil já foram liberados para o início dos trabalhos. A princípio, o óleo escolhido é o de soja, mas poderão ser utilizados outros vegetais, de acordo com as regiões atendidas.
O Brasil importa por ano 18% dos 36,8 bilhões de litros de óleo diesel que consome, a um custo de US$ 1,22 bilhões (dados de 2001). Para realizar a substituição do combustível, é necessária a produção de óleo vegetal em larga escala. Uma das possibilidades é o uso da soja, do dendê, da mamona e da babaçu, o que pode representar a expansão dessas culturas em várias regiões. Hoje, o único óleo que atende à demanda industrial é a soja – o Brasil produz mais de 40 milhões de toneladas, nas regiões Centro-Oeste e Sul.
O País já detém capacidade laboratorial e competência tecnológica para desenvolver a utilização de novos combustíveis alternativos. Desde o Proálcool, o Brasil continua buscando alternativas viáveis e ambientalmente corretas para movimentar sua frota de veículos.
Além do álcool hidratado, que há anos abastece grande parte da frota nacional, e da mistura gasolina/álcool, agora o Brasil investe no desenvolvimento do biodiesel, uma mistura de óleo vegetal e álcool anidro, capaz de reduzir consideravelmente os níveis de gases poluentes e de produtos carcinogênicos emitidos pelos veículos automotores.
Fritura de batatas
Uma nova alternativa para o combustível fóssil é o óleo usado para a fritura de batatas na rede de lanchonetes McDonald’s. Esta vertente está sendo pesquisada no Instituto Virtual de Mudanças Globais (Ivig), no Laboratório da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) e da Escola de Química, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Desde 2001, 40 lojas da rede de lanchonetes no Rio de Janeiro doam todo mês 25 mil litros de óleo que são empregados como matéria-prima para a produção de biodiesel na Coppe. A mistura é testada em veículos cedidos por uma montadora desde março de 2002. A intenção é estender o abastecimento com o biodiesel para toda a frota da universidade ainda este ano.
O transporte coletivo não será o único a utilizar o B-5, caminhões de lixo também serão abastecidos. O B-30 (30% de diesel) irá para a geração de energia elétrica para a iluminação, para alimentar a usina de triagem de recicláveis e a de tratamento de chorume (líquido ácido do lixo) da usina de Gramacho. Nos veículos da UFRJ será usado o B-100, biodiesel puro, sem acréscimo de diesel.
Várias Universidades Federais já realizam pesquisas em carros com combustíveis derivados do óleo de soja. Um exemplo é a do Paraná (UFPR), que atua em pesquisas com ésteres de óleo de soja (biodiesel) para substituir o derivado de petróleo. Os testes são feitos com um carro modelo Golf diesel 1.9 turbo, cedido pela Volkswagen/Audi, de São José dos Pinhais (PR), por seis meses, em regime de comodato.
O veículo será utilizado nos ensaios que fazem parte do Programa Nacional de Biocombustíveis, coordenado pelo MCT e que tem como integrantes a UFPR, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e a Rede Paraná Autotech, entre outras entidades. A montadora produz modelos a diesel (Golf e Audi A3) exclusivamente para exportação, uma vez que o combustível não pode ser utilizado na frota de automóveis no país.