São Paulo – Sai Gilberto Kassab (PSD), entra Fernando Haddad (PT). A partir de 1º de janeiro São Paulo terá novo prefeito, de um partido diferente, com orientações política e ideológica diversas. Uma coisa, no entanto, permanece a mesma: a origem árabe do mandatário da maior metrópole do Brasil.
Kassab, que está em fim de mandato, é neto de libaneses, Haddad, eleito no último domingo (28), é filho de pai libanês. Ambos circulam com desenvoltura na comunidade árabe paulistana, mas, na eleição, assim como ao longo de suas carreiras políticas, estiveram em campos opostos.
O atual prefeito apoiou a candidatura de José Serra (PSDB), seu antecessor e padrinho político, derrotado na eleição municipal. Já o eleito foi avalizado pelas duas principais figuras de seu partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. Haddad foi ministro da Educação de 2005 até janeiro deste ano.
A história da família de Haddad se confunde com tantas outras de imigrantes. Seu pai foi comerciante de tecidos, e o prefeito eleito, quando jovem, trabalhou no negócio. "Trabalhei na Rua 25 de Março, frequentava o Brás e o Bom Retiro com um mostruário embaixo do braço", disse ele nesta segunda-feira (29), em entrevista coletiva, ao falar da revitalização da região central da cidade. Os três locais são polos de comércio atacadista e popular. As duas primeiras áreas têm forte presença árabe.
Haddad, no entanto, não seguiu no comércio, foi estudar Direito na Universidade de São Paulo, onde presidiu o Centro Acadêmico XI de Agosto, depois fez mestrado em economia, doutorado em filosofia e optou pela carreira acadêmica.
O mais novo árabe no comando da capital paulista – antes de Kassab a cidade foi governada de 1993 a 1996 por Paulo Maluf (PP), também de origem libanesa – apresenta como um de seus grandes trunfos o trânsito no governo federal. Nesta segunda-feira mesmo ele se reuniu com Dilma em Brasília para tratar do tema. “São Paulo é uma cidade global, cosmopolita, e precisa de um alinhamento maior com o estado e a União para o bem estar de seus moradores”, afirmou.
Ele declarou que retende realizar uma transição “de alto nível” com seu antecessor e que a presidente vai montar uma equipe no governo federal para acompanhar o processo e criar “uma rotina de trabalho” entre as duas instâncias.
De acordo com o prefeito eleito, a parceria entre os governos municipal, estadual e federal é importante em qualquer lugar do mundo, e citou como exemplos grandes metrópoles como Nova York, Londres, Paris e Xangai. “Os investimentos aqui [em São Paulo] têm que ter repercussão nacional”, destacou.
Questionado sobre cooperação internacional, face à citação de cidades estrangeiras, o eleito disse à ANBA que atualmente “esta relação está em baixa intensidade”. Ele falou em “revitalizar” a Secretaria de Relações Internacionais.
Nesta terça-feira (30), Haddad terá reuniões com o governador do estado, Geraldo Alckmin, e com Kassab. Alckmin é do PSDB do derrotado Serra, principal partido de oposição do PT de Dilma e do prefeito eleito. “A minha primeira providência será o alinhamento estratégico com o estado e a União”, ressaltou.
Com a criminalidade em alta, a segurança é um dos temas a ser alinhado com o estado, esfera de governo que é a principal responsável pelo setor no Brasil. “O prefeito não pode se desonerar desta tarefa”, afirmou Haddad. Ele disse que quer “reforçar o caráter comunitário” da Guarda Civil, da Prefeitura, e da “operação delegada”, convênio entre estado e municípios que permite que policiais militares de folga trabalhem para as prefeituras. A PM é comandada pelo governo estadual e responde pelo policiamento ostensivo.
Descentralização
Logo no início de seu mandato de quatro anos, o novo prefeito pretende propor uma “reforma urbana” com base no conceito de “Arco do Futuro” estabelecido em seu programa de governo, que prevê a descentralização do desenvolvimento com a criação de oportunidades de emprego em bairros “dormitórios” e a oferta de moradias em bairros com forte atividade econômica, aproximando o trabalhador do trabalho. “Queremos expandir a cidade com sustentabilidade”, declarou. “Esta conciliação vai permitir que a periferia se reencontre com o centro”, acrescentou.
A reforma, segundo ele, se dará em cinco marcos legais: Plano Diretor, zoneamento, operações urbanas, Código de Obras e legislação tributária. Mudanças nesta áreas terão que ser aprovadas pela Câmara Municipal.
Haddad espera reproduzir no Legislativo municipal a mesma coalizão partidária que apoia o governo federal no Congresso Nacional. De que lado o PSD do atual prefeito vai ficar ainda é uma incógnita. “Mas eu não imagino que o PSD fará oposição sistemática”, disse.
Haddad prometeu também “total transparência” nos atos da prefeitura. “Vamos aplicar com rigor a Lei de Acesso à Informação”, disse, acrescentando que esse é um “direito absoluto e fundamental” do cidadão. “Tudo o que puder ser online será online”, destacou.
Ele afirmou ainda que pretende criar uma Controladoria Geral do Município (CGM) para fiscalizar os atos da administração, assim como existe a Controladoria Geral da União (CGU) na esfera federal. “Criar um ‘Portal da Transparência’ municipal será muito útil para o acompanhamento de todos os convênios da prefeitura”, afirmou.

