São Paulo – Há muitos estrangeiros no Catar. Dos cerca de 1,4 milhão de habitantes, menos de 300 mil são cataris. O restante é estrangeiro das mais diversas nacionalidades, sendo a maioria indianos, nepalis, afegãos e paquistaneses, grupo que está, sobretudo, erguendo as construções que vêm transformando a paisagem de Doha.
Outros são europeus, americanos, africanos e asiáticos, nos mais diversos campos de atuação. "O nacional catari ou tem seu próprio negócio, ou é proprietário de número significativo de casas e vive da renda do aluguel ou, ainda, é servidor público – incluindo aí a mulher catari. As mulheres também têm forte atuação acadêmica, compondo a maior parte dos alunos universitários", diz o embaixador do Brasil em Doha, Anuar Nahes.
A comunidade brasileira em Doha é relativamente expressiva. Hoje ela é basicamente composta por quatro grupos: profissionais esportistas, profissionais da aviação, da área de serviços e do setor de petróleo e gás. Cada profissional tem consigo sua família, o que faz com que haja cerca de 600 brasileiros vivendo no Catar. "Hoje, a Embaixada do Brasil em Doha tem grande chance de se transformar em posto eleitoral, haja vista os crescentes alistamentos e transferências de título de eleitor para nossa jurisdição", observa Nahes.
A comunidade brasileira que vive em Doha acompanha impressionada a transformação e o desenvolvimento da cidade. "Para quem acaba de chegar a impressão que se tem é de que a cidade é um verdadeiro canteiro de obras, onde pontes e prédios são erguidos da noite para o dia", afirma Giuliana Del Bel, gerente de tarifas da Agência Reguladora do setor de Telecomunicações do Catar, que vive há um ano em Doha.
De acordo com Giuliana, Doha é uma cidade dinâmica do ponto de vista econômico e social. "Há sempre muita atividade de negócio, comércio, investimento e desenvolvimento. Esse dinamismo econômico tem reflexos muito positivos sobre a sociedade, ou sobre um grupo privilegiado de estrangeiros beneficiados com contratos de trabalho de média ou alta especialização. A impressão que se tem é de um constante bom humor econômico", destaca.
A sensação de segurança que se vive na cidade é outro fator positivo destacado pela brasileira. "Eu vivo há um ano aqui com meus dois labradores que vieram do Brasil comigo e constantemente deixo a porta da cozinha aberta para que eles possam ter acesso ao jardim e se refugiarem contra o calor dentro de casa. Jamais tive algum incidente de roubo ou furto", afirma. "Também os levo para nadar em praias isoladas e para correr no deserto todo final de semana e jamais fui abordada por estranhos ou de qualquer forma intimidada por ser uma mulher andando sozinha em áreas remotas", acrescenta.
O carioca Enio Garcia é comandante de B777 na Qatar Airways e mora em Doha com a família há três anos e meio. "Neste período observei um crescimento absurdo nas construções e no trânsito que hoje está sempre congestionado. Recentemente li uma reportagem num jornal local falando que cerca de 200 carros são licenciados por dia em Doha", conta Garcia.
O comandante só estranhou um pouco a dinâmica do trabalho. "A adaptação ao trabalho foi um pouco difícil porque a companhia tem um sistema de treinamento diferente do que eu conhecia. A adaptação à cidade foi facilitada pela chegada de muitos estrangeiros ao mesmo tempo. Um acaba ajudando o outro", conta o comandante.
Segundo Garcia, os filhos adolescentes, Karen, de 14 anos, e Caio, de 13 anos, sentiram um pouco de dificuldade com a mudança da escola, onde só se fala inglês. "Mas isso foi apenas no começo. Agora estão super bem adaptados", destaca.
Caio, que já jogava futebol no Vasco, no Rio de Janeiro, já está numa equipe catariana. A diversão dos jovens é basicamente ir ao shopping, ao cinema, ou mesmo bater papo com os amigos que moram no mesmo condomínio da família, onde convivem principalmente com europeus, sul-americanos, de países como Argentina, Colômbia, Venezuela e Costa Rica, e também imigrantes da África do Sul.
Aos finais de semana a família costuma participar de churrascos e festas na casa de amigos. "Os árabes são loucos para serem convidados para um churrasco", comenta Garcia. Também são comuns os passeios de carro pelas dunas do deserto.
Na avaliação de Garcia, os efeitos da crise mundial ainda não são visíveis em Doha. "Percebo o mesmo ritmo acelerado nas obras de construção civil e o mesmo trânsito intenso nas ruas", diz.
Outro brasileiro que vive com a família em Doha é o técnico de futebol Flávio de Oliveira, que tem uma visão privilegiada das transformações ocorridas na cidade nos últimos anos. Oliveira morou em Doha de 1989 a 1993, época em que o pai Valdemar Lemos de Oliveira era técnico no Catar. Aos 16 anos voltou para o Brasil onde trabalhou no Flamengo, Fluminense e Santos como auxiliar de preparação física, preparador físico e auxiliar técnico. Em 2006 surgiu a oportunidade de voltar para Doha, com a esposa Marceli.
"Onde eu moro hoje não existia nada, era deserto. Não tinha nenhuma estrutura. O chão era de terra. Hoje a cidade cresceu. Tinha apenas um shopping minúsculo com estandes no lugar de lojas. Hoje a cidade abriga cinco grandes shoppings. Aqui tudo é muito moderno e dinâmico", diz.
Oliveira trabalha na Aspire, academia de excelência, na observação e identificação de talentos. "Faço parte de uma equipe que vai até as escolas para identificar craques a partir de sete anos. Os destaques da academia saem direto para a seleção do Catar, a partir de 15 anos", diz.
Desde que mora em Doha, a família cresceu. Em dezembro de 2008 nasceu Daniel, o primeiro filho do casal. "Ele nasceu no dia sete e aproveitamos para passar o mês todo com a família no Brasil", diz o técnico. Segundo ele, a família convive bastante com a comunidade brasileira e promove encontros toda sexta-feira para jogar futebol. "Também realizamos passeios ao deserto, frequentamos shoppings e restaurantes, vida super normal. Com internet e TV a cabo fica tudo mais fácil e próximo," destaca.

