São Paulo – Chegou às livrarias brasileiras na semana passada o quarto e último volume da primeira tradução completa do árabe para o português de “O livro das mil e uma noites”, feita pelo professor de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Mamede Mustafa Jarouche.
Além das noites que faltavam, este volume traz outros dois textos: “Aladim” e “Ali Babá e os quarenta ladrões”, que originalmente não constam dos manuscritos, embora tenham sido traduzidos também do árabe. Estes contos foram incluídos na obra na tradução feita para o francês por Jean Antoine Galland entre 1704 e 1717, a primeira para um idioma ocidental.
Esta edição foi, segundo o tradutor, a parte do trabalho que mais lhe desafiou e mais trabalho lhe deu. Nela, há desde contos populares, como “As fases do homem, segundo a mulher”, até tratados políticos, como se observa em “A educação dos príncipes”.
“Este volume ficou maior do que os outros, com mais de 500 páginas. A massa de material com que eu trabalhei foi maior e houve também mais problemas. Houve trechos que precisei ler a partir do original [que inspirou um dos contos do ‘Livro das Mil e Uma noites’] para conseguir traduzir”, recorda Jarouche.
Parte do desafio enfrentado pelo tradutor é consequência da sua escolha: traduzir o primeiro e segundo volumes, ambos do ramo sírio, e o terceiro e quarto volumes, do ramo egípcio, a partir de manuscritos e não da vulgata, que é uma edição mais popular e aceita como autêntica de um texto. Ele fez essa opção por considerar, no começo do projeto, que a vulgata não conservava os detalhes que os originais apresentam.
Reconhecimento
O “Livro das mil e uma noites” retrata a história do rei Šāhriyār, que descobre que é traído pela mulher. Ele manda matá-la e decide que a cada noite irá se casar com uma mulher e matá-la no dia seguinte. Para não ter o mesmo destino das antecessoras, Šahrazād promete ao rei contar-lhe, todas as noites, uma história. Desta forma, sua morte acaba por ser “adiada” até a 1001ª noite, quando, então, o rei decide que destino dar à companheira.
Foi a tradução de Galland, diz Jarouche, que permitiu ao “Livro das mil e uma noites” ser conhecido e reverenciado no mundo todo, não apenas no Oriente. “O ‘Livro das mil e uma noites’ já é emblemático da cultura árabe. Aliás, passou a ter um reconhecimento maior no Oriente depois que foi traduzido no Ocidente, no século 18”, diz o tradutor.
No caso da tradução diretamente do árabe para o português, muitos tentaram, mas só Jarouche concluiu. Um dos que tentaram foi o imperador D. Pedro II. Jarouche revela, no livro, que D. Pedro II traduziu 120 noites, mas não foi além disso.
Projetos
Agora, após 13 anos de pesquisas e viagens, acaba o desafio de traduzir o “Livro das mil e uma noites”. Outros projetos, porém, já estão a caminho. Jarouche trabalha agora na tradução de outros textos do árabe para o português. Um deles, um conto erótico. O outro, “Os fundamentos da arte de governar”, é um tratado político. E promete: não irá abandonar tão cedo as mil e uma noites. O tradutor vai se dedicar, “no futuro”, à tradução da primeira edição da vulgata do Cairo, de 1835, e da segunda edição de Calcutá, de 1839-1842.
Serviço
Livro das mil e uma noites – vol. 4: ramo egípcio + Aladim & Ali Babá
Tradução: Mamede Mustafa Jarouche
Páginas: 528
Preço: R$ 59,90
Editora: Globo/Biblioteca Azul

