São Paulo – A cerca de 600 quilômetros de Manaus, no estado do Amazonas, está situada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Lá, a preservação da fauna e da flora é uma prioridade, assim como é o bem estar dos habitantes das comunidades ribeirinhas. Foi para promover este equilíbrio que surgiu a Pousada Uacari, local destinado ao recebimento de turistas e que se desenvolveu como opção de atividade econômica à pesca predatória.
A pousada é flutuante e fica em meio às águas do rio Solimões. São 10 quartos divididos em cinco bangalôs, que comportam 24 hóspedes no total. O nome da pousada é uma homenagem ao macaco uacari branco, objeto de estudo do biólogo José Marcio Ayres, que chegou à região na década de 1980. Ao se deparar com uma severa devastação do habitat daquele animal, ele idealizou a criação de uma reserva natural no local.
Mais de 30 anos depois, os turistas que se hospedam na Pousada Uacari podem não apenas contemplar este tipo de macaco, mas também outros animais, como o macaco-de-cheiro-de-cara-preta, preguiças, guaribas, pirarucus e outras espécies nativas da Amazônia.
Quando a reserva foi criada, na década de 1990, a pesca do pirarucu era uma das principais atividades dos moradores locais e o peixe estava ameaçado de extinção. “Então, começou-se a pensar em uma alternativa de renda para os moradores e o turismo entrou como uma delas”, explica Luciana Cobra, gestora operacional da pousada. Segundo ela, a pousada e suas atividades seguem o conceito de turismo comunitário, no qual os benefícios são divididos com os moradores locais.
A renda obtida com as hospedagens, por exemplo, é destinada a projetos dos fundos comunitários. “O dinheiro é usado para a construção de centros comunitários, instalações de encanamentos, compra de equipamentos de limpeza, etc.,” explica Cobra. Ela conta que, segundo o último censo realizado na região, em 2011, a reserva contava com quase 11 mil moradores.
A pousada recebe cerca de 800 turistas por ano. Cerca de 70% são estrangeiros e, entre eles, a maioria é formada por visitantes dos Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha e Alemanha. Segundo a gestora, a atividade que faz mais sucesso entre os visitantes é o passeio de canoinha. “Na cheia, as trilhas são feitas de canoinha. Vão duas pessoas, além do guia, em uma canoa com remo ver os animais e a vida selvagem. É bem contemplativo e silencioso. É o passeio que os visitantes mais gostam”, afirma.
Outra atividade que também agrada bastante aos turistas são as visitas às comunidades. “Geralmente, quem vem para cá quer ver a natureza e conhecer a cultura local. O pessoal costuma gostar bastante”, afirma Cobra. Ela lembra ainda que na pousada boa parte dos funcionários também são das comunidades nativas.
Os passeios disponíveis para os turistas variam de acordo com a época do ano. De dezembro a março é quando ocorrem as chuvas. A partir de abril, a floresta fica totalmente inundada e as atividades ocorrem de canoa e barco. Junho e julho são os meses de maior cheia. De agosto a novembro é a estação seca, quando é possível fazer caminhadas e quando há uma maior concentração de peixes e aves para observação. A época de alta temporada na pousada é de junho a setembro, devido às férias escolares no hemisfério norte, de onde vem a maioria de seus visitantes.
Com tantos turistas estrangeiros, a pousada desenvolve alguns projetos para ensinar inglês aos funcionários. No último, realizado entre 2014 e 2015, foi realizado um financiamento coletivo que permitiu levar um professor do idioma para morar um ano na reserva e ensinar inglês a um grupo de oito pessoas.
Com isso, os turistas podem contar com o trabalho dos chamados guias naturalistas, que oferecem informações sobre o local tanto em português como em inglês. Estes guias são também profissionais com nível superior, em geral em áreas como Biologia, Estudos Sociais e Turismo. Há ainda os guias locais, que ajudam a encontrar os animais escondidos em meio à mata para mostrar aos visitantes.
A estrutura da Uacari também é sustentável. Toda a energia da pousada é de origem solar e o esgoto gerado ali é tratado para que a água seja devolvida ao rio dentro dos padrões de pureza necessários para que não haja contaminação.
Tanto cuidado com a natureza e com a população ao redor renderam bons reconhecimentos à Uacari. No ano passado, a pousada recebeu o prêmio de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) e o segundo lugar na categoria Redução de Pobreza no World Responsible Tourism Awards, promovido pelo World Travel Market, um dos principais eventos de turismo do mundo.
Contato
Pousada Uacari
Site: uakarilodge.com.br/pt-br/
Telefones: +55 97 3343-4160/+55 97 3343-9750
E-mail: ecoturismo@mamiraua.org.br
Como chegar: Para chegar à Pousada Uacari é preciso pegar um voo de Manaus até a cidade de Tefé. De lá, uma equipe da pousada leva os turistas de lancha até o local. Voos entre Manaus e Tefé são realizados diariamente pela Azul Linhas Aéreas e duram cerca de uma hora e vinte minutos.