Dayanne Mikevis, especial para a Anba
São Paulo – A cada capítulo mais um país cai na teia de apreciadores da produção audiovisual brasileira. Com um crescimento de 70% em horas de programação exportada nos últimos cinco anos, a TV Globo, emissora de maior audiência no Brasil, tem bastante o que comemorar no cenário internacional. Por ano, a empresa exporta cerca de 24 mil horas de programação. Claro que tantas horas se devem, principalmente, à comercialização de novelas.
No final de 2004, por exemplo, produtos da emissora eram veiculados em mais de 50 países. A história internacional da Globo começou em 1973, quando a emissora vendeu "O bem amado", uma novela que retratou de forma cômica o cotidiano do interior baiano, para o México e Uruguai. Daquele ano até a atualidade, mais de 300 produções da TV foram vendidas para cerca de 130 países.
A influência das novelas brasileiras no exterior surpreende quem está de passagem por tais locais. Depois de viver três anos no Brasil e aqui assistir a novela "O Clone", a norte-americana Karen Keller se surpreendeu ao saber que o tradutor que conheceu em uma viagem pela Iugoslávia tinha a trilha sonora da novela. As novelas globais são transmitidas regularmente em países como Portugal, Croácia, Itália, Romênia, Israel, Argentina, Uruguai, Peru, Rússia, Sérvia, Eslovênia, Albânia e Honduras.
Na pauta de campeãs de venda da emissora estão: Terra Nostra (direitos de exibição vendidos a 84 países), Escrava Isaura (direitos de exibição vendidos a 79 países), Laços de Família (venda para 66 países), O Clone e Sinhá Moça (62 países).
Terra Nostra conta a saga dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil para trabalhar com as plantações de café, Escrava Isaura relata a história de uma escrava branca e educada, vítima de um senhor cruel, enquanto Laços de Família mostra o dia-a-dia das famílias modernas do Rio de Janeiro. Na novela O Clone uma família de árabes vai-e-vem do Rio ao Marrocos enquanto se desenrolam negócios e histórias de amor e de clonagem. Sinhá Moça, assim como Escrava Isaura, é uma das mais antigas e mostra um romance proibido na época da escravatura.
Globo no mundo
A Globo foi criada em 26 de abril de 1965, atinge 5.441 municípios brasileiros, via 11 emissoras e afiliadas, com um público de cerca de 178 milhões de telespectadores. Desde a década de 70 a emissora ocupa a liderança em todas as faixas de horário.
Algumas curiosidades também cercam a produção global exibida no exterior. Em Cuba, o governo cancelou o racionamento de energia para que as pessoas pudessem assistir a Escrava Isaura. Em Portugal, durante a veiculação de Roque Santeiro, várias crianças foram batizadas com o nome de Porcina, personagem principal da novela, vivida pela atriz Regina Duarte, até então, inédito naquela região.
Os norte-americanos também foram inspirados por novelas globais e, segundo uma matéria de janeiro de 2002 do The Wall Street Journal, houve um aumento no número de crianças batizadas como Jade quando O Clone, novela na qual uma das personagens principais levava o nome, era exibido no país. Na Romênia, a novela fez tanto sucesso que, prevista para ser transmitida apenas aos sábados e domingos, conquistou todos os dias da semana.
Na tela dos árabes
Perdendo posição apenas para o crescimento das vendas da empresa para o Leste Europeu, o Oriente Médio e a Ásia são mercados com grande potencial para os programas produzidos pela Globo.
A diretora de marketing e vendas da divisão de negócios internacionais da emissora, Helena Bernardi, afirma que o ritmo de vendas da Globo para a região acompanha o crescimento das exportações brasileiras para o Oriente Médio. A empresa atualmente comercializa seus produtos para cerca de cem países. No mostruário à disposição do cliente, o departamento tem novelas, minisséries, séries e especiais, categoria que inclui, por exemplo, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
A empresa começou a atuar no Oriente Médio ainda na década de 1980, mas não há registro de qual foi o primeiro país comprador e o produto exibido. Atualmente a novela Terra Nostra está sendo mostrada no Líbano. Fora do mundo árabe, mas dentro do Oriente Médio, as novelas Mulheres Apaixonadas e Esperança estão sendo exibidas em Israel e Laços de Família na Turquia.
As novelas
Terra Nostra foi veiculada no Brasil entre 1999 e 2000. O folhetim audiovisual é de autoria de Benedito Ruy Barbosa e o grande destaque da produção foi a atriz Ana Paula Arósio, que interpretou a jovem imigrante italiana Giulianna. A história narra os encontros e desencontros amorosos da jovem, no Brasil, com o também italiano Matteo, interpretado por Thiago Lacerda, no início do século XX.
Recentemente a produção O Clone, escrita por Glória Perez, que traz um forte núcleo de personagens árabes e muçulmanos, esteve na programação de emissoras de diversos países da região, como Marrocos, país que abrigou parte das filmagens. A Globo comemora o sucesso obtido com a trama na região.
No Brasil, a novela foi veiculada entre 2001 e 2002 e fala do encontro de um homem com seu clone, vinte anos mais jovem do que ele. A história também fala de amor e convivência de costumes.
A trama despertou grande interesse no Brasil. A influência foi tão grande que cenas da novela eram usadas para comentar e descrever costumes muçulmanos no curso de cultura árabe da Universidade de São Paulo (USP).
Coincidência ou não, entre as produções nacionais vendidas para a região, Esperança, Terra Nostra e O Clone têm forte presença de grupos migratórios. Aliadas a histórias de amor e conflitos no passado e no presente, a fórmula mostra-se competente na conquista do público internacional.
O maior mercado da emissora ainda é Portugal, seguido pela América Latina. As produções são quase que simultaneamente transmitidas no Brasil e no país ibérico.

