Roma – A expressão Mare Nostrum foi criada pelos romanos, em cerca de 30 a.C., para nomear o mar Mediterrâneo, dando um exemplo da força do império. Em 2010, a mesma expressão está sendo usada por um projeto da Comissão Européia (CE) para unir seis cidades da região, antigos portos fenícios, promovendo o resgate da cultura local, o desenvolvimento do turismo e a troca de conhecimento entre países. Trata-se da versão moderna do Mare Nostrum, que traça uma rota comum entre Tiro (Líbano), Tartus (Síria), Cartago (Tunísia), Siracusa (Sicília, Itália), Rodes (Grécia) e Valletta (Malta).
O Mare Nostrum começou a ser desenhado em 2008, quando um grupo de observadores de entidades como o Istituto Parelleli e a Universidade de Florença, ambos da Itália, sentiram a necessidade de restabelecer uma conexão entre os países do Mediterrâneo. Encontraram o fio condutor para desenvolver o programa em Paris, na França, no Instituto do Mundo Árabe (IMA). Naquele ano, o museu apresentava ao público uma grande exposição de arte sobre a civilização fenícia.
Conhecidos por serem exímios navegadores, possuidores de uma cultura refinada, os fenícios foram os responsáveis pelo desenvolvimento de, praticamente, todas as rotas comerciais marítimas do Mediterrâneo, ligando o Norte da África ao continente europeu. Criaram as cidades portuárias mais importantes da época, como Cartago, na Tunísia, e as transformaram em locais, não somente de troca de mercadorias, mas também de conhecimento, língua e cultura.
Os fenícios, segundo os organizadores do projeto, tinham um modo particular de promover o desenvolvimento. Localizados nas montanhas onde hoje estão Líbano e Síria, eles eram observadores das outras culturas e também muito criativos. Para facilitar o comércio, que desbravavam cruzando mares, por exemplo, criaram o alfabeto, sua grande contribuição para o mundo moderno. Diferentemente dos romanos, eram pacíficos e procuravam integrar as regiões que incorporavam. E é com esse espírito que o projeto Mare Nostrum pretende envolver as seis cidades, seus moradores e visitantes.
O primeiro passo foi dado na terça-feira (13) com a inauguração do site www.eh4-marenostrum.net, financiado pelo programa Euromed Heritage 4, da CE, com o apoio das entidades italianas (Paralleli e Universidade de Florença), administrações municipais de Rodes e de Tiro e University of Saint Joseph, do Líbano. A página tem informações iniciais sobre o Mare Nostrum e sua implantação. Uma parte, no entanto, ainda está em construção. Será abastecida com dados sobre a evolução do programa, que tem duração pré-estabelecida de 42 meses, assim como conteúdo histórico e turístico sobre cada uma das cidades participantes.
Problemática moderna
A proposta do Mare Nostrum é também identificar problemas atuais das cidades contempladas pelo programa, que, segundo os organizadores, alguns são comuns a todas elas, por terem a mesma raiz portuária. O trabalho conjunto vai ajudar no desenvolvimento de estratégias para a promoção do turismo, recriando antigos vínculos entre as seis cidades, valorizando as particularidades de cada uma, envolvendo a comunidade local, mas sempre trabalhando num itinerário conjunto, complementar, que une passado e presente, antiguidade e modernidade.
Com o Mare Nostrum também se espera abrir um diálogo mais eficiente entre os países do Mediterrâneo, estreitando as relações entre os povos que têm uma forte ligação histórica e cultural, por conta da presença fenícia. O envolvimento será feito em dois modos. Primeiro com a mobilização das comunidades locais e artistas, promovendo, por exemplo, mostras, festivais de arte, música e teatro, que percorram as seis cidades. Para isso, a parceria com a administração municipal será fundamental. Artesãos locais também serão estimulados a trabalhar com o argumento da recriação da rota comercial marítima fenícia como roteiro turístico.
O envolvimento de estudantes, universitários e professores é outra importante frente de atuação do programa. Serão realizados seminários para tratar da importância histórica das rotas fenícias para o desenvolvimento de cada uma das regiões, por exemplo. Visitas às seis cidades integrantes do roteiro, a museus locais e aos roteiros culturais e arqueológicos propostos também estão entre as ações proposta pelo Mare Nostrum.

