Alexandre Rocha, enviado especial
Brasília – Cerca de 200 pessoas, entre políticos, diplomatas e representantes da coletividade de origem árabe, compareceram ontem (18) à noite, após o fim do jejum do Ramadã, ao jantar em comemoração ao lançamento da versão do Alcorão traduzida para o português por Helmi Mohammed Ibraim Nasr, professor de Árabe da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O evento realizado em Brasília foi promovido pela embaixada da Arábia Saudita e pela Câmara Árabe.
Entre os presentes, uma opinião quase unânime: de que a tradução do professor Nasr vai facilitar o diálogo entre as civilizações, termo de uso corrente hoje na diplomacia internacional. "Agora as pessoas vão poder ver a verdadeira realidade do Islã, que é muito pacífica e justa", comentou o decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina, Musa Odeh.
Na mesma linha, o embaixador do Líbano, Fouad El Khoury, acrescentou que a tradução é até mais importante para os brasileiros natos do que para a comunidade árabe. "Acho que é importante para o Brasil e para o mundo inteiro ter uma idéia clara do que é o Islã", disse o diplomata, que é cristão, mas defendeu tese de doutorado sobre o islamismo na Universidade Sorbone, na França, e é autor de um livro sobre as revoluções xiitas ocorridas nos primórdios da religião muçulmana. "É um livro que pode iluminar muitas pessoas", acrescentou.
Para o embaixador do Egito, Mohamed Abdel Fattah, o evento teve um gosto especial, já que o professor Nasr é egípcio. "Isto é um orgulho para nós", comentou. "E a época do lançamento foi uma escolha muito feliz, pois coincide com o Ramadã, o que dá uma importância ainda maior ao fato", acrescentou o embaixador do Sudão, Rahamtalla Mohamed Osman.
Para o diplomata sudanês, a tradução será útil inclusive fora do Brasil. "O português é uma língua falada por muitas pessoas em muitos países. Temos na África, por exemplo, muito muçulmanos que falam português, como em Moçambique e em Angola, e isso vai ajudá-los a saber mais sobre o Alcorão", declarou.
Segundo o embaixador do Marrocos, Ali Achour, a tradução "chega em um momento oportuno", no qual "em todo o mundo, e no Brasil também, aumenta o interesse pela religião muçulmana". "A tradução vai permitir às pessoas conhecer a religião muçulmana, preenchendo uma lacuna e eliminando preconceitos", disse. "Nós, na embaixada, recebemos muitas solicitações de pessoas que gostariam de ter uma versão do Alcorão em português e livros sobre o Islã. Não tínhamos. Agora não teremos mais este problema", acrescentou.
Na opinião do deputado federal Jamil Murad (PCdoB-SP), secretário-geral da Liga Parlamentar Brasil-Árabe, a tradução do Alcorão vai servir para aproximar ainda mais as duas culturas. "Os ensinamentos do Alcorão sintetizam os mais importantes aspectos da civilização árabe", declarou. "Então ele será uma fonte permanente de reflexão para os brasileiros de todas as origens", acrescentou.
Presidente da Câmara dos Deputados elogia iniciativa
Ontem mais cedo, Murad acompanhou o professor Nasr a uma reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Nela Rebelo, que é defensor das causas árabes desde os tempos de estudante, disse que a tradução do Alcorão será muito útil para os esforços de aproximação das civilizações.
"O deputado Aldo Rebelo demonstrou muito interesse e conhecimento sobre a cultura árabe e nós ficamos muito contentes com a sua receptividade", disse o presidente da Câmara Árabe, Antonio Sarkis Jr., que participou do encontro. Também estiveram na reunião o secretário-geral da entidade, Michel Alaby, e o vice-presidente de Marketing, Rubens Hannun.
Nasr e Rebelo trocaram impressões sobre a cultura árabe e o deputado ficou muito satisfeito em receber um exemplar do Alcorão de presente. O professor recomendou, para iniciar, a leitura do capitulo 1, que é a introdução, do 12, que fala sobre José, e do 19, sobre Maria.
Ao final do evento da noite, Nasr arrematou: "O Alcorão é uma leitura interessante e agradável. Convido todos a uma leitura prazerosa e edificante."