São Paulo – Um projeto apoiado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) procura na região da Grande Florianópolis professores voluntários para ensinar português a refugiados árabes. A ideia é capacitar uma rede de lecionadores especializados no ensino da língua portuguesa a falantes de árabe, que requerem uma didática distinta.
Uma das coordenadoras do Grupo de Apoio a Imigrantes e Refugiados em Florianópolis (Gairf), que participa do projeto, Bruna Kadletz, afirma que a metodologia de ensino da língua portuguesa aos árabes se difere à aplicada a outros imigrantes por haver diferenças no alfabeto e até na forma de leitura – no árabe, a leitura é da direita para a esquerda, ao contrário das línguas latinas.
Segundo ela, existem turmas de ensino de português a refugiados de diversas nacionalidades na própria UFSC, mas há uma dificuldade de adaptação dos árabes. “São diversos fatores. O alfabeto romano é uma delas, acaba provocando uma evasão nas turmas pelo fato de o professor não ter esse entendimento de que há diferenciação. Mas a própria dinâmica de aulas, de segunda a sexta e longe do centro da cidade, cria obstáculos, uma vez que estes refugiados trabalham em horário comercial”, explica Kadletz, que desde 2015 trabalha com refugiados sírios na capital catarinense. Ela já participou também de algumas missões em países do Oriente Médio.
Após entender essa necessidade especial dos árabes, o grupo e o Departamento de Língua e Literatura Vernáculas (DLLV) da universidade levaram à direção da UFSC o projeto para criar um curso especializado nos árabes, aprovado no fim de junho em portaria. Agora, angaria recursos e professores voluntários para dar sequência.
“Queremos trazer o professor João Baptista Vargens, da UFRJ e autor do livro ‘Português para Falantes de Árabe’, para capacitar os voluntários. Estamos agora buscando recursos para bancar a vinda dele”, disse Kadletz, que também procura parceiros para a produção do material didático. O local das aulas, porém, já foi definido: a UFSC cederá uma sala no campus do centro de Florianópolis. “É bom porque é mais perto de onde vivem e trabalham a maioria dos refugiados sírios”, explica.
Ao mesmo tempo, a UFSC abriu inscrições para candidatos ao ensino da língua portuguesa aos árabes. Não é exigida formação em Letras, tampouco conhecimentos da língua árabe. “Mais de 80 interessados já nos procuraram. A ideia é fazer um processo seletivo e formar essa rede de professores, expandindo também para outras nacionalidades”, conta a coordenadora do Gairf.
Kadletz, que trabalha com mulheres e crianças sírias em outros projetos, calcula em trinta o número de interessados em aprender a língua portuguesa. Mas, segundo ela, existem mais de 150 refugiados sírios – nacionalidade majoritária na região – vivendo em Florianópolis, todos potenciais candidatos a alunos do curso.
As aulas deverão começar em setembro e os interessados em se voluntariar podem pedir mais informações com a presidente da comissão da UFSC, Cristiane Severo, pelo e-mail crisgorski@gmail.com.
Contato
Cristine Severo – crisgorski@gmail.com
Bruna Kadletz – brunacka@yahoo.com.br