Leonardo Lênin
São Paulo – Há dez anos a Companhia Nacional de Minas (SNIN), da Mauritânia, usa rodas de fabricação brasileira em seus vagões ferroviários. Os trens da empresa cortam o deserto do Saara levando minérios do interior do país aos portos. As rodas são de fabricação da joint-venture Amsted Maxion, parceria da brasileira Iochpe Maxion com a norte-americana Amsted Industries.
Segundo Vicente Abate, diretor de Vendas e Marketing da companhia, 100% das rodas dos vagões da SNIN são fabricadas no Brasil. Para vender à Mauritânia, a Amsted participou de uma concorrência com empresas da França, Itália e África do Sul. O que pesou na decisão da SNIN foi a resistência das rodas brasileiras, feitas de aço fundido. "A ferrovia passa pelo deserto, um ambiente agressivo com tempestades de areias. A areia corrói os trilhos e por conseqüência, as rodas", afirma.
A empresa exporta também para países da costa atlântica do continente africano, como Guiné e Gabão, participa de uma licitação no Quênia e está de olho no mercado saudita. "Estamos sempre fazendo cotações para a Arábia Saudita, mas, por enquanto, não tivemos nenhum pedido", afirma Abate.
Além das rodas e vagões ferroviários, a empresa exporta truques – peça similar a um eixo de carro, que, no caso de trens, une o vagão ao trilho -, o sistema rodotrilho – que permite que uma carreta rodoviária se transforme em vagão, eliminando assim a transferência de carga da carreta para o vagão -, componentes de choque e tração para trens.
A companhia também produz e exporta peças de uso industrial, construção civil, automotiva e mineração. Abate destaca ainda as exportações da chamada quinta roda, para uso em carretas.
Normas
Segundo o executivo, as vendas para a África e Oriente Médio só não são maiores por causa das normas de fabricação desses países, que são diferentes das da Amsted.
A companhia brasileira segue as normas de fabricação NBR ISSO 9002, da Associação Americana de Ferrovias (ARR), que dita vagões maiores, que suportam mais pesos, enquanto boa parte dos países árabes segue normas européias, pelas quais os vagões são menores. Nesse caso, não há necessidade das peças serem de aço fundido – mais resistentes – como as da Amsted.
No continente americano, a companhia exporta, entre outros, para o Canadá, Estados Unidos, Argentina e México. Na Europa, fornece produtos para a Bélgica e Itália.
Vicente Abate explica que, atualmente, 15% da produção nacional é exportada. "Mas o volume pode chegar a 30% este ano, isso se a valorização do real não criar dificuldades", afirma. Outras barreiras apontadas pelo executivo são: os impostos para exportações, que são elevados, e, no caso do Oriente Médio, a proximidade geográfica com China e Índia, que são concorrentes do Brasil e têm preços competitivos.
Histórico
A Amsted Maxion começou a operar em fevereiro de 2000. No ano passado, a companhia respondeu por 74% do mercado nacional de vagões de carga e 40% do mercado de rodas ferroviárias. As exportações somaram US$ 30,2 milhões – um crescimento de 68% em relação ao ano anterior. As vendas externas responderam por 15% da receita líquida da Amsted.
Ainda em 2004 a empresa fez investimentos no parque industrial: inaugurou mais duas unidades. A primeira em Osasco, com ênfase na fundição de peças, a outra em Hortolândia, em São Paulo, para montagem de vagões.
A fábrica central fica no município de Cruzeiro, no interior paulista. Atualmente a Amsted Maxion emprega cerca 4.200 trabalhadores e tem capacidade para produzir 7.200 vagões por ano. Para este ano, a estimativa de produção é de cerca de 6 mil vagões.

