São Paulo – No começo deste ano, o catarinense Marcelo Mazzolli desembarcou em Omã, no Golfo, para ficar acampado um mês nas montanhas de Dhofar. Mazzolli é biólogo e foi convidado pela organização internacional Biosphere Expeditions para trabalhar como cientista em uma pesquisa sobre o leopardo das Arábias. Mazzolli utilizou uma metodologia inusitada no trabalho de campo e as conclusões da sua pesquisa serão publicadas no periódico científico Zoology in the Middle East, do Oriente Médio.
De acordo com Mazzolli, uma das principais conclusões da viagem é que o leopardo das Arábias está diminuindo sua presença na região Norte das montanhas de Dhofar, considerada o maior refúgio do animal na Península Arábica. Entre os vestígios colhidos, os últimos são de três a seis meses anteriores. A pesquisa indicou a necessidade de um estudo mais detalhado para detectar as causas disso, que poderia ser desde a falta de presas até a retaliação aos leopardos pela população em função de ataques a rebanhos.
Mazzolli levanta também a hipótese de que os animais tenham migrado para outros locais, tenham fugido da região na época mais seca, que é o começo do ano, quando foi feita a pesquisa, ou então estejam diminuindo justamente em função de estarem se extinguindo. O leopardo das Arábias é considerado criticamente ameaçado de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O artigo de Mazzolli deve justamente tornar público a situação do leopardo nas montanhas de Dhofar e chamar a atenção mundial sobre o tema.
Na pesquisa, Mazzolli utilizou uma metodologia diferenciada e recente, chamada ocupação por quadrante. O método, segundo ele, permite uma sistematização da coleta de dados, já que a região pode ser dividida por quadrantes. Um total de 54 quadrantes – cada um de quatro quilômetros quadrados – foi estudado em Omã. Essa divisão, segundo Mazzolli, permite a coleta maior de informações em uma maior área. Sem isso, a pesquisa de vestígios é feita aleatoriamente e os mesmos dados podem ser coletados mais de uma vez.
Foi usado na pesquisa também GPS de navegação. O sistema indicava em qual quadrante os pesquisadores estavam e quais já haviam sido investigados. De acordo com Mazzolli, como o leopardo das Arábias é um animal que se movimenta em uma área grande, o estudo de apenas uma ou duas extensões não seria suficiente para a obtenção de informações relevantes a respeito da sobrevivência do bicho. Quem atua na coleta de dados são voluntários de várias partes do mundo. Mazzolli trabalhou com dois grupos.
Mazzolli esteve em Omã para a pesquisa entre os meses de janeiro e fevereiro. A Biosphere Expeditions chegou até o catarinense em função de uma parceria entre a organização e o projeto Puma, associação sem fins lucrativos da área ambiental da qual Mazzolli é fundador e diretor. Representantes da Biosphere participaram de uma pesquisa sobre a presença da onça pintada na Serra do Mar, no Paraná, com o Projeto Puma.
O catarinense afirma que gostaria de continuar trabalhando com o leopardo das Arábias por meio do Projeto Puma, que atua pela sobrevivência dos felinos. Além de levar adiante o Projeto Puma, Mazzolli, 43 anos, é professor da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), onde é coordenador do Laboratório de Ecologia. O Projeto Puma tem um termo de cooperação com a universidade, que fica no município catarinense de Lages.
Nascido em Santa Catarina, Mazzolli se formou em Biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e foi então para a Amazônia fazer pesquisa na selva. “Sempre tive atração pela natureza”, conta o cientista. Quando voltou para Santa Catarina resolveu desbravar a natureza do seu próprio estado e se deparou com notícias sobre ataques de pumas a rebanhos. Mazzolli colaborou então com técnicos do Ibama que trabalhavam no tema e, envolvido com a área, acabou criando, em 1988, o Projeto Puma.

